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João de Sousa

Sábado, Abril 27, 2024

Academia decepciona e escolhe A Juventude e Sorrentino

28º Prémios do Cinema Europeu

45 anos Charlotte

 

Sir Michael Caine e Charlotte Rampling foram os homenageados e os actores europeus do ano

PAULO PORTUGAL EM BERLIM

SET DEL FILM "LA GIOVINEZZA" DI PAOLO SORRENTINO. NELLA FOTO MICHAEL CAINE. FOTO DI GIANNI FIORITO
SET DEL FILM “LA GIOVINEZZA”
DI PAOLO SORRENTINO.
NELLA FOTO MICHAEL CAINE.
FOTO DI GIANNI FIORITO

A Academia preferiu a A Juventude, de Paolo Sorrentino, em vez da idade madura, serena e tão emotiva de 45 Anos, do britânico Andrew Haigh, que estreia no nosso país na noite de consoada. Por isso, quem não aprecia o Natal, terá aqui uma noite sublime. E preferiu mesmo o cinema burguês à ousadia do grego Yorgos Lanthimos, no muito original e provocador The Lobster (ainda sem data de estreia). Uma escolha que dividiu bastante a imprensa internacional: por mim, ganhava um qualquer, menos este, referiu um dos colegas, partilhando a escolha controversa da Academia por uma produção tão farta em dinheiro e ostentação como parca em ideias e, até, em cinema. Isto dois anos depois do realizador italiano ter arrebatado os prémios mais importantes por A Grande Beleza.

 

Paolo Sorrentino arrecadou mesmo os prémios principais na edição deste ano dos EFA. Melhor Filme, Realização e Melhor Actor (Michael Caine). Venceu assim o modelo de co-produção burguês abastado e rico, entre a Itália, França e Suíça.

Charlotte RamplingSem surpresa também Michael Caine (A Juventude) e Charlotte Rampling (45 Anos) preencheram as slots no plano interpretativo, apresentados pela holandesa Carice van Houton e o dinamarquês Jesper Christensen. Há 50 anos que não ganho um prémio e eis que numa noite ganho dois, referiu  Sir Michael. É muito estranho porque normalmente bato palmas pelos outros. Não sei o que dizer.

Charlotte também disse: Ao contrário do Michael eu já recebi alguns prémios, mas lembro-me que não era bem isso que eu queria; queria sim fazer filmes e ter a experiência de viver uma vida e de a colocar num filme. Em breve poderemos ler aqui, no Tornado, a entrevista que Miss Rampling nos concedeu.

 

 

45 Anos/Charlotte Rampling – trailer em português do Brasil

 

Vasco PimentelPortugal por Vasco Pimentel

Portugal esteve representado por Vasco Pimentel e Miguel Martins, com o prémio do design de som, atribuído ao tríptico As Mil e Uma Noites, de Miguel Gomes. Vasco Pimentel elogiou a Academia por entregar o prémio a um filme de seis horas sem um único tiro e apenas com uma única explosão. São 381 minutos de grande ousadia, como descreveu um Wim Wenders visivelmente entusiasmado pelo filme de Gomes.

De resto, esta foi uma cerimónia mortinha, sem grandes emoções e com muito pouco humor. Naturalmente, os momentos da noite foram as homenagens aos britânicos Charlotte Rampling e Michael Caine, bem como ao austríaco Christoph Waltz.

François Ozon fez a homenagem a Rampling, que dirigira em A Piscina. Um encontro maravilhoso, como referiu. O cinema europeu cria mundo que devemos e queremos ver. Eu junto-me a ele. Por isso quando me perguntaram se aceitava o prémio, fiquei na dúvida, mas aceito-o porque é um prémio de carreira, mas só por ser da Academia de Cinema Europeu.

Wim Wenders subiu ao palco para anunciar a entrega do prémio honorário a Sir Michael Caine, num galardão apenas entregue por duas vezes nos quase 3 anos dos EFA. Diante de uma plateia de pé, Caine nunca ganhei um Óscar ou um European Award, a não ser este. É um prémio sobre uma carreira e uma vida, por isso não me importo nada de não ganhar o de melhor actor. Wenders que evocou o primeiro ano em que foi atribuído o primeiro prémio EFA, em 1988, um ano antes da queda do Muro de Berlim, enfatizando a necessidade da expressão livre e culturalmente enfeudada. Christoph Waltz receberia ainda a distinção pelo conjunto da sua carreira.

Antes já a directora da EFA, Marion Doring, havia apelado para uma europa de coração aberto e fronteiras abertas na abertura dos 28º Prémios do Cinema Europeu. Uma cerimónia que começou com o discurso de Chaplin no Grande Ditador, a apelar a uma sociedade plural e para todos. E com uma peça musical, das mais antigas que existe, oriunda da Síria, numa homenagem à cultura vilipendiada pela barbárie.

À laia de mote da noite, Thomas Hermanns descreveu uma Europa onde não há arte sem inclusão, sem ideias e sem pessoas.

 

Cerimónia sem surpresas

A cerimónia havia começado com a categoria do argumento, o mérito da escolha pelo guião mais bem afiado, que acabou por ir parar às mãos de Yorgos Lanthimos pelo bravíssimo guião de The Lobster, pela história tão vibrante de erguer uma espécie de reality show em que um hotel recebe homens e mulheres que terão de encontrar um par, sob pena de se converterem em animais.

Sem surpresas, o prémio Fipresci, atribuído pela crítica internacional, foi para a co-produção franco-germano-turca Mustang, descrevendo as limitações do mundo das mulheres muçulmanas.

O britânico Asif Kapadia venceu o prémio documental Amy, sobre a controversa artista Amy Winehouse. Horas antes falava com o Tornado sobre este filme, sobre Senna, um piloto que adorava, e falamos também sobre Cristiano Ronaldo (em breve poderá ler aqui a entrevista). Ele que participou em Ronaldo, embora apenas como produtor executivo, pois na altura estava envolvido ainda com Amy.

Num momento de emoção foi recordado Oleg Sentsov, o cineasta ucraniano que está detido pelas autoridades russas. Num comunicado lia-se que a cobardia é o maior pecado do mundo, apenas não superado pela cobardia. Mesmo quando nos colocam um saco na cabeça e nos batem até estarmos prontos a tudo confessar…

Numa noite de grande brilho, afinal de contas o momento que fez a diferença foi quando o apresentador Thomas Hermanns saiu do palco e levou uma bandeja de champanhe à imprensa que estava separada do palco por uma parede móvel e falou com vários colegas.

Para o ano há mais, na cidade polaca de Wrocalw, para a 29ª edição dos EFA.

 

 

PALMARÉS da 28ª edição dos Prémios do Cinema Europeu

  • Argumento: Yorgos Lanthimos, The Lobster (Grécia)
  • Curta Metragem: Picnic, Jure Pavlovic (Croácia)
  • Prémio Honorário: Michael Caine (Reino Unido)
  • Animação: Song of the Sea, Tomm Moore (Irlanda)
  • Prémio Fipresci: Mustang, Deniz Gamze Erguven (Turquia)
  • European Achievement Award: Christog Waltz (Áustria)
  • Fotografia: Prémio Carlo Di Palma: Martin Gschlacht, por Goodnight Mommy (Áustria)
  • Montagem: Jacek Drosio, por Body (Poland)
  • Design Produção: Sylvie Olivé, por The Brand New Testament (Bélgica)
  • Guarda-Roupa: Sarah Blenkinsop, por The Lobster (Grécia)
  • Compositor: Cat’s Eyes, por The Duke of Burgundy (Reino Unido)
  • Design de Som: Vasco Pimentel e Miguel Martins, por As Mil e Uma Noites (Portugal)
  • Documentário: Amy, por Asif Kapadia (Reino Unido)
  • Comédia: Um Pombo Sentado Num Ramo Reflectindo Sobre a Existência (Suécia)
  • Prémio do Público: La Isla Minima (Espanha)
  • Pémio de Carreira: Charlotte Rampling (Reino Unido)
  • Realização: Paolo Sorrentino, por A Juventude (Itália)
  • Actor: Michael Caine (Reino Unido)
  • Actriz: Charlotte Rampling (Reino Unido)
  • Melhor Filme Europeu: A Juventude (Itália)

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