Impossível não pensar em prestar homenagem a Gilberto Gil pela passagem de seus 78 anos, nesta sexta-feira (26). Recebeu mensagens de felicitações de numerosos artistas em um vídeo que viralizou na internet.
E durante a noite, Gil celebrou com uma live de pouco mais de 1h30 cantando na maior parte músicas de forró. O aniversário foi dele, mas o presente foi de seus milhares de fãs.
Gilberto Gil
A música escolhida para homenageá-lo foi “Andar com Fé”, bem apropriada para o momento vivenciado no país em meio a uma crise sanitária sem precedentes aliada a uma crise política que não se sabe ainda onde vai dar. Por isso: “Andá com fé eu vou, que a fé não costuma faiá”.
Gil é um dos maiores nomes da música popular brasileira, foi o principal ministro da Cultura que o país teve, de 2003 a 2008. Por todo o seu trabalho, só é possível dizer muito obrigado Gilberto Gil pelo simples fato de existir e ser o que é. A vida seria mais difícil sem sua obra.
“Que a fé tá na mulher
A fé tá na cobra coral
Oh! Oh!
Num pedaço de pãoA fé tá na maré
Ta na lâmina de um punhal
Oh! Oh!
Na luz, na escuridão”
Andar com Fé (1982), de Gilberto Gil
Carlinhos Brown
Outro baiano grande personagem da cultura brasileira é Antônio Carlos Santos de Feitas, conhecido como Carlinhos Brown. O cantor e compositor se destaca como produtor, arranjador e agitador cultural.
Líder da timbalada, partiu para carreira solo e por vezes se junta com Marisa Monte e Arnaldo Antunes na formação dos tribalistas. O seu reconhecido talento levou uma repórter da TVE, da Bahia, a apresentar Chico Buarque como o “sogro de Carlinhos Brown”, numa semelhança ao que disse Sérgio Buarque de Holanda décadas passadas, que ele tinha virado o “pai do Chico Buarque”.
Na estrada há muitos anos, Brown tem composições de sucesso gravadas por ele ou por grandes intérpretes. Em “Segue o Seco” a sua veia poético-musical fala da vida que pode secar se não for regada o tempo todo.
“A boiada seca
Na enxurrada seca
A trovoada seca
Na enxada seca…Sem sacar que algum espinho seco secará
E a água que sacar será um tiro seco
E secará o seu destino seca”
Segue o Seco (1994), de Carlinhos Brown
Mayra Andrade
Mayra Andrade nasceu em Havana, Cuba, mas se destaca como uma cantora e compositora caboverdiana por ter passado quase toda a sua vida no arquipélago africano que fala a língua portuguesa. Embora ela cante, quase sempre, em dialeto caboverdiano.
Participou de trabalhos com Cesária Évora, Chico Buarque, Caetano Veloso, Charles Aznavour, Mariza e Pedro Moutinho, entre outros grandes nomes da música. Atualmente vive em Lisboa, Portugal.
Cantada em dialeto, a canção Manga questiona o que cada um faz da sua vida e a influência do social na vida de todas as pessoas.
“Por que havemos de ser menos
Se podemos ser mais?
Tu podes comigo
Como eu posso contigo”
Manga (2018), de Mayra Andrade
Daniela Mercury
Mais uma presença baiana de destaque na música popular brasileira é Daniela Mercury. Cantora, compositora e bailarina assumidamente LGBT, Danieal transformou-se numa importante voz pela igualdade de direitos para essa parcela da população tão maltratada pelo preconceito e pela violência.
Com muitos anos de estrada, emplacou inúmeros sucessos e não há quem não conheça ao menos algumas suas músicas. “Música de Rua” é um desses grandes sucessos porque canta a alegria de uma “arte que arde” pela revolução.
“Essa alegria é minha fala
Que declara a revolução
Revolução
Dessa arte que arde
De um povo que invade
Essas ruas de clave e sol
E de multidão”
Música de Rua (1994), de Daniela Mercury e Pierre Onasis
Jorge Drexler
O cantor e compositor uruguaio, Jorge Drexler despontou para o mundo ao ser o primeiro artista em língua espanhola a ganhar, em 2005, o Oscar de Melhor Canção Original, com a bela “Al Otro Lado del Río”.
Em suas canções percebe-se influência da música popular brasileira, essencialmente bossa nova, mesclada com rock, gêneros de seu país e outros ritmos.
Sua canção “Tudo se Transforma” trata da presença do trabalho em tudo o que se faz, transformando a vida.
“O vinho que eu paguei
Com aquele euro italiano
Que estava em um vagão
Antes de estar na minha mão
E antes disso em Turim
E antes de Turim, em Prato
Onde fizeram meu sapato
Sobre o qual cairia o vinho”
Tudo se Transforma (2004) de Jorge Drexler
Nelson Sargento
Para encerrar em grande estilo (sem nenhuma pretensão) nada como chamar Nelson Mattos, com o nome artístico de Nelson Sargento, que em 25 de julho completa 96 anos, mais de 70 anos dedicados ao samba.
Além de compositor e cantor, Sargento é um importante pesquisador da música popular brasileira, artista plástico e escritor. Presidente de honra da sua escola do coração, a Mangueira, onde iniciou sua trajetória musical na ala dos compositores da escola de samba mais famosa do Brasil.
Melhor ouvir o “Samba do Operário” para compreender a força da música do sambista vivo mais idoso do país.
“Se o operário soubesse
Reconhecer o valor que tem seu dia
Por certo que valeria
Duas vezes mais o seu salário”
Samba do Operário (1955), de Nelson Sargento, Antônio Português e Cartola
Texto em português do Brasil
Receba a nossa newsletter
Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a Newsletter do Jornal Tornado. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.