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Sexta-feira, Julho 11, 2025

A Crítica de Pacheco e o Vazio Estratégico

José Mateus
José Mateus
Analista e conferencista de Geo-estratégia e Inteligência Económica

José MateusOu seja, sabe o que não quer. E apenas isso. Já é muito. Mas significa também que não saímos ainda do drama que nos devora. Que não saímos do vazio estratégico em que vivemos há décadas. Significa que a “elite” (aspas grossas…) reinante continua sem ter uma “ideia para Portugal”, mesmo que minúscula.

Durante décadas, a “elite” reinante em Portugal tomou a “Europa” pela Senhora de Fátima. Ou pela Santa Casa. E tentou convencer-nos dessa “verdade europeia”. Pacheco refuta agora essa “visão” cujo resultado começa já a estar à vista… Mas nada diz sobre a “navegação” necessária, sobre que rumos tomar e como e que para que portos navegar.

Vazio estratégico. Mas só saindo desse vazio estratégico poderemos retomar a nossa existência própria e garantir aos Portugueses segurança e desenvolvimento, o quadro onde nascem e se criam as “coisas simples” de que fala Pacheco. Vejamos a sua certeira e justa crítica:

«A questão da “Europa”, não a Europa, mas aquilo a que hoje chamamos Europa, é a mais grave que Portugal defronta. Começa porque a soberania nacional está seriamente diminuída em aspectos cruciais para a independência de um país. O nosso parlamento está castrado de poderes orçamentais e muito do governo do país é feito de fora, pelo BCE e pela Comissão Europeia, em particular pelo Eurogrupo.

Esta governação alheia, muito para além de qualquer legislação europeia em vigor, assente em práticas abusivas cada vez mais consentidas sem contestação, atenta, como se viu no caso da banca, contra o interesse nacional. A “Europa” actua como um governo federal que não foi eleito por ninguém, que assumiu poderes nos países mais débeis como a Grécia e Portugal e não toca num cabelo dos poderosos. Não é pelos resgates, nem pela dívida, está muito para além disso.

Não quero de todo que Portugal seja Singapura. Nem adianta querer que seja uma das dez economias mais competitivas do mundo. Não quero que Portugal seja a Holanda, porque Portugal não é a Holanda e vice-versa, com vantagens e defeitos.

esopo

Mas quero coisas simples para os portugueses. Que os portugueses enriqueçam, que os mais pobres deixem de ser pobres, que acedam aos bens mínimos de consumo, material e espiritual. Que a “classe média” se reforce, cresça, fazendo subir o elevador social. Que as pessoas tenham propriedade e liberdade para terem vidas que não sejam deitadas fora pelo estado e pela sociedade.

Para que isto aconteça não podemos continuar nesta economia de mediocridade, moldada por uma ideologia que serve apenas os poderosos e que escarnece dos mais fracos. Os que não tem off-shores, não desbarataram milhares de milhões de euros, não pediram milhões à banca para a deixar “mal parada”, mas estão condenados pela “Europa” a pagar estes custos. Por isso repito: com a “Europa” como ela é hoje, não vamos lá.»

Então, senhor doutor, se “com a ‘Europa’ como ela é hoje, não vamos lá” (e isso é já óbvio…), como fazermos e por onde navegar para… “ir lá”? Esta é que é a questão real. Como diria um conhecido teórico que J.P.P. bem terá lido há umas décadas: “Hic Rhodus, hic salta”. Ou seja, como preencher o vazio estratégico em que há décadas nos vimos a afogar.

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