Diário
Director

Independente
João de Sousa

Sábado, Setembro 14, 2024

Elogio ao discurso de Paula Teixeira da Cruz

João Vasco AlmeidaO discurso de Paula Teixeira da Cruz, PSD, na sessão solene do 25 de Abril de 2016 é uma ode à democracia e um momento de plenitude para os que fizeram a revolução em 1974.

Porta-voz do partido em que milita e, decerto, carregando o que é a opinião maioritária da bancada laranja, Paula Teixeira da Cruz criticou a “banalização dos conceitos de liberdade e de democracia”, uma vez que suspeita: “Quantas vezes não se invocam em nome de ideais e práticas intolerantes, totalitárias, subversivas e iníquas” esses ideais?

Paula Teixeira da Cruz está, naturalmente, com aquela dor de mindinho quando se bate na mesa de cabeceira, descalça, a meio da madrugada. A beleza do momento é, por isso, o subliminar exercício da “liberdade e da democracia” pelo PSD.

A antiga ministra da Justiça não percebeu que os portugueses, alguns, claro, mandaram à fava o PSD e o governo de coligação. Diz que é “chocante” o “regresso de um tipo de discurso pueril e histriónico, com uma lógica infantilizante e simplista de que é exemplo a ideia de que as políticas de absoluta necessidade e salvação adoptadas para resgatar Portugal da situação de pré-falência a que chegou em 2011 visariam o empobrecimento do país, enquanto as políticas do actual Governo permitiriam, num golpe de mágica, resolver em duas penadas todos os problemas”.

Como em qualquer discurso que não leva a grande parte, ou aparece Hitler ou Salazar. Eis que assim foi: “Quando as discordâncias em matéria financeira levam a acusações de que os partidos da oposição se bandearam com as instituições europeias e que são os novos traidores à pátria, o odor a salazarismo mais bafiento e o ridículo mais agudo abatem-se sobre quem faz tais afirmações, que são uma negação de uma democracia”, disse a deputada.

c Correio da Venezuela
A ex-ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz

O discurso é de zangada. É um péssimo exemplo do que se pode fazer com a democracia, mas pode fazer-se em democracia.

Por isso é brilhante que haja quem discorde, de forma tão profunda, do Governo, e que o possa dizer em plena Assembleia da República.

Claro que, quanto à substância, o PSD está apenas ressabiado. Marcelo sabe-o, Cristas sabe-o, por isso afastam-se do leproso Coelho e sua gente, que apenas estão a fazer ruído na vida nacional. Não é condenatório para o PSD, mas se o CDS lá tivesse um líder em vez de uma relações públicas, os centristas já estavam a morder o PPD nas sondagens.

Pedro e Paula não compreenderam que está toda a gente cansada deste discurso do “foi ele que começou” e “eu só fiz o que me mandaram”. Já sabemos. Pedro já o sabia quando foi eleito e não rejeitou a eleição. Por isso, se fosse a sério, Pedro e Paula calavam-se com o queixume e iam para o recreio brincar com os outros meninos. Estão agarrados a uma saia que se foi a Boliqueime e não volta.

Mas é bom que possam berrar e chorar em público. Isso é a vitória da democracia, a absoluta liberdade, o primado da política republicana e constitucional. E é só isso que se pode louvar no que o PSD pensa: a forma, não o conteúdo. E quem toma a forma pelo conteúdo compra gato por lebre.

Receba a nossa newsletter

Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a nossa Newsletter. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.

- Publicidade -

Outros artigos

- Publicidade -

Últimas notícias

Mais lidos

- Publicidade -