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Sexta-feira, Abril 19, 2024

Elogio ao discurso de Paula Teixeira da Cruz

João Vasco AlmeidaO discurso de Paula Teixeira da Cruz, PSD, na sessão solene do 25 de Abril de 2016 é uma ode à democracia e um momento de plenitude para os que fizeram a revolução em 1974.

Porta-voz do partido em que milita e, decerto, carregando o que é a opinião maioritária da bancada laranja, Paula Teixeira da Cruz criticou a “banalização dos conceitos de liberdade e de democracia”, uma vez que suspeita: “Quantas vezes não se invocam em nome de ideais e práticas intolerantes, totalitárias, subversivas e iníquas” esses ideais?

Paula Teixeira da Cruz está, naturalmente, com aquela dor de mindinho quando se bate na mesa de cabeceira, descalça, a meio da madrugada. A beleza do momento é, por isso, o subliminar exercício da “liberdade e da democracia” pelo PSD.

A antiga ministra da Justiça não percebeu que os portugueses, alguns, claro, mandaram à fava o PSD e o governo de coligação. Diz que é “chocante” o “regresso de um tipo de discurso pueril e histriónico, com uma lógica infantilizante e simplista de que é exemplo a ideia de que as políticas de absoluta necessidade e salvação adoptadas para resgatar Portugal da situação de pré-falência a que chegou em 2011 visariam o empobrecimento do país, enquanto as políticas do actual Governo permitiriam, num golpe de mágica, resolver em duas penadas todos os problemas”.

Como em qualquer discurso que não leva a grande parte, ou aparece Hitler ou Salazar. Eis que assim foi: “Quando as discordâncias em matéria financeira levam a acusações de que os partidos da oposição se bandearam com as instituições europeias e que são os novos traidores à pátria, o odor a salazarismo mais bafiento e o ridículo mais agudo abatem-se sobre quem faz tais afirmações, que são uma negação de uma democracia”, disse a deputada.

c Correio da Venezuela
A ex-ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz

O discurso é de zangada. É um péssimo exemplo do que se pode fazer com a democracia, mas pode fazer-se em democracia.

Por isso é brilhante que haja quem discorde, de forma tão profunda, do Governo, e que o possa dizer em plena Assembleia da República.

Claro que, quanto à substância, o PSD está apenas ressabiado. Marcelo sabe-o, Cristas sabe-o, por isso afastam-se do leproso Coelho e sua gente, que apenas estão a fazer ruído na vida nacional. Não é condenatório para o PSD, mas se o CDS lá tivesse um líder em vez de uma relações públicas, os centristas já estavam a morder o PPD nas sondagens.

Pedro e Paula não compreenderam que está toda a gente cansada deste discurso do “foi ele que começou” e “eu só fiz o que me mandaram”. Já sabemos. Pedro já o sabia quando foi eleito e não rejeitou a eleição. Por isso, se fosse a sério, Pedro e Paula calavam-se com o queixume e iam para o recreio brincar com os outros meninos. Estão agarrados a uma saia que se foi a Boliqueime e não volta.

Mas é bom que possam berrar e chorar em público. Isso é a vitória da democracia, a absoluta liberdade, o primado da política republicana e constitucional. E é só isso que se pode louvar no que o PSD pensa: a forma, não o conteúdo. E quem toma a forma pelo conteúdo compra gato por lebre.

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