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Domingo, Outubro 6, 2024

A cadeira ao lado volta a estar ocupada

José M. Bastos
José M. Bastos
Crítico de cinema

67ª SEMINCI – Semana Internacional de Cinema de Valladolid

A edição de 2022 da SEMINCI – Semana Internacional de Cine de Valladolid começou no sábado passado e termina no próximo dia 29. Depois de duas edições marcadas pela pandemia esta 67ª edição marca o regresso praticamente em pleno ao que era habitual até 2019.

Recorde-se que em 2020 o festival teve que conviver com o ‘recolher obrigatório’ às dez da noite e as salas puderam albergar apenas um terço da lotação. Em 2021 puderam ser utilizados metade dos lugares. Agora os espectadores podem ter companhia na cadeira ao lado. É o regresso às filas para entrar para os cinemas e às salas cheias.

Dos últimos dois anos resta o facto de as sessões decorrerem todas com lugares marcados previamente o que até nos parece ser um aspecto positivo e que talvez tenha vindo para ficar. Quanto às ruas de Valladolid também parece ter voltado o bulício de antes da pandemia.

 

‘Punto de Encuentro’, lugar de descoberta de novos cineastas

Para além da presença de um número significativo de primeiras e segundas obras na secção oficial a Semana de Valladolid reserva um espaço exclusivamente dedicado aos realizadores em início de carreira.

‘Punto de Encuentro’ é uma secção com carácter competitivo onde estão trabalhos de novos cineastas, quase todos jovens. Uma oportunidade para contactar com abordagens menos comuns, tanto nos temas tratados como nas opções estéticas e formais. É também uma mostra que permite um primeiro contacto com autores dos quais, em alguns casos, se ouvirá falar no futuro.

Na presente edição podem ser vistas treze longas-metragens e nove curtas, a maioria de produção europeia mas muitas oriundas de cinematografias que raramente chegam aos nossos ecrãs. Muito significativo é o número de obras assinadas por mulheres. Longe vão os tempos em que os filmes feitos por mulheres eram objectos raros.

Muitos dos filmes agora apresentados têm a sua trama centrada nos universos familiares e nas questões que se deparam aos adolescentes em geografias muito diversas.

Entre as obras programadas encontra-se War Pony de Gina Gammell e Riley Keough (EUA), filme galardoado no Festival de Cannes com a ‘Câmara de Ouro’ o prémio que o certame francês reserva à melhor primeira obra.

Os outros filmes em competição são:

  • Astrakan  de David Depesseville (França), selecionado para o Festival de Locarno
  • Love According to Dalva  de Emmanuelle Nicot (Bélgica/França), exibido na Semana da Crítica do Festival de Cannes, onde conquistou o prémio FIPRESCI
  • Excess Will Save Us de Morgane Dziurla-Petit (Suécia). Prémio Especial do Júri no Festival de Roterdão
  • Sick of Myself  de Christoffer Borgli (Noruega/Suécia). Presente na secção ‘Un Certain Regard’ do Festival de Cannes
  • he Sparrow de Michael Kinirons (Irlanda)
  • Edén de Estefanía Cortés(Espanha)
  • Carrero de Fiona Lena Brown e Germán Basso (Argentina)
  • Cuando la miro  de Julio Chávez e Mariano Biasin (Argentina)
  • El Grosor del Polvo de Jonathan Hernández (México)
  • Palm Trees and Power Lines de Jamie Dack (EUA), presente no Festival de Sundance
  • The Apartment with Two Women  de Kim Se-in (Coreia do Sul), prémio ‘Novas Tendências’ no Festival de Busan e participante na secção Panorama do Festival de Berlim
  • Joyland de Saim Sadiq (Paquistão), Palma Queer e Prémio do Júri da secção ‘Un Certain Regard’ do Festival de Cannes

 

“O Homem do Lixo” de Laura Gonçalves em competição nas curtas de “Punto de Encuentro”

O Homem do Lixo, filme de animação de Laura Gonçalves, produzido por Rodrigo Areias / Bando à Parte, é mais uma das presenças portuguesas nesta SEMINCI.

No filme, que já passou por Annecy, Zagreb (Grande Prémio do Júri e Prémio do Público) e pelo MONSTRA/2022 (melhor curta metragem portuguesa e Prémio SPA/Vasco Granja – Prémio do Público), uma família recorda a vida de um homem, da ditadura à emigração para França, onde trabalhou como homem do lixo, e quando voltava a Belmonte na carrinha cheia de “lixo”que transformava num verdadeiro tesouro.

As outras curtas metragens em competição nesta secção são:

  •  III de Salomé Villeneuve (Canadá)
  • Christopher at Sea de Tom C J Brown (EUA)
  • Datsun de Mark Albiston (Nova Zelândia)
  • Happy New Year, Jim de Andrea Gatopoulos (Itáia)
  • Same Old de Lloyd Lee Choi (EUA)
  • Slow Light  de Katarzyna Kijek e Przemysław Adamski (Polónia)
  • The Spiral de María Silvia Esteve (Argentina)
  • What Rhymes with Toxic de Lynn Smith (Canadá)

As curtas-metragens de produção espanhola são exibidas no âmbito de ‘La Noche del Corto Español’.

São elas:

  • Cosas de niños de Bernabé Rico
  • El perro de un torero de Sandra Romero
  • Has estado, hace tiempo  de Gerard Oms
  • Solo un ensayo  de Hugo Sanz
  • L’ Avenir de Santiago Ráfales
  • Princesa de Cecilia Gessa
  • Semillas  de Toni Bestard
  • Tormenta de verano de Laura García Alonso

 

O júri de “Punto de Encuentro”

Tal como na secção oficial em ‘Punto de Encuentro’ o júri também é presidido por uma irlandesa, Miriam Allen, produtora, co-fundadora e directora do festival Galway Film Fleadh. Os outros dois jurados são espanhóis: o actor Rubén Ochandiano e a realizadora e produtora Naira Sanz Fuentes.

 

O cinema e o clima

A preocupação com as questões relacionadas com a preservação do ambiente e com a mudança climática tem estado presente nas edições da SEMINCI de há alguns anos a esta parte-

Nesta 67ª edição na secção ‘Cine & Cambio Climático’ foram programadas três longas metragens e uma curta.

São elas:

  • Delikado de Karl Malakunas (Austrália/Hong Kong/EUA/Filipinas/Reino Unido, 2022), documentário que retrata a acção de três activistas que procuram salvar a ilha de  Palawan, a ‘última fronteira ecológica’ das Filipinas;
  • Fashion Reimagined de Becky Hurnet (Reino Unido / EUA, 2022), de Becky Hurnet, centrada na figura estilista inglesa Amy Powney que se dedica à ‘moda sustentável’;
  • Into the Ice de Lars Henrik Ostenfeld (Dinamarca, 2022), documentário que pela mão de três especialistas em glaciares leva o espectador ao interior do gelo da Gronelândia; e
  • Reckless de Pella Kågerman (Suécia, 2021), uma curta de ficção que imagina a cidade de Estocolmo no ano 2121.

Estes filmes competem pela ‘Espiga Verde’ com outros títulos em que a temática ambiental está presente e que serão exibidos na secção oficial (Le otto montagne, Return to Dust, Lake of Fire), em ‘Tiempo de História’ (Haulout), em ‘DOC. España’ (El maestrat filmat) e na secção Miniminci, dedicada à infância e juventude (Zutik!, Autosaurus Rex e Bo and Trash).

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