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Sexta-feira, Abril 26, 2024

A Paulette faz anos e eu pickles

Eduardo Águaboa
Eduardo Águaboa
Escritor, Ensaísta, Comentador político especializado em ideias gerais

festa-paulete

A Paulette faz hoje anos, segundo consta em todas as redes sociais.

Eu não conheço a Paulette, mas ela convida-me para a sua festa de aniversário, no «meu» Bar dos Canalhas, em Lisboa, por me ter visto por lá e, portanto, enquanto frequentador dos «seus sítios».

– Venham, venham, diz ela “que a festa será do caraças” reforça para despertar muito interesse.

Eu não sei quem é a Paulette.

Embora pertença à mesma cidade, pelo menos durante estes anos laboriosos, nunca fiz parte da sua vida nocturna, das suas canções, dos seus lençóis, para, assim, sem mais nem menos, prestar-lhe honras, vê-la soprar as velas, colocar-lhe um medalhão, aliás, nem sei mesmo se, não os tendo, os gostaria de ter e quais.

A Paulette faz anos hoje e faz também questão de convidar quase toda a gente através das redes sociais disponíveis. Faz do seu aniversário um troféu que se conquistou e é preciso celebrar com imensa gente. A Paulette parece manobrar optimamente a tecnologia da cooperação para saudar a natureza e receber os elogios de um ano, distribuído aos e pelos presentes, daí que, quantos mais melhor.

Ora, eu não conhecendo a Paulette, nem sou daqueles que em troca de prazeres dou tudo às mulheres, escrevi-lhe dizendo que, sendo que a vida é fait de petits bonheurs de bom gosto lhe daria algum, envolvido pelo encanto de uma ternura aniversariante que começaria precisamente hoje, para pôr no colo nesta sua celebração, mas nada do que ela me pudesse dizer me levaria ao seu aniversário, pois, do mesmo modo que o mundo nunca me foi apresentado, ela também não. Mas não deixei de lhe desejar saúde e anarquia para todos os convidados presentes, tudo brindado com um rum tão bom como os melhores da Nicarágua.

Terminei dando-lhe um conselho, se o quisesse, acompanhado de um acontecimento.

Sabe? Quando eu tinha ideias como a sua, em estufa, fui mais ousado e coroei-me a mim próprio Imperador de Benfica!
Nesse dia, a sensatez pôs-se aos gritos no meio da rua, mas ninguém a ouviu ou quis saber dela.

Hoje a Paulette faz anos.

Eu preferia saber quantos suspiros confusos já teve ao longo deles, do que propriamente saber quantos faz e porque os faz, se é que os anos se «fazem».
A Paulette simplesmente convidou-me para a sua festa nas redes sociais.

Sei que ninguém a vai premiar com cinco minutos olhos nos olhos, nem ela o merece. Até as crianças no Japão sabem que para ocasiões destas, só amigos, poucos, algum desejo de diversão reservado, e pedirem-se desejos, desde que não sejam para engravidar.

Aguardo que a Paulette, que eu não conheço, cansada, não pelo peso da idade, mas pelo peso dos segredos, inicie um dia, um bom combate verbal comigo.
Algo que ela catalogará de disputa.
E eu de diz puta.

Nota do Director

As opiniões expressas nos artigos de Opinião apenas vinculam os respectivos autores e não reflectem necessariamente os pontos de vista da Redacção ou do Jornal.

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