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Quinta-feira, Março 28, 2024

Afeganistão: mortes e execuções da minoria Hazara por combatentes talibãs

Novo comunicado da Amnistia Internacional sobre a morte de 13 pessoas da minoria Hazara por combatentes talibãs na província de Daykundi (Afeganistão), nomeadamente de Masuma, uma rapariga de 17 anos que foi apanhada em fogo cruzado quando o grupo disparou sobre uma multidão de pessoas. Do total das vítimas, onze eram antigos membros das Forças de Segurança da Defesa Nacional Afegã (Afghan National Defence Security Forces – ANDSF), e dois eram civis.

De acordo com testemunhos recolhidos pela Amnistia Internacional, os talibãs executaram 9 membros das Forças de Segurança da Defesa Nacional Afegã (ANDSF) mesmo depois de se terem rendido. Agnès Callamard, secretária-geral da Amnistia Internacional, afirma que:

“Estas execuções a sangue frio são mais uma prova de que os Talibãs estão a cometer os mesmos abusos horríveis pelos quais eram conhecidos durante o seu anterior governo do Afeganistão”

“Os talibãs violam repetidamente os direitos daqueles que consideram como seus adversários, matando mesmo aqueles que já se renderam.”

As forças talibãs mataram ilegalmente 13 pessoas de etnia Hazara, incluindo uma rapariga de 17 anos, na província de Daykundi do Afeganistão, mesmo depois dos membros das forças de segurança do antigo governo se terem rendido, revela uma nova investigação da Amnistia Internacional.

As mortes ocorreram na aldeia de Kahor, distrito de Khidir, a 30 de agosto. Onze das vítimas eram antigos membros das Forças de Segurança da Defesa Nacional Afegã (ANDSF), e dois eram civis.

De acordo com testemunhos recolhidos pela Amnistia Internacional, os talibãs executaram extrajudicialmente nove dos membros da ANDSF, mesmo depois de se terem rendido, o que faz estes homicídios parecerem crimes de guerra. Dois civis foram mortos enquanto tentavam fugir, nomeadamente uma rapariga de 17 anos, que foi baleada quando os talibãs dispararam sobre uma multidão.

A Amnistia Internacional verificou fotografias e vídeos tiradas na sequência dos homicídios, e identificou a localização da aldeia de Kahor, onde ocorreram.

“Estas execuções a sangue frio são mais uma prova de que os talibãs estão a cometer os mesmos abusos aterradores pelos quais eram conhecidos durante o seu anterior governo do Afeganistão”, referiu Agnès Callamard, secretária-geral da Amnistia Internacional.

“Os talibãs violam repetidamente os direitos daqueles que consideram ser os seus adversários, executando mesmo aqueles que já se renderam. Afirmam não ter como alvo os funcionários do anterior governo, mas estas mortes contradizem as suas alegações.

“É urgente um cessar imediato destes atos cruéis de vingança, capaz de garantir que os funcionários do antigo governo, e as suas famílias, possam viver em segurança no Afeganistão. O novo governo deve deixar claro que estas graves violações de direitos humanos não serão toleradas, e que os responsáveis serão julgados”.

A verificação das violações de direitos humanos cometidas pelos talibãs, desde que assumiram o controlo do Afeganistão em agosto de 2021, revelou-se difícil, uma vez que o grupo cortou os serviços de comunicação móvel em muitas regiões. Pouco depois da queda de Cabul, a Amnistia Internacional expôs como os combatentes talibãs massacraram nove homens de etnia Hazara depois de assumirem o controlo da província de Ghazni.

 

Assassinatos na aldeia de Kahor

Os talibãs assumiram o controlo da província de Daykundi a 14 de agosto. Inicialmente, cerca de 34 antigos membros da ANDSF procuraram segurança no distrito de Khidir, e encontravam-se munidos de equipamento militar e armamento do governo. Após os talibãs estabelecerem a sua autoridade sobre uma área vasta da região, o grupo de 34 pessoas concordou em render-se.

Mohammad Azim Sedaqat, que estava a liderar a rendição, desativou as armas do grupo na presença dos talibãs. A 29 de agosto, a rendição ficou totalmente negociada.

No dia 30 de agosto, os antigos membros da ANDSF, alguns com as suas famílias, estavam na aldeia de Dahani Qul (pertencente ao distrito de Khidir), quando cerca de 300 talibãs chegaram de comboio ao local.  Enquanto os membros da ANDSF e os seus familiares tentavam abandonar a área com as suas famílias, um veículo permaneceu preso perto da aldeia de Kahor.

Os talibãs dispararam sobre a multidão que fugia, acabando por matar Masuma, de 17 anos. Um dos membros da ANDSF disparou também, matando um combatente talibã e ferindo outro.

Em consequência do tiroteio sobre a multidão, os talibãs mataram ainda dois membros da ANDSF. Outros nove membros, apesar da sua rendição, foram levados pelos talibãs para perto de um rio e executados nesse local.

Vídeos e fotografias revistas pela Amnistia Internacional mostram os cadáveres de 11 homens alinhados, muitos com ferimentos de bala nas suas cabeças. Um dos vídeos expõe um corpo a ser carregado por uma ladeira, que se crê ficar junto à bacia do rio perto de Kahor. A organização foi incapaz de geolocalizar este vídeo de forma independente, mas o seu conteúdo é consistente com as declarações de testemunhas oculares que descrevem que o sítio é próximo de Kahor.

Os nomes e idades estimadas dos 11 membros da ANDSF são: Musa Amiri, 46; Khudad Jawahiri, 33; Esmatullah Zarigh, 34; Noor Ali Ibrahimi, 34; Habibullah, 33; Amanullah, 32; Reza Karimi, 31: Dawran, 26; Dur Mohammad, 41; Abdul Hamid Fahimi, 28: e Reza Joya, 33.

 

Após as mortes

No dia seguinte às mortes, 31 de agosto, os aldeões transportaram os corpos para Dahani Qul, onde foram posteriormente conduzidos para as sepulturas familiares para serem enterrados. A Amnistia Internacional analisou e verificou esta informação, confirmando a localização de duas das sepulturas, e as identidades das pessoas ali enterradas.

Depois destes acontecimentos, os talibãs avisaram os restantes membros da família que qualquer pessoa que tivesse fugido deveria regressar e render-se no prazo de três dias. Os entrevistados disseram à Amnistia Internacional que um alto funcionário talibã tinha mencionado: “Matei várias pessoas durante os últimos 20 anos. Matar é fácil para mim. Posso voltar a fazê-lo”.

“Matei várias pessoas durante os últimos 20 anos. Matar é fácil para mim. Posso voltar a fazê-lo”

Declaração de um alto funcionário talibã

A 1 de setembro, Sadiqullah Abed, o chefe da polícia da província de Daykundi nomeado pelos talibãs, negou que qualquer assassinato tivesse acontecido e, em vez disso, confirmou apenas que um membro dos talibãs tinha sido ferido num ataque em Daykundi.

 

Contexto

Os talibãs tomaram o poder no Afeganistão após o colapso do governo em agosto de 2021. A Amnistia Internacional apelou à proteção de milhares de afegãos em sério risco de represálias pelos talibãs, desde académicos e jornalistas a ativistas da sociedade civil e mulheres defensoras dos direitos humanos.

Num briefing recente, A queda do Afeganistão nas mãos dos talibãs”, a organização detalhou múltiplas violações de direitos humanos cometidas pelos talibãs, como assassinatos seletivos de civis e soldados rendidos, e o bloqueio de assistência humanitária, que constituem crimes à luz do direito internacional.

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