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João de Sousa

Quinta-feira, Abril 25, 2024

Café Society de Woody Allen

***

Começou a escalada das marches, as famosas escadas que dão acesso ao Palácio dos Festivais, onde decorre a maior parte das sessões oficiais, todas elas acompanhadas por uma multidão em fúria, fotógrafos histéricos para obterem a chapa que venderão às agências, bem como das próprias estrelas e starlettes que já não passam sem uma selfie.

De tal maneira que o delegado do festival Thierry Frémaux acabou por solicitar que esse momento fosse o mais breve possível. Por falar em escadas, no fundo também é esse o trailer que antecede cada filme, com uma escada que emerge das águas e se estende ao céu, recordamos também Michel Piccoli, o homem que sobe as escadas diante do sol mediterrâneo, na imagem seleccionada para o cartaz do festival, no filme O Desprezo, onde encontrará uma Brigitte Bardot a tomar banhos de sol, totalmente nua. Mesmo sem sol, Cannes já vibra. Olha, é o novo do Woody Allen!

Vamos lá, é bom ou mau? Desde logo, Woody não sabe fazer mal. Sobretudo quando se trata de uma homenagem a um período de enorme euforia em Hollywood, com o crescimento dos clubes nocturnos. O problema é que acaba por sofrer com algum excesso de valores produção e ambiente que tornam o filme demasiado vistoso e perfeitinho.

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Naturalmente, um trabalho que não põe em causa a fotografia de Vittorio Storaro e a decoração de Santo Loquasto, ainda que esse high profile não se traduza num valor acrescentado ao plot romântico.

Woody que já completou 80 anos e que pela terceira vez abre o certame. É ao som do jazz dos anos 30 que nos envolvemos numa divertida história de amor e desencanto, tendo a miragem de Hollywood em pano de fundo, onde Steve Carell assume com alguma garra o papel do agente Phil, uma espécie de Jorge Mendes de Hollywood, ou Jeremy Piven, de Entourage.

Ele é o agente em quem Ginger Rogers está a pensar, o amigalhaço de Errol Flynn, Paul Muni, de John Wayne, mas também dos donos de estúdios, produtores, enfim. Bobby é o sobrinho, acabadinho de chegar de Hollywood, a pedir ajuda ao tio para lhe abrir uma porta. A coisa funciona e ambos acabam por ser mútuos confidentes. Mesmo sem um excesso de nepotismo, como refere Phil a certo ponto.

Kristen Stewart acabará por ser uma dama no meio de dois homens; a jovem Vonnie empregada para pequenos recados que acabará por infectar no coração do jovem um forte sentimento, apesar deste não saber que o tio já era amante dela. Entre promessas de casamento e ideais de vida modesta, o destino acaba por traçar caminhos diferentes para os dois.

A história acabará por se desenrolar entre o sol romântico de Los Angeles e as sombras mais realistas de Nova Iorque, onde eventualmente Bobby acabará por dirigir um clube nocturno, desta vez com a ajuda do tio Ben (Corey Stoll), homem da má vida, mas fica também mais próximo da família e da sua mãe, na impagável composição de Jeannine Berlin.

Já assumidamente um judeu empreendedor, encontrará novo amor com uma mulher de nome familiar, Verónica, mas desta vez interpretada pela deslumbrante Blake Lively. Quando inevitavelmente Bobby se reencontrará com Vonnie, em Nova Iorque, a chama acabará por acender-se. Mas não o suficiente para nos aproximar do dilema de Bogart e Bergman, em Casablanca.

Não. Café Society fica com uma comédia romântica decente, mas sem pretensões. Aliás, não foi o próprio narrador que disse que se trata de uma comédia escrita por um sádico?

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