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Quinta-feira, Abril 25, 2024

Choram Marias e Clarices e todo mundo a morte de Aldir Blanc nesta segunda

Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Jornalista, assessor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

Uma notícia entristeceu toda a nação na manhã desta segunda-feira (4), dia que nunca mais será o mesmo. E a tristeza não está em nenhuma maluquice do clã Bolsonaro e seus insanos seguidores.

O Brasil perdeu um dos seus grandes talentos. Aldir Blanc não resistiu à Covid-19 e deixou o nosso convívio aos 73 anos. Para quem acompanha a música popular brasileira é como perder alguém da família, tal a generosidade demostrada por esse grande compositor e poeta em suas canções presentes para sempre no imaginário popular. Ele faria 74 anos em setembro.

Suas canções não saem da lembrança porque transcendem o tempo permanecendo sempre atuais. “O Bêbado e a Equilibrista” se popularizou na voz de Elis Regina e se tornou o hino da Anistia, em 1979, quando voltaram ao país os exilados pela ditadura fascista de 1964.

O Bêbado e a Equilibrista

Para a deputada federal Jandira Feghali “perdemos um lutador e um artista da liberdade, da poesia e do povo”. Mas Blanc “sabe que o show de todo artista tem que continuar” na poesia de “O Bêbado e a Equilibrista”, talvez sua canção mais famosa em parceria com João Bosco, com quem também fez “O Mestre Sala dos Mares”, uma homenagem ao marinheiro João Cândido que liderou a Revolta da Chibata, em 1910, contra os maus-tratos aos negros pela Marinha brasileira.

“Rubras cascatas jorravam das costas dos negros
Pelas pontas das chibatas
Inundando o coração de toda a tripulação
Que a exemplo do marinheiro gritava: Não”

 

O Mestre Sala dos Mares

Com Silvio da Silva Júnior escreveu uma das mais belas poesias sobre amizade da música popular brasileira em “Amigo É pra Essas Coisas” transcrevendo o diálogo entre dois amigos que se reencontram num bar e um deles está desempregado, sentindo-se desamparado. Por isso “amigo é pra nessas coisas” porque “o apreço não tem preço”, de chorar de emoção.

Como todo grande poeta, teve uma poesia singular, sem tabus ou receios de temáticas que pudessem causar dissabores como os que enfrentou durante a ditadura (1964-1985) por suas letras fortes, com a coragem de quem sabe do seu papel na cultura de um país sedento de liberdade e justiça.

Para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, “Aldir Blanc foi um compositor brilhante, autor de canções que emocionam gerações de brasileiros. O Brasil, sua cultura e democracia devem muito ao seu talento e generosidade”.

 

Amigo É pra Essas Coisas

Generosidade em dedicar a vida à sua arte, que enche os ouvidos sobre a crença de que tudo será melhor no futuro. Como a dizer em “Dois Bombons e uma Rosa”, essa sem parceria: “Jamais comente o passado/lembre o conselho de Dalva/Não há xampu, não há creme/que apague ou que desmarque/da tua pele o meu beijo/fedendo a conhaque”, sobre um relacionamento amoroso que se desfez.

Já em “Incompatibilidade de Gênios”, com João Bosco, vai fundo nos dissabores da rotina de um casamento vencido pelo tempo. “E ontem/Sonhando comigo, mandou eu jogar/Mandou eu “jogá”/No burro/Foi no burro/E deu na cabeça a centena e o milhar/Ai, quero me separar”.

Tempo que ninguém resiste. O bom humor do compositor fez de sua vida uma obra completa de arrepios de sentimentos e de profusões de canções sobre as querelas do Brasil.

“As febres loucas e breves que mancham o silêncio e o cais
Roseirais, Nova Granada de Espanha
Por você, eu, teu corsário preso
Vou partir a geleira azul da solidão
E buscar a mão do mar, me arrastar até o mar, procurar o mar
Mesmo que eu mande em garrafas mensagens por todo o mar
Meu coração tropical partirá esse gelo e irá
Com as garrafas de náufragos e as rosas partindo o ar
Nova Granada de Espanha e as rosas partindo o ar”

(Corsário, com João Bosco)

 

Dois Bombons e uma Rosa

Dói na alma a perda de um talento tão grande como o de Aldir Blanc. Tão próximo de nossas vidas com suas músicas eternizadas. Quem sabe algum grande poeta possa transformar essa dor em arte, como Aldir Blanc fez em sua vida e muito bem.

“No dedo um falso brilhante
Brincos iguais ao colar
E a ponta de um torturante
Band-aid no calcanhar
Eu hoje me embriagando
De whisky com guaraná
Ouvi tua voz sussurrando
São dois pra lá, dois pra cá”

(Com João Bosco).

 

Dois pra Lá, Dois pra Cá

Também foi autor de “Bala com Bala”, “De Frente pro Crime” e “Caça à Raposa”, em parceria com João Bosco; “De esquina em esquina”, “Diva” e “Nada sei de eterno”, com César Costa Filho; “Nação”, com João Bosco e Paulo Emílio, entre muitas outras canções para sempre no rico acervo da MPB. Também foi cronista do Jornal do Brasil por anos.


Texto em português do Brasil


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