A notícia de que o presidente Donald Trump e a primeira-dama Melania Trump estão com covid-19 se espalhou rapidamente pelo país e o mundo na manhã da sexta-feira (2).
por John Wojcik, em People’s World | Tradução de José Carlos Ruy
Enquanto os comentaristas dizem que a eleição foi revirada, uma parte importante do processo eleitoral em andamento – a tentativa de Trump e do Partido Republicano de não acatar o resultado se ele perder – está indo a todo vapor.
Sem se deixar abater pela doença do presidente – que confirma o fracasso de seu governo em combater o vírus – os republicanos da Pensilvânia agem rapidamente para criar um cenário de pesadelo que pretendem lançar caso Trump perca a eleição.
O plano que defendem permitiria, na verdade, que o resultado da eleição seja posto de lado se Biden, em novembro, receber a maioria dos votos na Pensilvânia. A importância da Pensilvânia na eleição é grande. O site FiveThirtyEight, de Nate Silver, mostra de forma convincente que a Pensilvânia é o provável ponto de inflexão. Se Biden ganhar aquele estado, não precisará vencer em outros estados decisivos para ganhar a eleição – incluindo Flórida, Ohio, Carolina do Norte, Arizona, Geórgia, Texas e vários outros.
Durante o debate da terça-feira, Trump falou sobre “coisas ruins acontecendo” na Pensilvânia. Preparava o terreno para o ataque do Partido Republicano à democracia que estava programado para começar no dia seguinte ao debate (30).
Os republicanos na Assembleia da Pensilvânia aprovaram uma resolução, numa votação de linha partidária, para criar um “comitê de integridade eleitoral”, formado por três republicanos e dois democratas, para investigar a eleição de 2020. Esse “comitê de integridade” teria o poder de aprovar sua própria lista de eleitores para Trump, com base em falsas alegações de fraude eleitoral.
“Este é um ataque sem precedentes aos administradores eleitorais apartidários em um momento em que todos deveríamos fazer todo o possível para inspirar confiança na eleição”, disse o governador Tom Wolf (Democrata).
O comitê de “integridade eleitoral” veio sem aviso prévio, acusa o deputado estadual democrata Malcolm Kenyatta.
O líder democrata na Câmara da Pensilvânia, Frank Dermody, disse que a criação desse comitê eleitoral veio “do nada”. “Ouvimos o presidente dizer, na terça à noite, ‘Coisas ruins acontecerão na Filadélfia’”, lembrou Kenyatta, referindo-se ao debate da terça. “A realidade é que coisas ruins estão acontecendo. Esta é uma coisa ruim que nunca deveria ter sido mencionada.”
No debate Trump lançou ainda mais bases para este pesadelo eleitoral, quando disse que seus “observadores das urnas” foram expulsos de um local de votação na Pensilvânia. Foi uma mentira, porque nenhuma votação estava ocorrendo em qualquer local de votação no estado. O que aconteceu foi que um grupo violento de Proud Boys tentou entrar à força em um centro de triagem e distribuição de votos. Nenhum observador partidário de qualquer candidato pode entrar nesses locais.
Outros esforços para lançar as bases para o golpe na Pensilvânia, que poderia inclinar toda a eleição a favor de Trump, incluem uma enxurrada de ações judiciais por advogados de Trump para reduzir a contagem das cédulas antes do dia da eleição.
Muitas das ações judiciais alegam “fraude maciça” e referem-se a alegações infundadas de que cédulas acabaram em rios e baldes de lixo.
Os republicanos da Pensilvânia elaboraram, com a campanha de Trump, um plano em que o “comitê de integridade” poderia encontrar tanta “fraude” que toda eleição teria de ser abandonada.
O “comitê de integridade” é claramente um passo na direção de tentar assentar um grupo de eleitores não escolhidos pelo povo, se Trump perder. Atende à definição clássica de golpe.
“Tenho que acreditar que eles levam a sério a tentativa de assentar outro conjunto completo de eleitores, o que é um golpe”, disse o líder democrata Dermody.
Os republicanos estão alegando que tiveram que iniciar seu plano de “integridade” porque a Suprema Corte estadual jogou a eleição no “caos” ao estender o prazo de recebimento de cédulas para três dias após o dia da eleição.
O novo comitê pode intimar documentos, incluindo cédulas, antes, durante e depois da eleição. Ele pode iniciar uma investigação após a eleição, deslegitimando os resultados ao descobrir “erros”, e tomar medidas para lançar falsas acusações adicionais.
O procurador-geral William Barr já aderiu ao esquema, alegando que nove cédulas foram jogadas no lixo na Pensilvânia. Uma investigação por funcionários eleitorais locais mostrou que um trabalhador descartou acidentalmente as cédulas porque elas não estavam nos envelopes de voto exigidos. A situação não foi um caso de fraude eleitoral intencional.
Enquanto a sabotagem eleitoral continua, a única coisa que hoje se ouve dos líderes do Partido Republicano são votos de felicidades para o presidente e a primeira-dama. Há relatos de que o presidente tem sintomas leves. Melania Trump tuitou na quinta-feira (dia 1º) à noite que ela estava se sentindo bem, que “estamos todos juntos nisso” e que todos devem ficar seguros.
Ela não mencionou que Trump, se ele apenas desse o sinal, poderia entregar o alívio urgente de que seu país precisa. Ele tem em suas mãos os meios para ajudar a manter todos seguros, mas até agora não mostrou nenhuma inclinação para fazê-lo.
por John Wojcik, Editor-chefe de “People’s World | Texto em português do Brasil, com tradução de José Carlos Ruy
Exclusivo Editorial PV (Fonte: People’s World) / Tornado