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Segunda-feira, Abril 22, 2024

Crónica Ilustrada do Iémen

Beatriz Lamas Oliveira
Beatriz Lamas Oliveira
Médica Especialista em Saúde Publica e Medicina Tropical. Editora na "Escrivaninha". Autora e ilustradora.

O Iémen foi um dos centros da civilização do Médio Oriente. O geógrafo grego Ptolomeu chamou ao Iemen a “Arábia feliz” por causa do clima ameno e fertilidade dos solos. Tem uma História antiga riquíssima a que a História presente não faz justiça.

O Reino Zaydi Mutawakkilite foi criado após a Primeira Guerra Mundial no Norte do Iémen. O Iémen do Sul permaneceu como um protetorado britânico de Áden até 1967, quando se tornou um estado independente e mais tarde um Estado Marxista-Leninista, seja, a República Democrática Popular do Iémen.

Em 1962 começa uma Guerra Civil no Iémen do Norte que se prolonga durante oito anos, até 1970. Forças republicanas árabes do norte do Iémen, venceram o Reino Mutawakkilite. Este último apoiava-se nas comunidades tribais e teve apoio da Arábia Saudita e da Jordânia, enquanto os republicanos receberam apoios do Egito que enviou 55 mil soldados e da União Soviética.

As tropas egípcias retidas em combate no Iémen foram uma desvantagem para aquele país, em 1967,durante a Guerra dos Seis Dias com Israel. Estas tropas tiveram de sair do Iémen nessa altura.

No final dos combates estava criada a República Árabe do Iémen. Mais de 100.000 pessoas morreram neste conflito.

Seguiu-se a reunificação do País. A República Árabe do Iémen e a República Democrática Popular do Iémen reuniram-se para formar a República do Iémen em 22 de maio de 1990.

Nem assim a Paz prevaleceu.

Seguiu-se a Guerra Civil Iemenita de 1994, onde quase todos os combates reais ocorreram na parte sul do país, apesar dos ataques aéreos e de mísseis contra cidades e grandes instalações no norte. Os sulistas buscaram apoio dos estados vizinhos e receberam biliões de dólares em equipamentos e assistência financeira, principalmente da Arábia Saudita, que se sentiu ameaçada durante a Guerra do Golfo em 1991, quando o Iémen apoiou Saddam Hussein. Os Estados Unidos pediram o cessar-fogo e um retorno à mesa de negociações, um enviado especial da ONU tentou a paz, mas não tiveram êxito. Os líderes do sul declararam secessão e o estabelecimento da República Democrática do Iémen (DRY) em maio de 1994, mas o novo estado não foi reconhecido pela comunidade internacional. As operações militares contra os secessionistas foram bem sucedidas e Aden foi capturada em 7 de julho de 1994. A resistência foi derrotada e milhares de líderes e militares do sul foram exilados.

 

Quem é Ali Abdullah Saleh?

Foi o político iemenita que serviu como o primeiro presidente da Républica do Iémen até ao início da revolta de 2011. Foi assassinado na capital do país, Sanaa, em dezembro de 2017.

Em março de 2011, um mês após o início de uma revolta contra o governo do presidente Saleh, forças militares desertaram para o lado dos manifestantes levando centenas de tropas e vários tanques para proteger os cidadãos revoltosos. Militares ainda leais a Saleh retomaram a cidade de Zanjibar aos militantes islâmicos que estavam explorando o caos no país para expandir a sua influência. A ofensiva aliviou as unidades do exército sitiadas no processo. Nesta revolução grande numero de houthis participou nos protestos. Quando o levantamento armado começou, os houthis usaram isso como estratégia para dominar o norte do Iémen.

Na guerra civil de 2014, as forças armadas foram divididas pelos partidários do ex-presidente Ali Abdullah Saleh e pelas forças pró-governo do presidente Abdrabbuh Mansour Hadi.

Quando Ali Abdullah Saleh foi substituído por Abdrabbuh Mansour Hadi (sunita) como presidente este último assumiu o cargo por dois anos de 27 de fevereiro de 2012 a 22 de janeiro de 2015, quando foi derrubado pelos rebeldes houthis.

Quem são os Houthis?

O movimento houthi é um grupo islâmico armado do norte do Iémen, que nos anos 90 que surgiu como oposição ao ex-presidente iemenita Ali Abdullah Saleh, a quem eles acusaram de corrupção financeira maciça e criticaram por serem apoiados pela Arábia Saudita e pelos Estados Unidos às custas de o povo iemenita e da soberania do Iémen. Resistindo à ordem de prisão do Presidente Saleh de sua prisão, o seu dirigente foi morto em 2004, juntamente com vários de seus guardas pelo exército iemenita, provocando o movimento rebelde houthi no Iémen. Liderado porAbdul-Malik al-Houthi. O movimento houthi atrai seus seguidores zaidi-xiitas no Iémen, discutindo questões político-religiosas regionais nos seus órgãos de comunicação social incluindo a abrangente conspiração EUA-Israel e o “conluio” árabe.

Os objetivos expressos do movimento incluem combater o subdesenvolvimento económico e a marginalização política no Iémen, e pretendem maior autonomia para as regiões de maioria houthi do país. Apoiam uma república não-sectária mais democrática no Iémen. Os houthis fizeram da luta contra a corrupção o objectivo do seu programa político. Os houthis participaram da Revolução Iemenita de 2011 participando de protestos de rua e coordenando com outros grupos da oposição. Eles se juntaram à Conferência Nacional de Diálogo no Iémen como parte da iniciativa do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC) de intermediar a paz após a agitação.

 

Quem é Mansour Hadi?

Mansour Hadi foi escolhido como presidente numa eleição em que era o único candidato. O mandato foi prorrogado por mais um ano em janeiro de 2014. Tentou ficou no poder após o termo de seu mandato.

Hadi disse a William Hague logo no início do mandato “Pretendemos enfrentar o terrorismo com força total e qualquer que seja o assunto, vamos levá-lo até o último esconderijo”. Incluía nestas palavras a luta contra a Al-Qaeda.

Em uma entrevista em 2012 dada ao Washington Post, Hadi alertou que seu país,depois da revolta popular que derrubou Saleh, arrisca uma guerra civil “pior que o Afeganistão”, caso um diálogo nacional nos próximos meses não resolvesse as profundas fendas políticas e sociais do estado. Ele também disse que o Iémen enfrentava “três guerras não declaradas” conduzidas pela Al Qaeda, piratas no Golfo de Áden e rebeldes houthi no norte, e que o Irão apoia esses adversários indiretamente, sem dar mais detalhes.

Em resumo, desde a guerra civil de 2014, as forças armadas estão divididas pelos partidários do ex-presidente Ali Abdullah Saleh e pelas forças pró-governo do presidente Abdrabbuh Mansour Hadi.

Em 22 de janeiro de 2015, Abdrabbuh Mansour Hadi foi forçado a renunciar pelos Houthis após um protesto em massa contra sua decisão de aumentar os subsídios ao combustível e devido à insatisfação com o resultado da Revolução de 2011 e após a decisão de Hadi de aumentar os preços dos combustíveis e remover diversos subsídios. Então os houthis começaram um avanço em todas as províncias do Iémen para concluir a tomada do país. Hajjah e Amran foram os primeiros alvos, seguidos pelo cerco à cidade de Dammaj, com maioria sunita. Após problemas no Egito, a Arábia Saudita foi forçada a declarar a Irmandade Muçulmana uma organização terrorista e retirar seu apoio do partido Islah do Iémen. Isso permitiu que os houthis executassem o comandante de brigada blindada em Amran e o substituíssem por um houthi. Depois avançaram em Sanaʽa e alinharam com o Congresso Geral do Povo (LPC). Como as forças especiais do Iémen e a guarda republicana eram leais ao GPC, (National Dialogue Conference) isso permitiu que os houthis invadissem várias de suas bases em Sanaʽa. Essa foi a primeira presença houthi em Sanaʽa. Como resultado, a Força Aérea Iemenita (YAF) lançou ataques aéreos pesados em colunas das forças houthis nos arredores de Sanaa, o que causou um grande número de baixas, mas não impediu o avanço. Os houthis seguiram em frente e capturaram o alto comando do exército iemenita.

Mansour Hadi entrou em pânico quando o complexo presidencial foi cercado pelos houthis. Finalmente, os combates terminaram quando o acordo de paz e parceria foi assinado entre os houthis e Hadi. Isso incluiu Hadi ter de substituir todo o seu gabinete ministerial. Os houthis viram isso como uma possibilidade de assinalar e prender os aliados do Partido Islah em Sanaa. Também tentaram impor o controle sobre todo o exército iemenita, mas quando os oficiais se recusaram a obedecer-lhes substituíram-nos por houthis e, com isso, até assumiram a Força Aérea iemenita.

Depois disso, os elementos sobreviventes da milícia do partido Islah, a guarda presidencial e os remanescentes de unidades militares leais a Hadi decidiram lutar. A violência atingiu seu auge na capital quando os houthis expulsaram a guarda presidencial do complexo presidencial e tomaram as baterias de mísseis, a base Aérea de Daylami e o edifício do Ministério da Defesa em Sanaa.

Posteriormente, os houthis e os apoiantes de Saleh tomaram o palácio presidencial e colocaram Hadi em prisão domiciliar. Um mês depois, ele escapou para sua cidade natal, Aden, rescindiu sua renúncia e denunciou as acções dos houthis. Estes últimos nomearam um Comité Revolucionário para assumir os poderes da presidência, bem como o Congresso Popular Geral, o próprio partido político de Hadi.

Em 25 de março de 2015, após o início da Guerra Civil Iemenita, Hadi fugiu do Iémen enquanto as forças houthis avançavam em Aden. De Aden fugiu para Riad e a Arábia Saudita começou uma campanha de bombardeamentos de apoio ao seu governo. Voltou a Aden em setembro de 2015, quando as forças do governo apoiadas pela Arábia Saudita recapturaram a cidade. No final de 2017, ele residia em Riad em prisão domiciliar. Em 2 de janeiro de 2020, o Tribunal Penal Especializado em Sanaa, Iémen, condenou Hadi e seu primeiro-ministro Maeen Abdulmalik Saeed à morte, por alta traição, abuso de propriedades do governo e saques ao tesouro do país.Hadi vive no exílio na Arábia Saudita.

A guerra civil do Iémen piorou em 2015, quando o presidente Abd Rabbu Mansour Hadi fugiu para Riad e uma coligação de 20 nações árabes liderada pela Arábia Saudita interveio para tentar derrotar os houthis apoiados pelo Irão. O conflito transformou-se na pior crise humanitária do mundo, matando cerca de 100.000 pessoas e deixando 80% da população – cerca de 24 milhões de pessoas – dependentes de ajuda para sobreviver. Ambos os lados foram acusados de ataques indiscriminados a alvos civis.

A partir de outubro de 2015, a coligação liderada pela Arábia Saudita deixou de participar na lutas direta para fornecer apoio e treino das forças iemenitas leais ao governo do Presidente Hadi. Inspiraram a formação do Exército Nacional do Iémen (YNA), que treinam na Base Aérea de Al Anad, na província de Lahij. Estes consistiam em unidades leais a Hadi, milícias de mobilização popular e mercenários da Eritreia e da Somália. Neste exército remodelado foram integradas as antigas forças armadas iemenitas, que estão localizadas nas partes sul, leste e central do Iémen.

Neste momento as forças em presença no terreno iemenita são a Aliança das Tribos Iemenitas. Al-Islah. A Resistência Popular, os Comités Populares Pró-Hadi a Aliança Tribal do Hadhramaut, o Movimento Sul (até 2017) e as Milícias salafistas (do final de 2015).

O número de militares no Iémen é elevado e o País tem a segunda maior força militar na Península Arábica, depois da Arábia Saudita. Em 2012, o total de tropas calculava-se em 79.000 do exército, marinha, e força aérea. Desde 2007, o serviço militar é obrigatório. O orçamento de defesa do Iémen é elevado e estas despesas tendem a elevar-se.

Ptolomeu chamar-lhe-ia agora o reino dos artistas da esperança.

Mazher Nizar, iemenita, autor das aguarelas que ilustram este texto, vive em Sanaa, e estudou Fine Arts em Calcutta. É um dos meus amigos que embelezam o mundo com a sua arte.


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


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