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Quinta-feira, Abril 25, 2024

De Bannon para Goebbels, ao mestre com carinho

O capitão-presidente Jair Bolsonaro tem se utilizado de falsas polêmicas enviadas pelo Twitter para encobrir as deficiências gritantes de seu governo.

Em pouco mais de 90 dias, a inflação cresceu, o PIB não sobe, o desemprego aumenta, a pobreza ocupa as calçadas das principais ruas das cidades, as exportações do agronegócio começam a cair e a educação entra numa espiral de abandono. Mas o que faz nosso “timoneiro” e seus colaboradores? Postam bobagens ou propostas descabidas para o país.

No domingo, dia 31 de março, Bolsonaro chega a Israel sinalizando mudanças na política externa brasileira. Na visita ao Memorial do Holocausto, a ignorância histórica do capitão virou notícia negativa na imprensa internacional. Em mais um factoide, Bolsonaro afirmou que o nazismo era uma ideologia de esquerda. Uma vergonha para nós brasileiros e um comentário deselegante, para dizer o mínimo, para a memória das vítimas do nazismo.

Todas as postagens feitas até aqui pelos integrantes deste desgoverno dão uma dimensão da sinuca de bico em que estamos todos nós, ricos e pobres, negros e brancos, professores e alunos, progressistas e liberais. Sei que não deveríamos polemizar sobre as baboseiras do bolsonarismo, mas acho importante deixar registrado para os desinformados como as ditaduras militares de direita trataram os fugitivos da SS nazista que se refugiaram nos países da América do Sul.

Recentemente veio a público a história do criminoso nazista Franz Paul Stangl, que viveu 18 anos no Brasil. Stangl ficou conhecido durante a Segunda Guerra por liderar o programa de eutanásia nazista para o extermínio de pessoas com deficiência física. Foi também comandante de dois campos de extermínio na Polônia. Nos anos 60, como funcionário da unidade da Volkswagen de São Bernardo do Campo, Stangl montou uma estrutura de espionagem dos operários da empresa que contava com dezenas de policiais e membros das Forças Armadas. Stangl estava tão tranquilo no Brasil que nem chegou a alterar seu nome verdadeiro.

Outro nazista que também não mudou seu nome verdadeiro foi Walter Raulff, inventor das câmaras de gás móveis. Ele viveu em Santiago até morrer em 1984, aos 77 anos. Nesse período, Rauff se tornou muito próximo de Klaus Barbie, o Açougueiro de Lyon, com quem teve negócios no Chile e na Bolívia. Na Argentina, o ex-oficial da SS, Wilhelm Sassen, trabalhou diretamente com um dos ídolos de Bolsonaro, o ditador Alfredo Stroessner. O ex-nazista também serviu ao regime do general Augusto Pinochet vendendo armas de origem alemã. Já o coronel da SS, Otto Skorzeny, que se tornou uma lenda ao libertar o ditador Benito Mussolini quando da rendição da Itália em 1943, teve forte amizade com o presidente argentino Juan Domingo Perón. Um dos sonhos de Skorzeny era implantar na América do Sul a semente de um “Quarto Reich”. Isso por conta da grande simpatia de Perón pelo regime nazista. Aliás, a Argentina permitiu durante o peronismo a entrada de ao menos 32 notórios criminosos nazistas. Para não deixar nenhuma dúvida sobre a ligação do nazismo com a direita, lembro o caso de Olga Benário, alemã de origem judaica, militante comunista e mulher de Luís Carlos Prestes. Olga foi presa em 1936 e deportada grávida, em 1939, para a Alemanha pela ditadura Vargas, simpatizante do nazismo. Em 1942, aos 34 anos, Olga foi morta em uma câmara de gás no campo de extermínio de Bernburg ao lado de outras 199 mulheres judias.


Fica a impressão de que Bolsonaro vem utilizando a mesma estratégia do ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels, que colocou em prática a máxima de que:

“uma mentira repetida mil vezes se torna verdade”

É inacreditável ver o primeiro ministro israelense Benjamim Netanyahu prestando honras a um chefe de Estado que admira as ex-ditaduras militares da América do Sul que deram guarida aos piores facínoras do nazismo. Em pleno século 21 estamos sendo levados pelas mentiras repetidas à exaustão. Fica a impressão de que Bolsonaro vem utilizando a mesma estratégia do ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels, que colocou em prática a máxima de que: “uma mentira repetida mil vezes se torna verdade”. Quem ressuscitou esta estratégia foi o marqueteiro de Trump, Steve Bannon, que também fez a campanha de Bolsonaro. A questão é que hoje, com os robôs bombando as fake news, as mentiras não se contam na casa dos milhares, mas dos trilhões. Se Goebbels ludibriou o povo alemão, imagino a confusão mental que teremos daqui pra frente.


por Florestan Fernandes Júnior, Jornalista, escritor e integrante do Jornalistas pela Democracia | Texto em português do Brasil

Exclusivo Editorial Brasil247 (para o Jornalistas pela Democracia) / Tornado


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