Ryan Reynolds é Deadpool: O Anti super-herói
Não me importaria de continuar a fazer isto até andar de cadeira de rodas
O actor canadiano Ryan Reynolds foi a Moscovo promover o filme Deadpool, baseado no anti-herói dos comic books da Mravel. Ele é Wade Wilson, um operacional das forças especiais que depois de se submeter a uma experiência converte-se numa personagem com poderes especiais.
Deadpool destrói as principais convenções sobre super-heróis, já que mais interessado do que proteger o mundo, Deadpool está mais empenhado em resolver os próprios problemas. Apesar do calão dominar o seu léxico, não deixa de ser uma personagem simpática. Uma coisa é certa, Deadpool constitui um projecto muito importante para a carreira (e para a vida) de Ryan Reynolds, que para além de protagonizar também produz o filme. Seguramente, um projecto atípico da Marvel que motiva uma atenção adicional. Ariana Bogdan entrevistou Ryan Reynolds.
Projecto de longo desenvolvimento
Ryan Reynolds – Este era um projecto que tentava desenvolver com os estúdios há já 11 anos e já tinha ouvido muitas vezes respostas negativas. Por isso, ter obtido a ‘luz verde’ há um ano e meio atrás e poder desenvolver este filme foi como um sonho tornar-se realidade.
Personagem de Deadpool
Deadpool ocupa um espaço único no universo de super-heróis, algo que nenhum outro poderia ocupar. Acho mesmo que é a personagem mais incrível do universo Marvel. Ainda bem que o estúdio nos permitiu fazer este filme. Sei que os filmes de super-heróis são muito populares em todo o mundo. Um aspecto único de Deadpool é que quando os espectadores vêm o filme apercebem-se como o mesmo goza consigo próprio e conseguem rever-se nele. É um tipo de experiência única que só este filme poderia trazer.
Identificação com humor
A razão pela qual estive tento tempo ligado a Deadpool é porque ele é uma espécie do meu alter ego. Às vezes tenho dificuldade em desliga-lo. Gosto muito de humor. Gosto de humor negro, gosto de humor ligeiro. Gosto de todo o tipo de humor. É algo que a minha mulher me diz às vezes: será que estou a falar com o Deadpool ou com o meu marido? É, portanto, uma personagem muito perto de mim. Talvez perto demais.
Actor vs produtor
Em Deadpool desenvolvi o projecto para além de o protagonizar. Foi um caminho um pouco diferente daquele que a maioria dos actores toma. Eu tinha uma ideia muito específica do que gostaria de fazer e de como o fazer.
Mesmo com um orçamento minúsculo, aquele que muitos filmes de super-heróis usam em drogas ilegais… (risos). Foi com esse dinheiro que fizemos o nosso filme.
Mas tendo o coordenador de efeitos especiais visuais como realizador permitiu-nos colocar o filme no mesmo escalão dos filmes que custam 150 milhões, ainda que o tivéssemos feito por quase nada. Ao produzir o filme tinha de assegurar que todos os tostões que nos deram tinham de estar no ecrã.
Acabou por ser algo criativo. O que queria era que o fã mais intenso de Deadpool ficasse satisfeito. Foi esse o meu papel.
É verdade que existe algum conflito. Isto porque o Ryan produtor acha que o Ryan actor é um perfeito anormal. É um prima dona, o trailer dele é enorme… (risos) Não, eles dão-se bem, pois tinham os mesmos objectivos. Por vezes temos de reconciliar as coisas. Mas o produtor ganhou neste caso. Fui um bom patrão de mim próprio.
Classificação etária
Do meu ponto de vista, os produtores são um verdadeiro empecilho nos sets. Consomem oxigénio e comem mais. Mas alguns podem também ser bastante práticos, se estiverem dentro do material e interessados podem protege-lo.
Foi esse o meu papel. Mas, sim, tivemos imensa pressão para a classificação do filme. Orientá-lo para um público juvenil, onde faríamos muito mais dinheiro. Tivemos mesmo muitos pais a pedirem-nos para fazermos o filme para 13 anos. Como achamos que não faríamos justiça à personagem preferimos ter menos dinheiro para fazer o filme mas fazê-lo como desejávamos.
Mesmo que isso implicasse perder parte significativa do público. Quisemos mostrar o Deadpool como é verdadeiramente.
Reacção do público feminino
Acho incrível que se pense que os filmes de comicbooks são apenas para rapazes. Conheço muitas raparigas que gostam destes filmes, tenham ou não um contorno romântico. Acho que o filme cobre todo o espectro, desde acção, comédia, romance… Só acho que o teor do filme sendo mais ousado faz com que seja destinado a um público mais maduro.
Trabalho com Gina Carano
A Gina Carrano é uma lutadora muito talentosa, ela interpreta a Angel Dust no filme. Agora, eu sou uma pessoa muito física e gosto de ir até ao fim e de me sujar se for preciso e fazer eu próprio as cenas sem usar duplos.
Há uma cena em que estou suspenso pelos braços e ela me dá socos no estômago. Tive de lhe implorar para ela me acertar um pouco. Mas quando me acertou quase que vi o meu avô defunto… (risos)
Não sei porque ela não continua a lutar, ela é mesmo boa. Mas o que é mais incrível, é que estas pessoas são muito simpáticas, muito mais que um pacifista. Quando a vemos ela é muito queridinha, mas nem sonhamos como é durona.
Green Lantern vs Dead Pool
É difícil a comparação. O Deadpool tinha um guião ao passo que o Green Lantern não tinha… (risos). É algo que às vezes acontece. No entanto o Green Lantern tinha um cartaz, um realizador e um actor, mas o estúdio decidiu evoluir a acção à medida que o filme avançava. No entanto, essas são circunstâncias difíceis para trabalhar e produzir um filme.
O filme Lanterna Verde foi uma experiência algo frustrante, mas todos trabalhámos muito, ainda que todos tivéssemos ficado com a ideia de que o filme nunca seria aquilo que esperávamos. Já no caso do Deadpool, o guião foi escrito há seis anos por mim, pelo Reth Reese e pelo Paul Wernick, em conjunto, e devo dizer que muito pouco foi alterado nestes seis anos. Depois de termos chegado a uma versão muito boa do guião, deram-nos algum dinheiro e pediram-nos para fazermos um teste filmado.
Algo que fizemos e que foi ignorado durante mais três anos. Até que há um ano e meio atrás esse pedaço apareceu na internet e teve uma reacção incrível dos fãs, fez com que o estúdio acabasse por o aceitar. Houve, portanto, um braço de ferro enorme. Mas os fãs são a verdadeira razão pela qual o filme acabou por ser feito. Foram eles que forçaram o estúdio a dizer que sim e a dar-nos apenas o dinheiro indispensável para o fazer. Foi o que fizemos.
Parceria com o universo Marvel
Claro que gostaria de fazer uma equipa com o Homem-Aranha. Gostava de lhe poder fazer um high five na cara! (risos). Mas isso é mais complicado do que parece. São estúdios diferentes que detêm os direitos.
Há planos para fazer uma equipa com o Deadpool, mas neste momento não posso adiantar mais nada. Apenas sei que Hollywood gosta de copiar tudo o que funciona. Por isso, se funcionar, é natural que apareça mais. Acho que será possível vermos mais figuras de comicbook aparecerem em versões mais ousadas.
Conteúdos extra
A verdade é que para cada gag, escrevemos mais dez, por isso chamo já a atenção para a edição digital. É claro que por algumas piadas somos mesmo capazes de ir presos. A verdade é que o filme deu-nos imensas possibilidades. Podíamos dizer o que nos desse na real gana. É esse o super-poder de Deadpool, ele pode dizer o que quiser.
Bónus do trabalho
Acho que aumentei muito a minha lista de palavrões, acho que consigo insultar pessoas de forma muito mais elaborada; não aprendi a tocar instrumentos, mas consegui que um duplo me ensinasse a fazer um flic-flac para trás. O que é fantástico.
Sequela Deadpool
Para mim tem sido uma longa jornada. Há dez anos que eu sou o Deadpool, só que ninguém estava a filmar, por isso poderei estar mais dez anos a filmá-lo. Adorei o que fiz e a oportunidade que me deram. Acho que isso se vê no ecrã. Mesmo quando tinha de andar o dia todo maquilhado, o que significa cerca de oito horas na maquilhagem e umas 16 horas no estúdio.
Por isso é que estes dias tinham mais de 24 horas. Mas não me importaria de continuar a fazer isto até andar de cadeira de rodas.