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Quarta-feira, Outubro 9, 2024

Depressão postpartum: o que é e o que fazer

Ana Pinto-Coelho
Ana Pinto-Coelho
Aconselhamento em dependências químicas e comportamentais, Investigadora Adiction Counselling

Assim como se o bebé lhe pesasse uma unidade qualquer de peso esquisita, que não se faz de quilos e gramas.

Ao lado e com ar preocupado estava o que me pareceu ser a filha mais velha. Falava com esta mãe opaca, de olhos vazios, tentando chegar a alguma conclusão. Sai-se com uma frase do género “mãe, tu estás é com uma depressão pós-parto, é o que é. Vamos procurar ajuda?”

Fiquei mais descansada, mas fui pesquisar para saber até que ponto é assim tão recorrente esta situação hoje em dia: é.

Apesar da depressão pós-parto ser estudada há décadas, apenas recentemente os transtornos ansiosos no pós-parto têm sido mais pesquisados e divulgados.

Já existem razões convincentes na literatura científica para se poder afirmar que o período perinatal é uma época de risco para o aparecimento de sintomas ansiosos.

Supõe-se que factores psico-sociais e hormonais estejam envolvidos na vulnerabilidade da mulher, pois é necessário que ela se ajuste a todo um novo cenário de expectativas, que lide com demandas e privações de sono.

Além disto, é um período de grandes alterações hormonais, como o aumento de cortisol e a baixa de progesterona e estradiol.

Depressão pós-parto

Episódios de ansiedade e início, com intensa apreensão, temor ou terror, por exemplo, associados a sentimentos de catástrofe iminente são denominados ataques de pânico. Durante estes ataques estão presentes sintomas físicos – muitos de nós bem os conhecemos – tais como falta de ar, palpitações, dor ou desconforto no tórax, sensação de sufoco, ondas de frio ou calor, tonturas, formigueiros…

Fala-se de transtorno de pânico quando os ataques são frequentes ou são seguidos de preocupação persistente (pode até ser acerca da possibilidade de ter outro ataque de pânico ou acerca das suas implicações ou consequências).

O pós-parto é um período vulnerável para que possa acontecer um transtorno deste tipo pela primeira vez na vida. A maior parte das mulheres que dizem isto ter acontecido, falam nas primeiras 12 semanas de pós-parto.

O pós-parto também se mostra como um período propício para “recaídas” ou agravamento do transtorno do pânico pré-existente. Ou seja: mulheres que já padeciam deste transtorno podem vê-lo a regressar ou a piorar, quer na frequência, quer na intensidade, geralmente duas a três semanas depois do parto.

Paralelamente, e a ter em conta, um pequeno estudo em Michigan, EUA, com uma amostra etnicamente diversa, revelou que “aproximadamente 15% das mulheres relataram uso de álcool durante a gravidez.

Recentes evidências adicionais mostram que o consumo de álcool está positiva e linearmente relacionado com depressão antenatal.

O beber compulsivo durante a gravidez também está associado ao tabagismo. Este documento pode ser lido na íntegra na página web da SciElo Brasil.

O transtorno de pânico no pós-parto pode causar muito sofrimento às mulheres e piora significativamente a sua qualidade de vida.

Além disso, pode interferir com a saúde do bebé, pois a mulher pode sentir-se incapaz de cuidar do seu bebé e insegura ao ficar sozinha com ele.

A avaliação psiquiátrica é imprescindível nos casos de transtorno de pânico no pós-parto.

É importante que se resolva a situação sem medo de procurar ajuda especializada. Pouco tempo depois do tratamento os ataques de pânico vão acabar e as mães vão conseguir lidar com o seu bebé de uma forma muito mais leve, natural e com toda a disponibilidade.

É bom ver no metro de Lisboa uma filha suficientemente elucidada que consegue dar uma resposta adequada à mãe e capaz de ajudar.

Muitas vezes nenhum adulto sabe aconselhar e ajudar uma mulher com depressão pós-parto. Mesmo que seja uma situação muito, muito comum!

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