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Quinta-feira, Novembro 7, 2024

Direito à greve de polícias e animais

Paulo César
Paulo César
Professor e escritor galardoado.

O partido de André Ventura propõe no seu programa eleitoral que os polícias possam fazer greve e que devem ter o direito de se filiarem num partido político. De acordo com constitucionalistas, a Constituição não proíbe o direito à greve, mas, quanto à filiação partidária, consideram haver um claro conflito de interesses.

No que ao direito à greve diz respeito, estranha-se muito que o CHEGA copie uma proposta do PCP que já antes da famosa reivindicação de 21 de abril de 1989, que ficaria conhecida como a manifestação dos “secos e molhados” devido à carga policial de polícias contra polícias com uso de canhões de água, determinada pelo Governo do PSD de Cavaco Silva e cujas imagens correram o mundo, a defendia.

O proto-candidato presidencial, Marques Mendes, no seu espaço de comentário de domingo à noite, mostrou-se horrorizado por tal proposta, considerando-a inaceitável e totalmente despropositada, que poderia pôr em causa a segurança nacional, e o candidato a deputado e salivador por se poder unir a uma coligação pós-eleitoral com a AD e chegar ao Governo da República como ministro de um novo ministério, o Ministério da Privatização Absoluta, Rui Rocha, sem óculos e com aspecto ainda mais queque (“queque” é um termos mais usado do que “beto” na cidade do Líder da IL, Braga), sem conseguir, mesmo assim, atingir o aspecto aristocrato-lambido de Cotrim de Figueiredo (depois de tirar os óculos, RR (não confundir com Ricardo Reis, heterónimo pessoano que defendia o desprendimento total de bens materiais, ao contrário de Rui Rocha que defende a acumulação de bens materiais sobretudo para quem já muitos possui) talvez pudesse acrescentar à cara uma barba de lixa como a do seu antecessor), disse ao “Jornal de negócios” que “É uma total insensatez. É absolutamente contrário aos interesses do país e aos interesses de segurança dos portugueses” e acrescenta: “Ora eu pergunto: se as forças policiais decretarem uma greve, se isso fosse possível – eu espero que nunca seja – os criminosos fazem greve? Os criminosos deixam de praticar crimes?”. Bem, neste ponto, eu acho que o Chega poderia também propor o direito à greve dos criminosos, que deveria, obrigatoriamente, coincidir com os períodos de greve dos polícias, e quanto à filiação partidária dos criminosos não me parece necessária porque a grande maioria deles ostenta orgulhosamente a sua ligação partidária, sobretudo aos dois maiores partidos do país, PS e PSD (e não me alongo sobre exemplos para não me estender em demasia, mas deixo uma questão: quem é mais incompetente: o Ministério Público que acusa ou os juízes que removem prisões preventivas e que consideram que não há quaisquer indícios dos crimes por que são indiciados as figuras de PS e PSD, tanto em Portugal continental como na Madeira?). E acrescento ainda: assim como a IL e Rui Rocha pretendem, de acordo com o seu programa eleitoral e com as palavras por si afirmadas nas rádios e televisões, a privatização do SNS e da Escola Pública (igualzinho ao primeiro Programa eleitoral do CHEGA), porque não proporem também a privatização das Polícias? Provavelmente, acabavam-se as greves e poderíamos voltar aos saudosos dias para esta gente dos tempos anteriores ao 25 de Abril de 1974, data que, sempre que ouve disparates como estes, deve chorar de tristeza e de vergonha, apesar de estar quase a fazer 50 anos.

Depois de Ventura copiar uma iniciativa que visa o direito à greve por parte dos polícias ao PCP (algo que grande parte dos polícias, incluindo os do “Movimento Zero”, desconhecem), parece que Inês Sousa Real, líder do PAN (Pessoas, Animais, Natureza), se apresta para usar esta ideia nos próximos dias de campanha eleitoral, fazendo a Ventura o que Ventura fez ao PCP. Assim, Inês Sousa Real e o PAN, depois da ideia de criarem um SNS para gatos e cães, ainda no tempo da liderança de André Silva, querem que os animais possam também ter direito à greve, filiar-se em partidos políticos e ter direito a voto.

Segundo fontes bem colocadas dentro do partido, Inês Sousa Real considera que os cães domésticos deveriam poder fazer greve e deixar de lamber os seus donos nas mãos, nas faces e nos lábios (há gostos para tudo) se, em vez do “gourmet gold” com delicioso sabor a costeleta de borrego, não lhes puserem no prato um bife do lombo e se não lhes puserem o prato na mesa onde a família faz as suas refeições; os cães pisteiros da polícia deveriam fazer greve ao farejamento de pistas se os polícias continuassem a apoiar o CHEGA ou outros partidos que não o PAN; os gatos deveriam fazer greve ao ronronar e não se deveriam deixar ficar no colo dos seus donos nem se deixarem acariciar pelos mesmos e ameaçariam atacar, selvaticamente, cortinados e sofás; canários e periquitos deveriam deixar de cantar se não tivessem direito à liberdade e pudessem voar livremente para onde desejassem e fazer aquilo que os pássaros livres mais gostam de fazer: lançar do ar, em pleno voo livre, cagadelas ácidas que corroem pintura e chaparia de carros e pintam cabelos desprevenidos de transeuntes de olhos nos ecrãs dos telemóveis; os porquinhos-da-Índia deveriam poder fazer greve à sua fofíssima forma de ser e passarem a ameaçar roer os móveis da casa  porque, sendo da Índia, é bem provável que um Governo AD apoiado pelo Chega os considere imigrantes sem contrato de trabalho e acabem por ser repatriados para o seu país, a Índia; coelhos, porcos, salamandras, camaleões, cobras, furões, hamsters e outros que desconheço, como não fazem nada de especial, acho eu, deveriam fazer greve ao nada fazer por solidariedade com os outros animais. Eu acho é que o PAN deveria repensar a proposta de filiação partidária e de voto dos animais porque, considerando que são todos animais irracionais, o mais provável é que se viessem a filiar e a votar no mesmo partido em que alguns ditos animais racionais que agem como irracionais votam: no CHEGA.

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