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Quinta-feira, Abril 25, 2024

Documentário relembra as tragédias de Hiroshima e Nagasaki

“Quando perguntavam o que eu fazia naquele momento, eu dizia que era ‘tudo o que me mandavam fazer’. Creio que eu não era educado ou sofisticado o suficiente para compreender o que isso (o bombardeio atômico) representaria a longo prazo no futuro do mundo “. Esse é o relato de Theodore Van Kirk, um dos soldados estadunidenses que soltou a bomba em Hiroshima. Sua narração ilustra o que a filósofa-política alemã Hannah Arendt chama de “banalização do mal”. Através de uma sociedade tecnocrata qualquer barbárie é justificada, pois o homem não mata alguém diretamente, ele apenas fabrica uma bomba ou dirige um avião. Em seu livro “Eichmann em Jerusalém”, Arendt conta que Eichmann, um homem que mandou milhões e milhões de judeus para a câmara de gás no período nazista se considerava apenas um burocrata que fazia o que lhe mandavam fazer, seu trabalho.

O desenho faz parte da série de mangás “Barefoot Gen” de Keiji Nakazawa um dos sobreviventes da bomba de Hiroshima. No desenho as pessoas pedem ajuda

Esse trabalho que foi feito por soldados que talvez não pensaram nas consequências de seus atos, fez com que uma das maiores atrocidades da humanidade fosse cometida. Quando a bomba que tem o poder maior que o de 20 mil toneladas de TNT foi jogada “um colossal cogumelo de fumaça envolveu a região. Corpos carbonizados jaziam por toda parte. Atônitos, sobreviventes vagavam pelos escombros à procura de comida, água e abrigo. Seus corpos estavam dilacerados, queimados, mutilados”.

O relato de Senji Yamagushi fala por si só a dor que um menino de apenas 14 anos passou:Recobrei a consciência 40 dias depois e meu corpo estava queimado e infectado, tinham que trocar as ataduras constantemente, a dor era tão intensa que eu desmaiava. O pior eram os vermes comendo minha pele, era um inferno. Os doentes ouviam as enfermeiras vindo pelo corredor e quando elas se aproximavam eles pediam para morrer, doía demais” O homem tem as costas com marcas fortes de queimadura até hoje.

Shigeko Sasamori, conta que: “meu rosto era uma bola negra, a primeira coisa que meu pai fez foi cortar meu cabelo porque estava todo queimado e depois cortou meu rosto pelas laterais e arrancou a pele que estava toda negra”. Sasamori fez cirurgias plásticas mas continua com seu rosto deformado pelas queimaduras e as mãos paralisadas. Ela diz se perguntar sempre como sua vida seria se o bombardeio nunca tivesse ocorrido: “que vida eu teria? Ela seria completamente diferente, talvez uma vida comum, conhecer um homem, casar, ter flhos, ser dona de casa”. Mas certamente as deformações e os traumas mudaram tudo.

Sakue Shimoshira conta que ela e sua irmã perderam seus pais após a bomba e a irmã criança não aguentou a dor e se jogou na frente de um trem se suicidando. Shimoshira foi até a plataforma e pensou em fazer o mesmo mas acabou não conseguindo.

Quando muitos pensavam que o pesadelo havia acabado até pessoas que aparentavam estar completamente saudável começaram a desenvolver a chamada “doença da bomba atômica” a qual nenhum médico sabia tratar. As pessoas ficaram letárgicas, desmaiavam, tinham quedas de cabelo, hemorragia, febre, manchas roxas e sentiam muitas dores. Alguns que pensavam ter sobrevivido, acabaram morrendo no mês seguinte, 160 mil pessoas morreram por consequência da radiação. Yamagushi após tudo o que tinha passado com a queimadura, teve outras sequelas: “meu anus e minhas gengivas sangravam, o fígado inchou e os rins pararam de funcionar, foi uma vida de doenças”

Por fim, muitos dos que restaram após o acontecido, sem ter para onde ir, voltaram à suas cidades. Contudo, ao invés de receber ajuda, foram apelidados de “Pika Don” e eram tratados como intocáveis ou como a escória da sociedade. Isso ocorria porque muitos acreditavam que a “doença da bomba” pudesse ser contagiosa, mas também porque sem ter como comer adultos sem emprego e crianças órfãs passavam a roubar milhos de plantios, comer animais que achavam pelos escombros.

Kiyoko Imori estava há 3 quadras do ponto de impacto da bomba. Ela perdeu sua família e foi a única sobrevivente de uma escola de 620 alunos. Ela se pergunta porque sobreviveu e acredita que foi pela missão de contar às pessoas o que aconteceu. Essa tragédia tem sempre que ser lembrada, em filmes, em documentários, em notícias e em seu triste aniversário, para que algo assim nunca volte a ocorrer. Além da dor da morte, há a dor das doenças e das marcas que foram deixadas nas histórias das famílias bem como no Japão inteiro.

O documentário termina com os dizeres: “existem no mundo armas nucleares que equivalem a 400.000 bombas de Hiroshima”.

Por Carolina Marcheti  | Texto original em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado

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