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João de Sousa

Quinta-feira, Abril 25, 2024

Eleições na Holanda: quantos deputados irá eleger o partido turco?

Hoje há eleições para o governo na Holanda (ou, mais correctamente, nos Países Baixos, porque Holanda é só uma das províncias do reino).
A Europa e uma parte do mundo está de olho nestas eleições como se elas fossem um barómetro do ambiente europeu: haverá uma viragem à direita, continua tudo estava ou será que a esquerda vai ressuscitar?

Brevemente, Alemanha e França terão sufrágios para a governação do país e interessa saber em que pé ficamos. (dizem os politólogos, eu acho que não há nada como esperar para ver). Para quem quer saber antes, as previsões são complicadas – há um empate entre direita e extrema-direita neste momento. Pois é, a Holanda (ficou-me o hábito) deixou de ser um país de esquerda, tolerante e cheio de preocupações sociais há muito anos. A direita está no comando desde os anos 80 , mas os turistas ainda não repararam.

Eu compreendo (alguma) Holanda e o Rentes de Carvalho porque vivo cá, mas fiquei chocada quando cheguei, há 12 anos e não tinha experiência desta sociedade multi-tudo. Como isto é um artigo de opinião, eu posso explicar . Acredito que todos os humanos têm o mesmo valor e merecem o mesmo respeito mas a convivência pacífica só é possível se todos respeitarem este princípio. O que é uma utopia. (Quem é que não se acha melhor do que o vizinho exibicionista? Pensem 30 segundos…)

A realidade é que a Holanda aceitou ao longo dos anos muitos emigrantes turcos, marroquinos, indonésios (antigos súbditos) e antilhanos (idem aspas). O dois últimos já estavam habituados às regras holandesas – iguais para todos – e adaptaram-se, mas marroquinos e turcos vieram sem nunca pensar em mudar de hábitos. Para eles a Holanda não era Roma (faz como eles…) era só para ganhar dinheiro e a maioria destes grupos manteve até a sua nacionalidade enquanto pôde.

Acontece que os holandeses são extremamente educados e aguentaram a irritação durante muito tempo. Eu diria mesmo que eles foram demasiado tolerantes. O desrespeito pelas mulheres (suas e dos outros) desprezo pelos não muçulmanos, completa incompreensão do termo “público”, com o que isso implica de partilha e vivência social. Este abuso foi mal digerido durante anos, sem que a classe política, no geral, tivesse reparado. A situação tornou-se evidente quando Pim Fortuin foi assassinado em 2002. Este político radical era contra a “islamização” do país e um obcecado de esquerda não gostou. “Somos todos iguais, não se pode discriminar ninguém”… e toma lá uns tiros. Grande surpresa: havia muitos que, discretamente, detestavam tanto Islão. Após o assassinato, sentiram-se encorajados a votar do mesmo lado de Fortuyn (à direita) para mostrar o seu descontentamento. Até agora.

Hoje a luta é entre o primeiro-ministro de um partido de direita – o VVD (sigla de palavras dificeis de pronunciar) e Geert Wilders, um loiro oxigenado líder do partido de extrema-direita PVV. (Wilders, juntamente com Trump, Boris Johnson e Marie Le Pen constituem o grupo de políticos loiros que preocupam muita gente.)

Com três dezenas de partidos na Holanda, é muito difícil algum deles conseguir uma maioria absoluta, pelo que o governo é quase sempre uma coligação. (Wilders chegou a estar num governo mas pediu para sair…) Assim, o ponto fulcral consiste nas alianças possíveis e apesar de Wilders estar empatado com o primeiro-ministro, este garante que com o loiro não governa. Poderá fazer uma aliança, de novo, com um partido civilizado. Tudo mais ou menos como dantes.

Ou não?

A bronca com a Turquia trouxe a questão dos muçulmanos, de novo, ao de cima. Apesar de as previsões de voto não assinalarem mudanças que possam estar ligadas ao conflito, há já um facto: os turcos têm o seu próprio partido e vão conseguir um deputado, pelo menos, no parlamento. Trata-se do partido Denk (o que significa Pensa ou Pensamento), que apareceu da cisão de um grupo de um partido liberal. Tornaram-se partido para estas eleições e vão ter um deputado. (O Partido Pirata também, diga-se).

Sendo assim, vamos ter no parlamento alguém a defender a submissão feminina às leis religosas (o que implica coisas tão diversas como uma rapariga não poder cumprimentar um homem com aperto de mão, ter de andar de cabeça coberta ou submeter-se à mutilação genital, por exemplo). Claro que o Denk não se afirma como partido turco ou muçulmano: a chave está na defesa prioritária do “princípio da aceitação” contra o “princípio da integração”. Também querem uma polícia anti-racista.

Eu, que já me habituei a ser pontual, sempre dei os bons dias, nunca deitei lixo para o chão e quase vomito quando vejo escarrar, fiz uma jura: assim que não me deixarem andar de saias, com as pernas à vista, vou embora. Comigo irá a cultura ocidental. E não deve faltar muito.

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