Ia sendo atropelada, privada de futuro, vá, a menina de 13 anos, fardada com saia por cima do joelho e meia até às rodillas, pastinha de marca e cabelo à dass. Sai do BMW distraída, a pensar em Martin, decerto, aspergida de manhã com um qualquer Channel e uma Dama de Copas que mal lhe deitava mão ao peito.
Está nos Marianistas ou nos Falsesianos, colégios de upa-upa que o papá e mamã pagam com o fervor de esmerado gosto: a Maria João há-de um dia ser CEO ou CPP ou mesmo CTT de uma empresa, se calhar a do pai, uma multinacional cheia de empreendedorismo e resiliência. Ia sendo atropelada e depois deitou um olhar furioso ao Toyota com dez anos que lhe limpou o pó das pinças e do colarinho debruado, como se fulminasse o pendura.
Maria João anda de farda aos 13, o que é pena. O bibe ainda se percebia: babava-se, deixava cair a coxa de frango entre dentes, o creme de legumes vinha fora porque a menina não gostava de ervilhas e daquelas “coisas a boiar na água”, enquanto a “empregada” ia com uma pinça para a cozinha passar o caldo e cuspir na sopa.
Com a moda, ficou de uniforme. Lá no colégio, felizmente, dizem que assim se tornam “todos iguais”. Não espanta que Maria João (Majó para as amigas) adore já os das Tunas, todos de preto, viola na mão, ai mulheeeerrr goooorda…
O problema que Majó desconhece é que o uniforme lhe está a criar uma cena defeituosa na cabeça: no local de trabalho não são todos iguais, na cidade também não. Mais ainda: o hábito faz dela monge e a caverna de super-protecção onde a meteram vai germinar-lhe na tola a bactéria da superioridade.
Quando chegar à idade de levar umas palmadas no rabiosque, que não do papá e da mamã, mas do Martin, desejará ir para a Universidade pública (porque essas é que são boas e dão gabarito) e estar-se-à marimbando para quem pagou aquilo. (Quem paga é o papá e a mamã, Majó, se não tiverem o guito no Panamá).
Particular ou privado, pouco importa, o colégio é uma barbaridade: já nem no Simcity se admite escolas privadas, a não ser as religiosas. Ide ver, não se inventa nada nesta casa.
Mas Majó, que giiiraaaa, não lhe passa pela cabeça que quem, na verdade, lhe paga o uniforme e os gouache pébéo, é o funcionário público que ganha 700 líquidos e desconta, desconta, reconta o dinheiro para a régua do filho que se partiu por causa da porrada na escola Teip. Já ouviu falar dos funcionários públicos? São aqueles de bigode a quem a mamã chama de preguiçosos, querida.
Majó não imagina que o frango na púcara e a farda custam 532 euros por mês a todos nós. Isto é: a menina anda a viver à custa dos que não têm (nem querem) entrar nos Colégios da Floresta, nos Colégios Modernasses, Na Caixa Geral do Oh Perário! A menina não, os papás…
Diz que agora escreveram cartas a queixar-se que, sem dinheiro do Estado, o ensino particular não funciona.
Ora porra, digo eu. Se é privado (e todos somos cínicos para dizer, oh, a iniciativa privada, claro), então financiem-se com o dinheiro pri-va-do! Não compre o BMW, ó papá, compre o Toyota. Ou ande de metro, como as pessoas normais fazem.
Ide queixar-vos ao Santander Totta, que enquanto criam monstros fardados e enfiam dragões que fazem filhos nas cabeças dos pequenos estais proxenetizando-nos. E, para isso, levamos um pedaço mais.
(não foi muito violento, pois não?)
Se foi, lá vai quadra:
As tuas pernas-dim, que sedução
Cobiço esse sexo sloggi, sim
ao teu triumph(al) peito a mão
mas levo um estalo e ainda te ris de mimChamo-me Dinis, sou o Rei dos Botões
só as etiquetas me dão sensações
Deixa ver a marca da minha emoção
Não digas que nãoDesejo esses seus lábios com cibelle
ah, delicados pulsos-cartier
o cheiro do teu corpinho com channel
os teus bonitos ombros são gaultier
(mas a menina tá linda. vai com o Martim ao coro? ai sim? beijo, fôfa)