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Sexta-feira, Abril 26, 2024

A Escola produz Infelicidade e Ignorância …

Paulo Vieira de Castro
Paulo Vieira de Castrohttp://www.paulovieiradecastro.pt
Autor na área do bem-estar nos negócios, práticas educativas e terapêuticas. Diretor do departamento de bem-estar nas organizações do I-ACT - Institute of Applied Consciousness Technologies (USA).

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Na escola pensada como sala de aula, segundo ele, nada se aprende. “Repito, nada se aprende e posso provar” isso mesmo. A escola terá de partir das necessidades reais dos alunos, dos seus sonhos. Não da planificação de um professor que tem como objectivo dar a aula, diz Pacheco. “Planificar é inútil, dar a aula é inútil e isso já se sabe desde o final do século XIX”. “É a própria escola que produz infelicidade e ignorância.”.

Para ele, a escola são pessoas a aprender umas com as outras. E, isso pode acontecer com os professores, numa empresa, na praça, na internet…. Tudo contribui para que o aluno, um cidadão em projecto, à procura de algo, possa concretizar o desafio de apender, isto através das indispensáveis condições técnicas e humanas.

José Pacheco, pedagogo, antagonista ao modelo industrial de educação em prática, é conhecido por ser o responsável pela criação da “Escola da Ponte”. O projeto português de pedagogia com maior reconhecimento internacional. Mas, isso foi há 40 anos, diria ele…

O pântano …

Por que não muda o ambiente escolar? Tal acontece, pois “os professores estão demasiado preocupados em sobreviver”, os “próprios alunos preferem a aula a ter de aprender. Os pais, a sociedade, está convencida que existe uma boa razão para que assim continue”. Até “o poder público tem vindo a colocar o destino da educação nas mãos de pessoas que não percebem nada do tema”. Todos nos recordamos dos muitos ministros que chegam à tutela da educação sem ter sequer currículo na área. Depois, a “formação de professores é péssima”…

Pacheco realça que, apesar de capazes, os professores não se lhe opõem porque “ estão numa fragilidade incrível e as direções das escolas são direções burocráticas.”

Assumindo que a maioria dos directores de escola em Portugal, ao estar há muitos anos fora da sala de aula, delegam as suas competências pedagógicas, esquecendo que também eles devem partir, sempre, da pedagogia e não de regras de gestão corrente. Então, as escolas ‘passaram a ser dirigidas administrativamente e não pedagogicamente”. As “ escolas têm de ser geridas pela pedagogia não pela burocracia.”

E, ninguém quer saber…

“O que se aprende na escola é a conformidade, a obediência cega, a competitividade negativa. Tudo, aquilo, que não deve ser desenvolvido pelo ser humano. Por isso o direito à educação tem sido negado.”. Ela “cria entidades abstratas, trabalha no vazio constitutivo, no ensino directo para alguém que não existe: o aluno médio.”. Todos sabemos que assim é. E, por que ninguém quer saber?!

As escolas replicam um modelo em que é obrigatório estar dentro de uma sala de aula. “Onde é que está escrito isso? Em lado nenhum… A lei diz que é obrigatória a matricula. Não é obrigatório estar sequestrado dentro de uma sala de aula, 800 horas por ano , onde não se aprende nada”.” Em nenhum lugar da lei diz que é obrigatório estar dentro de uma “cela de aula”…

1976 …

Desde esse ano na “Escola da Ponte” não existem turmas. Nem ano, nem salas de aula,…, já que para o seu criador, estes dispositivos são um escândalo epistemológico.

Para ele as escolas são pessoas. As pessoas são os seus valores. Quando esses valores são transformados em cartas de princípios, assumindo premissas de acção em escolas de vida , criam-se projetos de comunidade. “É assim que se aprende…”

“Aquilo que o professor ensina não é aquilo que ele diz mas aquilo que ele é. O professor sozinho na sala de aula não é autónomo. É apenas autossuficiente. Ele não transmite aquilo que diz , transmite aquilo que é.”. Quanto vale um professor que só pode ensinar sobre si mesmo perante uma escola que se esqueceu de o ser?

Na escola hierárquica, o “professor perdeu o norte, perdeu a autoridade dentro da sala de aula e todos sabemos por que é que eles adoecem”. Por exemplo no Brasil há já neste momento “escolas que foram entregues a militares por causa da violência, impondo a marcha , a continência,…, critérios militares que não são os da escola.“

Uma escola tem de ser fraterna. “Não se pode “educar para a cidadania”. Só poderemos “educar na cidadania”. No exercício da liberdade responsável (…) não pode haver uma hierarquia explicita pois isso não gera democracia mas sim dependência.“

Desta conversa fica-me, ainda, a mágoa. Numa sociedade íntegra José Pacheco seria já Ministro da Educação! Assim se compreende que Portugal continue a ser um país adiado…

A terminar deixo duas recomendações. A primeira, para aqueles que queiram saber mais sobre a Nova Educação. Poderão contactar a organização Ecohabitare no Brasil. Em Portugal a Rede Educação XXI . A segunda, e não menos merecida, dizer que este texto foi escrito com base numa conversa, mais ampla, onde também colaborou ativamente o Nelson Abreu, responsável pelo programa de rádio ConsciousnessFM, na KPKF ( Los Angeles – EUA) e, ainda, pelo podcast CONS-CIÊNCIAS . Esta entrevista estará disponível em formato áudio dentro de algumas semanas.

Nota do Director

As opiniões expressas nos artigos de Opinião apenas vinculam os respectivos autores e não reflectem necessariamente os pontos de vista da Redacção ou do Jornal.

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