Segundo Pedro Luiz Côrtes, depois de 50 anos desse modelo, o avanço da mineração na região mantém o ambiente na miserabilidade, afeta o clima, como também demonstra a falta de compromisso do governo com a preservação ambiental.
O general Augusto Heleno, ministro do gabinete de Segurança Institucional da Presidência, autorizou o avanço de sete projetos de mineração para a exploração de ouro em áreas preservadas da Amazônia. A área, conhecida como cabeça de cachorro, fica a mais de 800 km de Manaus, próxima às fronteiras do Brasil com Colômbia e Venezuela. Trata-se de uma das áreas mais preservadas da Amazônia e é caracterizada pelo grande número de terras indígenas.
“Qual o preço da não preservação, o preço do meio ambiente devastado?”, questiona Pedro Luiz Côrtes, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP. A desculpa que os militares usam de proteger a região da internacionalização da Amazônica, quando esse tema nunca foi pauta de debate em organismo internacionais.
A decisão tomada pelo ministro está alinhada com o histórico herdado da ditadura militar, que vê a floresta amazônica como uma fonte de recursos primários como minério e madeira, que ele considera uma visão atrasada. Para Côrtes, o atual governo possui implicações com medidas que preservem o meio ambiente, justificando que isso impede a exploração de recursos naturais que podem trazer benefícios ao País.
“Por outro lado, ele esquece todos os serviços ambientais que a floresta ativa, a floresta íntegra, presta para o Brasil e para os demais países”, afirma o professor, ao destacar o papel que a floresta possui na regulação do clima nacional e mundial. A redução de chuvas na região central do pais é um dos efeitos do desmatamento.
Ele também ressalta que, ao expandir a exploração de minérios, haverá um aumento de possíveis conflitos com povos indígenas que moram naquelas regiões. As atividades intensivas de mineração também promovem aumento do tráfico de drogas na região, principalmente pela proximidade com fronteiras internacionais.
“É interessante como o governo, seja por omissão ou atos diretos, se mostra conivente com a grilagem de terras da União, a exploração ilegal de madeira e o garimpo ilegal”, afirma Côrtes, ao explicar que, ao permitir a exploração ilegal de recursos na Amazônia, na realidade, o governo causa danos à União.
“Isso é um problema que merecia atenção do Conselho de Defesa Nacional, porque áreas públicas estão sendo dominadas por grandes grupos de desmatadores, de grileiros, de garimpeiros, sem que haja uma fiscalização efetiva sobre o que está acontecendo nessas áreas”, conclui Côrtes.
“Parece que quando tem ilegal no nome, tem o apoio do governo. O garimpo ilegal explora recursos da União sem qualquer retorno ao estado, além de ser uma atividade pouco eficiente com muita perda do material explorado, causando poluição, açoreamento de rios, contaminação de mercúrio, além de supressão de matas”, pontua ele.
“Não há qualquer benefício para o país nesse tipo de exploração depois de 51 anos desse modelo, com muito desemprego, trabalho análogo a escravidão e baixo desenvolvimento humano nessas regiões”, declara ele.
por Cezar Xavier | Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado