
Os mano
E aí, como vai mano? Esta foi a pergunta que Joanilson fez ao colega, conhecido desde a infância, quando se encontraram por acaso em um ruela na periferia onde moravam. O papo foi rápido, o conhecido precisava “fazer um serviço” e seguiu seu caminho.
- 25 Julho, 2017
- Christiane Brito, em São Paulo
- Posted in Sociedade
- 2
pub
Na mesma noite, Joanilson soube que seu primo havia sido assassinado em um acerto de conta de gangues. “Esse tipo de coisa é comum na periferia mais pobre e a gente só sabe daquilo nos guetos, a polícia não toma conhecimento”.
Joanilson ficou muito abalado, mais ainda quando o colega de infância confessou que ele havia matado o seu primo durante o tal serviço, encomendado. Então abraçou o amigo e chorou, arrependido. “Tudo bem, cara, eu não vou te julgar”, respondeu o garoto que já convivia há longa data com o sofrimento dos miseráveis.
Mais dois dias e o assassino, menor, resolveu se entregar. Prova de caráter, alguma dúvida? Foi à delegacia e, de lá, encaminhado à Fundação Casa, onde ficou preso.
Joanilson tornou-se policial militar, chegou a se corresponder com o colega durante anos até seus caminhos se descruzarem. Soube muito depois que o jovem fora solto, mas escolhera a marginalidade e tinha se tornado mesmo um bandido.
Perguntei: “Um garoto que assassinou outro, foi condenado, consegue trabalho, tem alguma oportunidade de mudar de vida?”
Não! É a única resposta possível, penso.
Joanilson é um rapaz diferente, poeta, sensível, pensa um segundo e responde: “Não!”
Share this
About author
Jornalista, escritora e eterna militante pelos direitos humanos; criou a “Biografia do Idoso” contra o ageísmo. É adepta do Hip-Hop (Rap) como legítima e uma das mais belas expressões culturais da resistência dos povos.