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Terça-feira, Março 19, 2024

Os crentes, os prosélitos e os outros

Beatriz Lamas Oliveira
Beatriz Lamas Oliveira
Médica Especialista em Saúde Publica e Medicina Tropical. Editora na "Escrivaninha". Autora e ilustradora.

Há quem acuse os chamados crentes de fazerem acreditar ao mundo que a raça humana está em vias de extinção. Há razões para acreditar que esses medos não são exagerados. A ameaça da mudança climática está a forçar milhões de seres humanos em todo o mundo a enfrentar realisticamente um futuro em que as suas vidas, no mínimo, podem a vir enfrentar desafios inultrapassáveis.

Lembro-me de há 10 anos ter estado no Sri Lanka onde viajei durante três semanas com uns amigos, sendo um deles das Ilhas Maldivas.

O A. Shamil era estudante e foi a primeira pessoa que me disse que as Maldivas iriam desaparecer do mapa e que a Austrália já tinha prometido aos seus cerca de 400 mil habitantes acolhimento quando essas circunstâncias chegassem.

Nos EUA várias cidades estão em risco Miami, Raleigh, North Carolina. Raleigh, Kissimmee, Florida, San Marcos, Texas, Sugar Land, Texas.

No Egito, Alexandria pode desaparecer, no Japão, Osaka pode ir pelo cano abaixo, na China estão em risco Xangai e Hong Kong. Na Ásia países densamente povoados com populações costeiras em risco: Bangladesh, China, Índia, Indonésia, e Vietname.

Na América Latina e nas Caraíbas calcula-se que 29 – 32 milhões de pessoas serão afectadas pelo aumento do nível do mar porque vivem abaixo desse limiar. As Bahamas, Trinidad e Tobago têm pelo menos 80% da sua superfície  abaixo do nível do mar.

O IPCC, ou seja, o  Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas é um órgão  das Nações Unidas, dedicado a fornecer ao mundo uma visão científica e objetiva das mudanças climáticas, seus impactos e riscos naturais, políticos e económicos e possíveis opções de resposta.

Os relatórios e os redatores do IPCC são públicos e conhecidos. Tem 195 membros.

86 Autores e Editores de Revisão de 39 países foram selecionados entre 560 especialistas indicados por Governos, Organizações Observadoras e Membros  do IPCC entre os que foram recebidas e o relatório final foi aprovado na 48ª sessão (Incheon, República da Coréia, 1-5 de outubro de 2018).

Por exemplo o Brasil é representado por Roberto Schaeffer, da Universidade do Rio de Janeiro, Marcos S. Buckeridge e Patricia Fernanda Pinho, ambos da Universiadade de S. Paulo. Não vejo nenhum cientista português no IPCC.

Talvez os cientistas portugueses não sejam crentes na teoria da catástrofe!

Todos podem ler o dito relatório em Global Warming of 1.5 °C

Sendo o principal culpado pelas mudanças climáticas o sector de combustíveis fósseis, não seria melhor lermos todos mais, procurarmos todos mais informação e não só a informação que mais nos alivia o medo ou limitarmo-nos a assobiar para o ar enquanto aliviamos a bexiga?

Desancar a Greta e declarar que uma adolescente activista é mal criada não vai resolver o problema que o Planeta Azul enfrenta, embora imagino que acalma o medo instintivo de uma catástrofe.

Ao mesmo tempo, tecnologias emergentes de engenharia genética e inteligência artificial estão a dar a uma pequena elite tecnocrática o poder de alterar radicalmente o homo sapiens até ao ponto de a espécie não se assemelhar mais a si mesma. Estamos no início desse processo.

Assim como há muito tomamos por garantida a estabilidade do planeta, da mesma forma tomamos por garantida a estabilidade da espécie humana. Existem agora tecnologias emergentes que põem em questão suposições muito fundamentais sobre o que significa ser um ser humano.

Tomemos, por exemplo, tecnologias de engenharia genética como o CRISPR. Eles já estão entrando em vigor, como vimos recentemente na China, onde um par de gêmeos nasceu após ter seus genes modificados no embrião. A tecnologia CRISPR é uma ferramenta simples e poderosa para editar genomas. Permite que os pesquisadores alterem facilmente as sequências de DNA e modifiquem a função dos genes.  A proteína Cas9 (ou “associada ao CRISPR”) é uma enzima que age como um par de tesouras moleculares, capazes de cortar fios de DNA.

Entre o colapso ecológico e os avanços tecnológicos, os seres humanos podem dizer_O diabo que escolha!

Mas penso que os crentes não divinizam nem o diabo nem as alterações climáticas.

A composição química da atmosfera está alterada, a temperatura do planeta subiu 1 grau Celsius, metade do gelo do verão no Ártico derreteu e  mares e  oceanos estão 30% mais ácidos. Secas, incêndios, inundações, alterações meteorológicas bruscas abalam a vida diária de milhões de pessoas.

Vamos continuar a dizer que a Greta é mais uma exaltada como foram outros, antes dela, apelidados de loucos, porque incomodavam? Ou porque faziam medo?

Ou vamos todos tentar saber mais do que realmente se passa?

Crentes, prosélitos e indiferentes, ele há de tudo.

Dizem que é isso que faz a riqueza da humanidade: a DIFERENÇA.

Ilustração: A Sonhadora, de Beatriz Lamas Oliveira


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


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