Diário
Director

Independente
João de Sousa

Quinta-feira, Abril 25, 2024

“Já feito e ainda por fazer”

Maria do Céu Pires
Maria do Céu Pires
Doutorada em Filosofia. Professora.

A evocação de certas datas da História pode, a dado momento, tornar-se mecânica, artificial e, no caso de estar muito afastada no tempo, com um significado bastante esbatido.

Contudo, essas celebrações são fundamentais para manter a memória das comunidades humanas, sem a qual não há identidade pessoal nem social. Não entender a importância da memória colectiva no reforço dos laços sociais, na coesão dos grupos e na compreensão do que somos e, por consequência, das metas que podemos colocar, é um alheamento que não pode ser tolerado a quem tem responsabilidades políticas numa democracia. Bem pelo contrário, trata-se de um dever cívico que por todos/as deve ser assumido.

O 25 de Abril de 74 é uma das datas mais marcantes da História portuguesa do século XX. Esquecer isto é não entender nada de nada. Celebrar esta data é celebrar a liberdade – valor intemporal – e não entender isto é não compreender mesmo nada do que é a vida colectiva!

Há determinados valores que devem ser transmitidos de geração em geração, para que a identidade de cada um quer como indivíduo, quer como membro de um grupo, se estruture. Esta transmissão pode e deve ser feita de diferentes formas e a diferentes níveis. Se olharmos para o que se passa à nossa volta, reconhecemos com facilidade quais são as consequências, quando no processo de socialização dos jovens, se verifica a ausência de valores, particularmente dos éticos. A falta de referências gera indiferentismo e este está na origem do vazio que é porta aberta para propostas radicais, de violência extrema como é o caso do terrorismo. (Os valores transmitidos podem ser discutidos e colocados em questão, mas a sua aquisição, nos primeiros anos de vida, é fundamental!).

Assim, seria positivo verificar um maior empenho nas celebrações do 25 de Abril e que estas não se limitassem a repetir um pequeno cerimonial do politicamente correcto, mas que fossem elevadas à categoria de “memória viva”, de modo a permitir aos jovens uma maior e melhor compreensão da sua história. Também seria interessante fazer de cada dia um dia de celebração, exercendo o legado maior de ABRIL – a liberdade. Porque, como disse o poeta Manuel Alegre: “Abril já feito e ainda por fazer”. Sempre!

 

Receba a nossa newsletter

Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a nossa Newsletter. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.

- Publicidade -

Outros artigos

- Publicidade -

Últimas notícias

Mais lidos

- Publicidade -