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Quarta-feira, Março 27, 2024

Centro-direita pode vencer a eleição grega

José Carlos Ruy, em São Paulo
José Carlos Ruy, em São Paulo
Jornalista e escritor.

Kyriakos Mitsotakis pode pôr fim à era de coligações frágeis com vitória decisiva, sugerem pesquisas de opinião.

por Helena Smith*, no The Guardian

À medida que o sol se põe sobre a Acrópole, banhando o monumento à luz suave de um entardecer, Kyriakos Mitsotakis sobe ao pódio num clima exultante. O pano de fundo pode ser o local mais famoso da antiguidade, mas antes dele há um mar azul e branco, a cor da bandeira grega sendo agitada pela multidão.

O homem prestes a se tornar o próximo primeiro-ministro da Grécia entra em cena. “No domingo a Grécia ficará azul, o azul do céu, o azul do mar”, diz. “No domingo nós votamos, na segunda-feira viramos uma página.”

Três dias antes da eleição, o líder da oposição está em alta. A democracia pode produzir resultados inesperados. Todas as pesquisas apontam para a vitória da Nova Democracia, de centro-direita, de Mitsotakis, e a maior parte delas sugere que o partido está a caminho de conquistar a maioria absoluta, numa mudança significativa para um país que, na última década, foi governado por coalizões frágeis.

Na quinta-feira (28/6) uma pesquisa do instituto Pulse mostrou que os conservadores têm oito pontos percentuais à frente do esquerdista Syriza. Se vencer, a Nova Democracia terá entre 155 e 159 cadeiras num parlamento de 300 lugares, repetindo seu desempenho espetacular nas eleições européias de maio, que levou o primeiro-ministro Alexis Tsipras a convocar a eleição três meses antes do previsto.

Mitsotakis, filho de um ex-primeiro-ministro que enfrentou acusações de corrpção e nepotismo, ganhou de novo a confiança popular.

Com o vento favorável, o ex-banqueiro Mitsotakis fez uma campanha incansável, arregaçando as mangas e atravessando o país para ouvir os problemas dos gregos comuns. Em uma nação há muito tempo na linha de frente da crise financeira da Europa, ele se concentrou principalmente no rejuvenescimento econômico, prometendo reduzir os impostos, atrair investimentos estrangeiros e criar empregos.

“De pé neste chão sagrado, eu me lembro dos antigos”, disse à multidão na noite de quinta-feira (28/6). “O poder não é o objetivo; é apenas uma ferramenta para melhorar a vida dos cidadãos.”

Mitsotakis foi agraciado com a reabilitação de um dos partidos conservadores mais tradicionais da Europa, que ha não muito tempo foi associado ao clientelismo e às políticas corruptas que teriam causado os problemas financeiros da Grécia endividada.

“O que estamos vendo é uma vitória pessoal de um líder reformista liberal. De muitas maneiras, a Nova Democracia é uma parte desacreditada, responsável pelos problemas que levaram a Grécia aos programas de resgate”, disse o analista político Aris Hatzis. “Ele se tornou um orador muito melhor, muito mais relaxado, muito mais confiante.”

Depois de quatro anos e meio do governo de esquerda de Tsipras, os mercados também comemoram a perspectiva de que um governo pró-negócios voltae ao poder. O custo de empréstimos em Atenas baixou e atingiu mínimos recordes desde a eleição europeia de 26 de maio.

No comício de quinta-feira – o único que fez em Atenas – Mitsotakis pregou sua mensagem mais urgente: a necessidade dos gregos saírem de casa para votar. Embora o homem de 51 anos tenha adotado uma abordagem mais consensual, prometendo representar “todos os gregos como primeiro-ministro, independentemente de apoiarem-nos ou não”, o espectro do baixa comparecimento ronda as pesquisas. A eleição é a primeira desde o colapso do regime militar em 1974, a ser realizada em julho, um mês em que os gregos saem de férias ou passam os fins de semana na praia. Com a Grécia nas garras de uma onda de calor, há a preocupação de que muita gente poderá deixar de votar.

A capacidade de Mitsotakis de ganhar uma maioria ativa também dependerá do desempenho dos partidos menores. À direita, a Nova Democracia enfrenta a concorrência do neo-fascista Golden Dawn e do ultra-nacionalista Solução Grega, que canalizou a ira contra o controverso acordo de troca de nome firmado com a Macedônia do Norte no ano passado.

“Os partidos menores, incluindo o MeRA25, de Yanis Varoufakis, foram responsáveis por 20% dos votos nas eleições europeias”, disse o pesquisador Ilias Nicolacopoulos. “A Nova Democracia vai pegar a maior parte disso, mas no final das contas, muito se resumirá ao comparecimento”.

Os quadros do Syriza expressaram temores crescentes de que Varoufakis, ex-ministro da Economia de Tsipras, também represente uma ameaça ao partido que assumiu o poder em 2015, prometendo acabar com a austeridade exigida pelos credores. Varoufakis, de 45 anos de idade, tem apelo especial entre os gregos mais jovens. “Ele tem o fator legal”, disse Nicolacopoulos.

Atenas recebeu quase 300 bilhões de euros em fundos de resgate, o maior na história financeira global, entre 2010 e 2015, quando lutou contra a falência e tentou permanecer na zona do euro.

Quase um ano depois de encerrar seu terceiro e último programa de ajuste econômico, a raiva pela continuidade da austeridade perdura, mesmo que a crise pareça ter diminuído e que os gregos estejam menos propensos a sair às ruas em protesto.

Se a Mitsotakis ganhar, analistas dizem que esta será sua chance de remodelar a Nova Democracia à sua própria imagem. Em particular, ele se descreve como um progressista, sinalizando que colocará tecnocratas em posições proeminentes no governo.

“O escopo de sua vitória permitirá que ele tome as medidas corajosas que parece pronto para tomar”, disse Hatzis. “Se ganhar a maioria absoluta, terá um período de hegemonia política. Será sua chance de evitar tornar-se apenas outro elo de uma série de primeiros ministros de curto prazo que vimos na era do resgate”.


por Helena Smith, The Guardian  | Texto em português do Brasil, com tradução de José Carlos Ruy

Exclusivo Editorial PV (Fonte: The Guardian)/ Tornado


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