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Domingo, Outubro 6, 2024

Louis Armstrong: um mundo maravilhoso

José Alberto Pereira
José Alberto Pereira
Professor Universitário, Formador Consultor e Mestre em Gestão

Na década de 50 Louis Armstrong era um já um ícone e um embaixador cultural dos Estados Unidos. No entanto, a distância e as diferenças foram aumentando entre ele e os jovens músicos de jazz que surgiram no pós-guerra, como Charlie Parker, Miles Davis ou Dizzy Gillespie. Esta geração assumia a sua música como arte abstracta e considerava o estilo de Armstrong como antiquado. Recusando aderir ao bebop, a nova onda do jazz, Louis foi perdendo popularidade e terminou o seu contrato com a Decca Records, tornando-se um artista freelancer e gravando para várias editoras.

No final dos anos 50 Armstrong ainda mantinha um intenso ritmo de tournées. Em 1959, quando actuava em Spoleto, na Itália, sofreu um ataque cardíaco. Apesar do aviso Louis não se deteve e, depois de algumas semanas de repouso, voltou à estrada e aos 300 espectáculos por ano durante quase todos os anos 60. Actuou com grande sucesso em África, na Europa e na Ásia, sob o patrocínio do Departamento de Estado dos EUA, ganhando o apelido de “Embaixador Satch”. Chegou mesmo a actuar em 1965 nalguns países da cortina de ferro. Entretanto, em 1964 Louis gravou o seu álbum mais vendido de sempre, “Hello Dolly!”. Partindo de uma canção de Jerry Herman, originalmente cantada por Carol Channing, a versão de Armstrong permaneceu 22 semanas nos tops, tornando-o a pessoa mais velha de sempre a atingir este feito.

Em 1967 Louis gravou um novo tema, “What a Wonderful World”. Diferente da maioria de suas gravações da época, a música não inclui trompete e coloca a voz grave de Armstrong no meio de um cenário de cordas e vozes angelicais. Armstrong canta o seu coração nesta música, pensando na sua casa de Queens enquanto cantava. Apesar de pouco promovida nos Estados Unidos, “What a Wonderful World” torna-se um êxito em todo o mundo e transforma-se na sua música mais conhecida, depois de ter sido usada no filme de 1986 “Good Morning Vietnam”.

Em 1968, o estilo de vida extenuante de Armstrong vence-o finalmente. Problemas cardíacos e renais forçaram-no a não actuar em 1969, passando a maior parte do ano a recuperar em casa, mas continuando a praticar trompete diariamente. No verão de 1970, os médicos autorizaram Louis a actuar publicamente e tocar trompete. Depois de um espectáculo bem-sucedido em Las Vegas, partiu numa tournée por todo o mundo, incluindo Londres, Washington, DC e Nova York. No entanto, um ataque cardíaco 2 dias depois de um espectáculo no Waldorf-Astoria de Nova Iorque obrigou-o de novo a ficar em casa.

Aí faleceu de ataque cardíaco em 6 de Julho de 1971, tranquilamente durante o sono e pouco antes de completar 70 anos. Completara 50 anos de carreira musical, com mais de mil discos editados (70 de originais e 955 colectâneas) e participações em 35 filmes. Para além de músico, cantor e actor, Louis foi também escritor, abordando temas da sua vida pessoal e do jazz nas cartas que enviava para amigos e outras pessoas. Dono de uma escrita tão personalizada como a sua música, Louis publicou diversos livros, destacando-se a autobiografia “Swing That Music” e a coletânea de textos escolhidos “Louis Armstrong in his Own Words: Selected Writings”.

Como compositor deixou-nos temas imortais como “Stardust“, “Hello Dolly”, “Mack the Knife”, “When The Saints Go Marching In“, “Dream a Little Dream of Me“, “Ain’t Misbehavin”, “We Have All the Time in the World“, “Stompin’ at the Savoy” e, acima de todas, a belíssima letra e a interpretação única de “What a Wonderful World“.

Ficará para sempre na nossa memória o sorriso imenso, os olhos grandes e meigos, a pele negra orlada de gotas de suor brilhante, o lenço imaculadamente branco sobre o trompete reluzente, a voz rouca que canta, suave: “When you’re smiling the all world smiles with you”.

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