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Quinta-feira, Abril 25, 2024

Metro de superfície pode ser solução para a Segunda Circular?

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Nuno Raimundo

Autor de projecto de reabilitação da 2ª Circular com metro de superfície

Enquanto decorre, até ao final deste mês, o prazo para a consulta pública sobre o projecto de requalificação da Segunda Circular, o TORNADO procurou saber um pouco mais sobre o projecto desenvolvido pelo arquitecto Nuno Mendonça, de 26 anos, que prevê a inclusão de um metro de superfície no centro desta importante artéria lisboeta. Uma curiosidade que nasceu da notícia publicada no site O Corvo (ocorvo.pt) e que nos mereceu a devida atenção.

A via que é definida no esquema facultado por linha laranja serviria então os utentes desde o Aeroporto de Lisboa, incluindo o Terminal 2, criando correspondência entre a linha vermelha (Aeroporto), amarela (Campo Grande) e azul (Colégio Militar), para além de servir a linha férrea de Sintra, em Benfica.

Assim se estabeleceu o contacto com Nuno Mendonça Raimundo, arquitecto de 26 anos e licenciado há dois anos pela Universidade de Arquitectura no pólo universitário de Lisboa, que esclareceu ao TORNADO os principais vectores de uma tentativa de revolucionar a Segunda Circular. Uma ideia não completamente original, como o próprio confidenciou, pois uma solução de dotar essa via de um metro de superfície ou eléctrico rápido já constava no último PDM da Câmara Municipal de Lisboa.

Nuno Mendonça é perito em arquitectura de reabilitação urbana e confessou que é um apaixonado pela cidade e pelas questões do urbanismo, dedicando-se nas horas livres a esboçar algumas soluções para a capital, sendo que o mais recente é criar uma zona pedonal no Largo do Chiado. O TORNADO falou com Nuno Raimundo via skype.

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Como chegou a este projecto? Que está ainda em avaliação, certo?
Quando surge a ideia da CML para requalificar a 2ª circular.

 

Era algo que já tinha pensado?
Não tinha pensado. No entanto, tinha avaliado o problema do metro e a insuficiência da actual rede metropolitana. Considero que uma boa rede de metropolitana é essencial para a vida de uma cidade avançada. Os autocarros não são necessariamente uma boa alternativa, no sentido que estão também sujeitos ao trânsito.

 

Neste caso, o futuro da Segunda Circular pode passar por um metro de superfície?
Essa é a questão. Lisboa precisa de um metro, mas o problema é que o metro subterrâneo tem investimentos onerosos. E hoje, como sabemos, isso é complicado. A solução poderia ter um metro de superfície, como no Porto, embora com o inconveniente de fazer uma barreira que pode ser perniciosa. Neste caso, a barreira já existe, nas faixas centrais…

 

A solução seria substituir o espaço verde previsto pelo plano da CML pelos carris?
Não era substituir, dava para manter algum verde em algumas áreas e nas bermas. Mas o plano da CML, por muito que fale em converter a Segunda Circular em avenida urbana, continua a manter o carácter de via sem cruzamentos e, portanto, sem semáforos, rotundas ou passadeiras. Portanto, a barreira vai continuar a existir. Por isso, porque não complementar a actual rede com um metro de superfície e dar assim um novo arranque a uma nova expansão do metro? O que me pareceu mais gravoso na proposta da CML foi um grande limitar a circulação automóvel sem uma contrapartida.

 

A sugestão parece ir no sentido de suprimir as faixas de rodagem por espaço verde, mas como se vai compensar no escoamento do transito…
Pois, é tudo muito ecológico, mas é uma ecologia de fachada. Eu até considero que a construção do metro teria um impacto ecológico a longo prazo superior por ser uma alternativa eléctrica. Eu tenho apreciado o trajecto deste executivo, e do anterior, no esforço de requalificação da cidade – porque a cidade precisa muito -, mas o que vejo não é acompanhado por alternativas. Limita-se muito o trânsito e o estacionamento, mas as alternativas são poucas. Até posso dar o meu exemplo: até há pouco tempo tinha de deslocar das Amoreiras à Av. de Berna; de transportes demorava cerca de 40 minutos e de carro demoro dez minutos, se tanto. Por muito que seja meritória a diminuição da circulação automóvel, as pessoas vão continuar a usar o automóvel se lhes for mais conveniente ou mais rápido.

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Como equaciona a viabilidade dessa linha de metro de superfície, a tal linha laranja, ligando o aeroporto à estação de comboios de Benfica?
Eu não sou especialista, mas em termos de dimensões não seria muito difícil de encaixar um canal ferroviário dentro da Segunda Circular.

 

Com carruagens um pouco diferentes das do metro de subterrâneo?
Apenas usei as carruagens na fotomontagem um pouco para ilustração. Foi apenas um dado ilustrativo. É até capaz de ser mais útil ter um metro como no Porto, mais ligeiro e atenuando o efeito especial da barreira.

 

Tem ideia do volume de trânsito que se retira e o que pode ser substituído com metro com esta medida?
Esses números não sei dizer, o que vejo nos estudos na CML há uma percepção de que o transito da 2ª Circular é muito de entrada na cidade e uma linha de metro transversal às linhas principais ajudaria a distribuir esse fluxo de pessoas.

 

Provavelmente com um parque de estacionamento grande à entrada da cidade.
Provavelmente complementado com esse tipo de situação. A via já existe, seria apenas o investimento dos carris e da rede eléctrica. Nesse caso, teriam de ser carruagens adaptadas ao exterior. Penso que o metro ligeiro seria mais adequado nesse caso.

 

O que não terá, imagino, é uma previsão de custos…
Não tenho experiência ou competência para isso. Mas seria menos custoso do que fazer uma linha de raiz. O que propus à CML foi uma ideia para substituir as barreiras que já existem e adaptá-las à nova mentalidade para expandir a fede de transportes públicos a adaptá-la às novas realidades, tornando-a mais eficaz.

 

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Como foi recebida essa ideia pela CML?
Não tive ainda feedback, o prazo ainda decorre até ao final do mês (Janeiro). Não sei sequer se terei feedback. Foi uma proposta submetida no âmbito da consulta pública. Parece que a CML não está muito receptiva a propostas que mudem radicalmente o que estavam a pensar.

 

No seu entender, a sua proposta enquadra-se nessas directivas?
Acho que segue os mesmos objectivos iniciais. Mas é preciso notar que os objectivos do último PDM de Lisboa, que o Dr. António Costa fez muita gala em divulgar, há uma linha que claramente que é possível que a 2ª Circular venha a ter um metro rápido ou eléctrico ligeiro. Portanto, esta não é uma ideia completamente original. A própria CML já expôs essa ideia no PDM. Por isso, acho estranho que na altura da decisão decidam esquecer essa parte.

 

É essa a percepção que tem?
Até agora, o que vi dos desenhos que submeteram à consulta pública, é um projecto que não prevê essa situação. A menos que no futuro prevejam suprimir essas duas vias para fazer essa linha. O projecto como está com as árvores não inclui essa possibilidade.

 

As entradas e saídas de passageiros está salvaguardada do ponto de vista arquitectónico?
Sim, eu fiz um projecto para uma estação que lhe posso enviar o desenho da maquete (ver imagem). Com o canal ferroviário no meio, com uma passagem subterrânea para passagem dos passageiros, embora existam vários planos elevados que facilitariam o acesso, sem necessidade de exigir grandes obras de escavação. Provavelmente, a faixa de rodagem teria de ser alargada um pouco para além dos limites que tem actualmente, o que não seria problemático.

 

E quanto às vias de rodagem quais as alterações que prevê?
Teriam de ser reduzidas para cerca de 3 metros, ou então em alternativa suprimir uma delas. Mas como a alternativa é fazer com que os carros reduzam a velocidade, 3m parece-me aceitável. O que esta pensado pela CML é colocar 3m10.

 

No entanto, tanto quanto me apercebi, o plano da CML prevê até a supressão de algumas saídas da via para o exterior. É assim?
Penso que sim, no plano actual da CML, mas esse plano não me debrucei. É ver o que seria mais vantajoso. A minha proposta centra-se mais no sentido, já que se vai mexer na via, de aproveitar a oportunidade de incluir o metro. De referir quais as pedidas como estão hoje são suficientes para inclui o metro pesado, por isso o ligeiro seria ainda mais fácil.

 

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Que tipo de impacto prevê o seu projecto no trânsito?
Penso que teria um impacto positivo no trânsito. Essa era um dos objectivos da proposta, oferecer aos automobilistas essa possibilidade. Há muito fluxo no atravessamento e muito trânsito da periferia para o centro. É claro que a possibilidade de criar parques de estacionamento nos extremos teria de ser pensada e estudada. Eu também não quis entrar muito na proposta, o meu estudo foi apenas de viabilidade que mostra que tem viabilidade em termos práticos. A questão é ver se há dinheiro para esta obra. E vontade política.

 

É que aí que eu queria terminar. Que tipo de orçamento seria necessário para uma obra deste tipo?
Essa não é a minha área, não sei se consigo dar-lhe esse valor. O que sei é que uma estação de metro subterrânea anda à volta dos 6 milhões de euros. Seguramente, a minha proposta seria menos dispendiosa do que construir uma linha subterrânea. Admito que essa possa ser uma falha no meu projecto, mas como tinha de respeitar o prazo para a apresentar, apesar de ter sido prolongado.

 

E quanto tempo demorou a fazer esta maquete?
Incluindo o tempo de fazer a maquete, talvez dois dias. Decidi não me dedicar à parte financeira, para não incorrer em erros.

 

Tem alguma ideia do tempo poderia durar esta obra?
Em toda a extensão? Teria de ser uma obra faseada, para não afectar o trânsito. Talvez dois anos? Para permitir a circulação. É um prazo que me ocorreu agora.

 

Só para terminar, tem outros projectos em que esteja actualmente envolvido?
Estava a desenvolver um projecto, mas que tive de interromper para fazer este. Mas estou a fazer um estudo de expansão do metro mais geral.

 

De superfície?
Não, neste caso, seria subterrâneo. No fundo, tentar perceber qual a abrangência das estações actuais. E qual o mínimo de estações necessárias para servir o máximo da cidade. Isto com as limitações que tenho e também não sou especialista de transportes. Faço ainda projectos de reabilitação do espaço urbano. Mas posso adiantar que tenho uma ideia para pedonalizar o Largo do Chiado, entre as duas igrejas, a do Loreto e da Encarnação. É algo que tenho feito nos meus tempos livres, mas que podem ser interessantes para a cidade. Talvez um dia possa expô-los, como tive a oportunidade de expor este.

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