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Segunda-feira, Março 18, 2024

Morreu João Bosco, Vice-Secretário Geral do PST e membro da BN

M. Azancot de Menezes
M. Azancot de Menezes
PhD em Educação / Universidade de Lisboa. Timor-Leste

Timor-Leste perdeu um destacado combatente da luta de libertação nacional e o Partido Socialista de Timor (PST) chora a morte de um grande dirigente, um camarada de luta, um irmão respeitado por todos os membros da resistência timorense, pela sua abnegação e valores humanos e éticos que sempre defendeu.

Após ter estudado e concluído o curso liceal no Seminário de São José, o percurso de João Bosco em prol da luta de libertação de Timor-Leste começou a ganhar contornos muito significativos a partir da década de 80. No início de 1982, como membro da Organização Clandestina OJECTIL, sob liderança de Nuno Corvelo Sarmento (Laloran), Bosco exerceu importantes responsabilidades ligadas à “agitação e propaganda” em todo o território de Timor-Leste.

Em 1991, João Bosco participou na acção de 12 de Novembro de 1991 que culminou com o Massacre de Sta. Cruz perpetrado pelas tropas indonésias, tendo sido obrigado a fugir para o território indonésio, onde se juntou aos companheiros que tinham células clandestinas da Resistência instaladas em Jakarta e Semarang.

Em 1992, em Jakarta, integrou a organização fundada pelo Saudoso Tama-Laka (Akita), um dos Dirigentes da Associação Socialista de Timor (AST). No ano seguinte, em 1993, João Bosco ingressou na AST, tendo assumido o cargo de Delegado de Comissariado para a Zona de Depok-Jawa Barat.

Em 1995, na altura em que foi criada a Brigada Negra – Comando Especial das FALINTIL com as tarefas da Guerrilha Urbana, Bosco foi escolhido pelo Comandante em Chefe das FALINTIL, juntamente com Rana Nakali, Radot Kadomi, Tama Laka (Akita), para se tornarem membros efectivos da Brigada Negra (BN) e, sob a orientação de um Bureau Especial, Coordenado por António Lopes (Fatuk Mutin) e Fuzila, participaram no treino militar.

João Bosco e o saudoso Comandante David Alex (Daitula) durante a luta

João Bosco Cárceres (Sau´unar) teve um papel fundamental no âmbito da luta de libertação nacional em diversas actividades políticas e militares, em Timor-Leste e na Indonésia, tendo apoiado a Direcção da AST na organização de varias acções de assalto às embaixadas (haksoit lutu) – asilo político, uma das formas de acção de Guerrilha Política (GERPOL) que foi uma das componentes do Projecto de Indonesiação do Conflito Político –Militar Timorense.

Este importante e estratégico Programa está incluído no Livro sob o título “ Para a Libertação e Independência Nacional” da autoria da AST – Shalar Kosi e Fatuk Mutin, elaborado em 1993, tendo sido apoiado depois, em 1994, pelo Comandante em Chefe da Resistência, Kay Rala Xanana Gusmão, passando a ser o guia das acções da Associação Socialista de Timor.

João Bosco desempenhou um papel muito activo nos contactos com as embaixadas e com os jovens que chegavam de Díli, por serem perseguidos, e dirigiu as acções realizadas em diversas embaixadas de países acreditados na Indonésia.

Em 1996 é nomeado para o cargo de chefia no Directório A (Produção e armazenamento de material de guerra) que constituiu uma das estruturas militares da Brigada Negra (BN). Neste mesmo ano, João Bosco foi mensageiro da AST e da BN para organizar a filmagem de combate em Asa-Lai Tula, guiando o Jornalista inglês que filmou o combate sob a orientação da Jornalista australiana Jill Jolief.

Em 1997, Janeiro-Fevereiro, João Bosco organizou a deslocação do Colaborador do Estado Maior das FALINTIL para a visita e encontros com o Estado Maior das FALINTIL no acampamento de Waili  e com o Chefe da Frente Armada, Camarada Nino Konis Santana em Ermera-Café Laran.

No âmbito das actividades da Brigada Negra, altura em que ocorreu a explosão da Bomba no Quartel em Plamongan – Semarang, Bosco foi gravemente ferido e evacuado para Surabaya, onde se refugiou, tendo sido depois transferido em 1998 para Flores, depois para Bandung e finalmente, em Março de 1998, regressado a Jakarta, onde continuou activo nas diversas actividades com as forças democráticas da Indonésia.

O camarada João Bosco foi também co-autor no desenho da Capa e edição do Manifesto Político da AST, intitulado “O embrião da libertação”, publicado em Semarang Java Central.

Bosco organizou e coordenou diversas acções de segurança nas deslocações de Avelino Coelho/ Shalar Kosi FF, actual Presidente do Partido Socialista de Timor (PST, a Semarang a Jkt, Bandung e Surabaya nos anos de 1995, 1996 e 1997. Em 1997, aquando da Transformação da AST para PST, em 13 de Maio, fez parte no Comité Central e foi nomeado Secretário da Unidade I, Semarang – Java Central.

Em 1999 participou activamente na organização e mobilização dos jovens, estudantes e trabalhadores para a votação em 30 de Agosto de 1999.

No I Congresso do PST, em Fevereiro de 2000, foi eleito membro do Comité Central do PST. No III Congresso do PST foi eleito membro do Comité Central  e colocado como Adjunto do Comissariado para supervisionar o Comité do Posto de Laclo. No IV Congresso do Partido foi eleito membro do CC e Vice-Secretário Geral do Partido. No V Congresso Nacional, foi eleito membro do Comité Central e Vice-Secretário Geral, cargo que assumiu até a data em que nos deixou.

João Bosco Cárceres (Sau´unar), nascido em Díli/Laclo aos 13 de Maio de 1972, com apenas 50 anos de idade, faleceu na madrugada de 30 de Abril de 2022, no Hospital Guido Valadares, em Díli, ao que tudo indica, vítima de ataque cardíaco.

O malogrado deixou Lourdes Gonçalves, sua mulher, e quatro filhos. E deixou um vazio que jamais será preenchido.

Que repouse em paz..

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