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Quarta-feira, Setembro 18, 2024

Não percebo nada disso mas em minha opinião …

Rui Amaral
Rui Amaral
Gestor de Empresas

Livro Proibido de José António Saraiva

Diz o autor na “Apresentação”:

“Mesmo quando tal não lhes é explicitamente pedido, há regras a cumprir e afirmações que se subentende não se destinarem a publicação”.

“No momento em que deixo profissionalmente o jornalismo … sinto ser o momento de divulgar aquilo que não pude (ou não quis) escrever até hoje”.

Em minha opinião está aqui uma contradição: se o jornalista José António Saraiva se sentiu eticamente impedido de escrever o livro não o podia, eticamente, escrever quando deixou de ser jornalista.

Por exemplo, um banqueiro está sujeito ao “segredo bancário” e não fica desobrigado quando sai do banco. Colocando-me nos pés do autor não o teria escrito.

Mário Ramires escreve no Sol de 24 de Setembro “O subtítulo do livro Eu e os Políticos é o reconhecimento disso mesmo: Livro Proibido”.

Curiosamente, ou talvez não, a generalidade da condenação do livro não invoca esta questão. A ética parece ser um valor decadente.

O ataque inicia-se com a chamada de 1ª página do DN que refere: “Mexericos – Livro com revelações da vida sexual de políticos apresentado por Passos”.

Consultando a infopédia da Porto Editora lê-se:
Mexerico, acto ou efeito de mexericar ou de falar sobre a vida alheia, geralmente tecendo intrigas; aquilo de que se fala ou que se presume sobre a vida alheia, bisbilhotice; enredo, intriga, rumor, boato.

O tradicional voyeurismo português (que não tem o exclusivo) associado à atracção de tudo o que ao sexo diz respeito criaram a oportunidade de atacar Passos Coelho que ia apresentar o livro (que não leu), que num primeiro momento afirma que não volta atrás e que num segundo momento (pressões internas do PSD?) pede ao autor que o desobrigue.

Atacar também um jornalista que manteve o Expresso durante mais de 20 anos na posição cimeira que ocupa e criou o Sol que conseguiu, apesar de todas as oposições, um lugar ao Sol. Espaços diferentes (sou leitor do Expresso e não me identifico com O Sol) mas ambos com qualidade jornalística.

Passos Coelho mostra ser um português comum caracterizado no título desta peça: aceita apresentar antes de ler e, segundo o que tem vindo a lume, sem se ter informado sobre o conteúdo do mesmo.

Como referi, calçando os sapatos do autor, não o teria escrito. Mas como cidadão penso ser uma mais valia o exercício de traçar o retrato de políticos que tiveram, e têm, responsabilidade no Portugal que somos hoje. Penso que pode existir uma mais valia futura no que foi escrito na medida em que o autor procurou fundamentar a sua opinião no material recolhido ao longo dos seus mais de 30 anos de profissão.

Reduzir o livro a mexericos parece-me desfasado da realidade. Os factos considerados para traçar o retrato são reais e o que se pode questionar será simplesmente a forma como são analisados e as conclusões que deles foram retiradas.

Revelações da vida sexual pode ser muita coisa ou nada. Considerar que certas referências, onde nenhuma actividade ou prática sexual é descrita em pormenor, são revelações sexuais é, no mínimo, excessivo, infundado.

Mesmo a capítulo sobre Margarida Marante, salvo melhor opinião, mostra o sofrimento de alguém que, por diversos motivos, se viu vítima de violência doméstica e empurrada para um caminho de destruição que a conduziu à morte. Tem o condão de mostrar quem foi a vítima e quem foi o culpado, na opinião do autor. Revela alguma coisa que não conste da biografia saída há uns meses atrás?

Nessa altura onde estavam os críticos?

Estas críticas são responsáveis pela 7ª edição do livro. São uma excelente promoção da sua venda com a vantagem de ser publicidade gratuita. Era interessante saber o que aconteceria se algum destes compradores, motivado por “revelações da vida sexual de políticos” e, sentindo-se defraudado, processasse quem veiculou tal ideia.

Este livro teve, também, o condão de evidenciar a falta de ética de grande parte da classe jornalística. Que escreve mau português, que enche páginas com letras, agrupadas em palavras, que dão um texto sem objectividade. Nada que esteja fora da imagem que deles têm os leitores.

Termino sublinhando que todo este ruído não resulta dum debate sério sobre a publicação do livro, confrontando-se argumentos a favor e contra, mas antes duma verdadeira peixeirada na praça pública.

Nota do Director

As opiniões expressas nos artigos de Opinião apenas vinculam os respectivos autores e não reflectem necessariamente os pontos de vista da Redacção ou do Jornal.

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