Desde miúda que eu adoro plantas e flores … sim flores, as vivas que despertam nos vasos do quintal ou nas árvores do pomar não aquelas que são trancadas em bouquets que camuflam falsidades, e a cada lição na escola eu era incentivada a prestar atenção às coisas…foi ai que conheci a flor de maracujá.
Passei a minha infância dividida entre o pomar e a praia, na avó Filipa um pomar recheado de sape-sape, mangas, dendem, caju, figeira e até uma gajajeira … E de kebras tínhamos as capoeiras e os currais.
Lá na casa do tio Nelito (meu pai), a 300 metros da praia… não sei como nem porquê nascia água no chão, e de tempo em tempo tínhamos a casa inundada ,é assim nos quintais da samba… e em consequência disso nasciam cardumes de peixinhos multicoloridos, eram todos meus pois com o tempo aprendeu-se a domar as águas da nascente reduzindo-as num pequeno esgoto (tanque) no canto do quintal que se escoava por uma vala.
Lindo, lindos … tinha-os no quintal mas eu os queria proteger e no esgoto estavam expostos aos primos, amigos e aos meus irmãos mais novos … logo logo, adaptava um aquário feito de garrafão, e os tirava do seu habitat natural, dentro do meu aquário com todo aquele amor recheado de pedacinhos de pão e guloseimas eles acabavam por sufocar… mas eu cheia de amor voltava a escolher os mais bonitos do tanque … para sucumbirem, até que um dia alguém chamou-me de ambiciosa … mas não é ambicioso o amor ? Como amar sem cuidar?? Perguntava-me.
Dizem que o excesso de zelo sufoca, mas é possível amar-se sem zelar ou proteger, existe uma medida pré–definida para amar ou zelar? quando é excessivo? ou qual é a medida do pouco ?
Lembro-me que o meu irmão Vado tinha um pombal, esses seres leais … iam e vinham, às vezes era só assobiar… mas os meus peixes morriam como se fugissem de mim, com se eu estivesse errada em cuidar, guardar e proteger… às vezes é preciso deixar ir… ir para onde, se eu faço tudo para que fique comigo… Quando me casei também só queria cuidar mas era chamada de manipuladora, às vezes de possessiva e às vezes e ciumenta… quanta ingratidão, pensava….
Quem liga para saber se já comeu, o que comeu e onde estais …é possessiva? e quando não liga ? é desinteressada ? e ser responsável é ser amoroso?
Os que prendem os pássaros na gaiola, será por ódio? Deixa ir …. Que um dia voltam… e se não voltarem? O desapego dói. Quando é amor ? e quando será ódio? Pensar excessivamente em alguém não será amor?
Quando nos debruçamos a amar, esquecendo a nossa necessidade de ser amados e compreendidos e quando demos e queremos receber? O amor é um sentimento ganancioso e tendencioso o mais interesseiro de todos. Há interesse no bem estar emocional, há interesse no prestígio ou até no simples alívio … no amor nunca se dá sem receber
A autora escreve em PT Angola