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João de Sousa

Sábado, Abril 27, 2024

O dia seguinte

Paulo Casaca, em Bruxelas
Paulo Casaca, em Bruxelas
Foi deputado no Parlamento Europeu de 1999 a 2009, na Assembleia da República em 1992-1993 e na Assembleia Regional dos Açores em 1990-1991. Foi professor convidado no ISEG 1995-1996, bem como no ISCAL. É autor de alguns livros em economia e relações internacionais.

Yigal Carmon – presidente do melhor grupo de reflexão sobre o Jihadismo, o MEMRI, e antigo dirigente da Mossad – tem alguma razão quando nos diz que a lógica genocidária do Hamas se aproxima mais da dos Nazis do que da de outros grupos jihadistas, como o do Califado.

No ataque de 3 de agosto de 2014 à cidade maioritariamente Yazidi de Sinjar, no Curdistão iraquiano, o Califado executou todos os homens adultos e jovens e todas as mulheres julgadas sem valor de mercado, capturou os rapazes para os transformar em monstros assassinos e escravizou as restantes mulheres e meninas, algumas para uso pessoal, muitas vendidas como gado um pouco por todo o lado.

No ataque de 7 de outubro, o Hamas foi mais longe, e para além da estimada centena e meia que tomou como reféns, assassinou indiscriminadamente tudo e todos, profanou e exibiu corpos de jovens mulheres como troféu de caça e nem os bebés poupou, assassinando-os barbaramente, agindo aqui na lógica de racismo extremo dos Nazis.

As imagens das atrocidades conhecidas resultam na generalidade da propaganda do Hamas, que as utilizou para mobilizar as suas hostes (o que deveria ser mais do que suficiente para entender a natureza do movimento), dado que as forças israelitas resolveram não divulgar as imagens das vítimas por respeito para com elas, opção que levou Yigal Carmon a constituir um repositório de imagens da matança que não permita que se esqueça a verdade.

Na realidade, uma fuga de informação fotográfica do regime sírio que permitiu expor dezenas de milhares de imagens de torturas a e assassínios dos seus opositores numa exposição realizada em Paris realizada em 2014, contemporânea de resto aos múltiplos relatos do genocídio cometido pelo Califado (visitei Sinjar  no Natal de 2009 e voltei à região, cinco anos mais tarde, com a cidade ainda ocupada pelos jihadistas, tendo recolhido numerosos testemunhos presenciais dos crimes), está praticamente esquecida, apesar de ninguém contestar seriamente a sua autenticidade, não faltando quem reclame a reintegração do regime sírio no concerto das Nações.

A realidade é que não há provas ou documentos que possam combater a vontade de ter memória curta, nem há factos por mais claros e óbvios que sejam que possam servir de antídoto à cegueira ideológica baseada na crença na ficção e na mentira.

A utilização dos civis palestinianos como escudo é recorrente em toda a estratégia militar do Hamas, e tornou-se evidente de novo na actual guerra. Quando as forças de Israel avisam que vão atacar a Norte e apelam aos civis para ir para Sul, o Hamas ordena aos civis que fiquem e faz mesmo barragens nas estradas para evitar a sua fuga.

E pior, faz pressão em todo o mundo árabe para que não sejam abertos corredores humanitários de civis, e isto é particularmente assim com o Egipto, a quem tacitamente ameaça de terrorismo se este país aceder ao apelo da comunidade internacional para abrir corredores humanitários a civis para o Egipto, país que tem fronteira com Gaza.

Para o sucesso desta táctica é essencial a quinta coluna no Ocidente que acusa Israel pela morte dos civis palestinianos em vez de reconhecer que elas são vítimas do seu uso como escudo pelo Hamas, quinta coluna que actua por ignorância, falta de senso ou má-fé.

Israel tem com Gaza o cuidado que ninguém teve em guerras semelhantes. Acaso alguém cuidou dos civis de Mossul quando se fez a erradicação do Califado dessa cidade (cidade que tinha mais população do que Gaza)?

Quantas dezenas de milhares de civis inocentes terão perecido na conquista de Mossul ao Califado? Ninguém sabe nem ninguém se mostrou sequer interessado em saber, mas é fácil de imaginar o que terá acontecido numa cidade que contava com milhões de habitantes e que foi totalmente arrasada sem que fossem tomadas todas as medidas necessárias de protecção dos civis.

A verdade é que essas vítimas – na esmagadora maioria árabes – não interessam, porque não era possível acusar Israel de ser responsável, e a única razão porque se dá atenção agora aos civis de Gaza é para culpar Israel. De resto, ninguém quer saber das vítimas inocentes de Gaza como não quis saber das de Mossul.

A estratégia do Hamas é clara: provocar o maior número possível de mortos entre a sua população civil, culpar Israel pela carnificina e pressionar para uma nova trégua que lhe permita voltar ao ataque de forma ainda mais mortífera que o que fez agora.

Nesta guerra, o Hamas fez do festival de música jovem pela paz e os Kibutz os seus alvos preferidos, tendo provocado aí a maioria do mais de um milhar de vítimas israelitas.

Os Kibutz são a única sobrevivência ideológica do que foram os Kolkozes soviéticos, nos quais se inspiraram, e tanto estes como os participantes no festival de música vêm da mesma franja social do que é o eleitorado natural da esquerda, mais propensa a ceder para fazer a paz, a ver os seus erros como mais importantes do que os dos outros.

A forma como o massacre destes jovens e destas famílias foi normalizado por formações políticas que pretendem estar à esquerda diz tudo sobre a sua completa deriva ideológica.

No dia seguinte ao massacre do Shemini Atzeret é impossível continuar a pactuar com quem faz frente com o Nazismo dos nossos dias que é o fanatismo jihadista, materializado aqui no Hamas.

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