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Sábado, Maio 4, 2024

O regresso do público num festival ‘quase normal’

José M. Bastos
José M. Bastos
Crítico de cinema

66ª SEMINCI – Semana Internacional de Cinema de Valladolid

Começou no sábado passado, e termina no próximo, a edição de 2021 da SEMINCI – Semana Internacional de Cine de Valladolid. E se esta é a segunda edição em pandemia, há a registar uma grande diferença na afluência de público em relação ao ano passado. Nessa altura assistimos a sessões com escassas dezenas de espectadores em salas de várias centenas de lugares. Agora as salas estão ocupadas por um número de pessoas significatimante e na cidade assiste-se já ao movimento que conhecemos em 2019 e nos anos anteriores. Arranjar lugar nos restaurantes começa a ser um problema. Não há limitações de horário quando no ano passado com o ‘recolher obrigatório’, às dez da noite já não havia gente nas ruas. Não fora o facto de se assistir às projecções com a máscara colocada do primeiro ao último minuto e poderíamos dizer que este é um festival ‘quase normal’!

‘Punto de Encuentro’, lugar aos novos criadores

A Semana de Valladolid é um evento que dá uma atenção muito especial aos criadores em início de carreira. Primeiras e segundas obras marcam presença em várias secções do certame. Até na secção oficial.

Mas “Punto de Encuentro” é um ciclo competitivo assumidamente reservado à revelação de jovens talentos. Foi aqui que o realizador português Basil da Cunha venceu em 2019 com o seu magnífico “O Fim do Mundo”.

‘Cinema de Autor’ é a consigna do festival e é em ‘Punto de Encuentro’ que isso encontra a melhor ilustração. Na verdade as obras apresentadas nesta área da programação revelam ainda a originalidade e a inovação dos que começam, certamente já com algumas influências de cineastas mais velhos que admiram, mas  com um discurso próprio e, dir-se-ia, ainda sem os vícios e sem os condicionamentos em que muitos, mais tarde, se deixam enredar.

Na presente edição podem ser vistas quinze longas-metragens e nove curtas, de cinematografias muito diversificadas.

Três destaques

  • Mes frères et moi (Os meus irmãos e eu) de Yohan Manca (França). O filme estreou na secção “Un Certain Regard” do Festival de Cannes. Noura, um jovem de 14 anos vive com os irmãos num bairro social no sul de França. Revezam-se para cuidar da mãe que está em coma e era aficionada da ópera. Enquanto põe música para a mãe, Noura vai também gostando cada vez mais daquele género musical. O encontro com uma cantora lírica que dá aulas de Verão faz acender nele o sonho de sair daquele lugar e fugir para longe;
  • Mis hermanos sueñan despiertos (Os meus irmãos sonham acordados) de Claudia Huaiquimilla (Chile). Inspirada em factos reais esta é a história de Ángel e do seu irmão mais novo que estão há um ano em reclusão num centro de internamento de menores. Apesar das dificuldades eles formaram um grupo de amigos com que passam os dias partilhando sonhos de liberdade. Tudo muda com a chegada de um jovem rebelde que lhes sugere a hipótese de fuga;
  • Zahorí de Marí Alessandrini (Suíça / Argentina / Chile / França). Vencedor do prémio “Leopardos de Amanhã” do Festival de Locarno de 2020 o filme, passado na Patagónia, segue o percurso de uma jovem que quer ser criadora de gado, que se rebela contra a escola e enfrenta os pais, um casal de ecologistas.

Outros filmes em competição

  • A Brixton Tale de Darragh Carey, Bertrand Desrochers (Reino Unido)
  • The Dorm (O quarto) de Roman Vasyanov (Rússia)
  • Eltörölni Frankot (Apagando Frank) de Gábor Fabricius (Hungria)
  • La Femme du Fossoyeur (A Mulher do Coveiro) de Khadar Ayderus Ahmed (Finlândia/Alemanha/ França)
  • Foscadh (Refúgio) de Seán Breathnach (Irlanda)
  • Gaey Wa’r (Animal de Cidade) de Na Jiazuo (China)
  • Han de Guro Bruusgaard (Noruega)
  • Hvor kragerne vender (Persona non grata) de Lisa Jespersen (Dinamarca)
  • Kelti (Celtas) de Milica Tomović (Sérvia)
  • Nan Wu (A História da Ilhota do Sul) de Keat Aun Chong (Malásia)
  • Pesar (O Filho) de Noushin Meraji (Irão)
  • Wood and Water (Madeira e Água) de Jonas Bak (Alemanha / França / Hong Kong)

 

Diogo Costa Amarante em competição nas curtas de “Punto de Encuentro”

São as seguintes as curtas-metragens em competição nesta secção:

  • La Campaña de Eduardo del Llano(Cuba)
  • Cântec de Leagan (Berço) de Paul Muresan (Roménia)
  • Les Criminels de Serhat Karaaslan (França/Roménia/Turquia)
  • Les Grandes Claques de Annje st-Pierre (Canadá)
  • Intercom 15 de Andrei Epure (Roménia)
  • Luz de Presença de Diogo Costa Amarante (Portugal)
  • Nuits sans sommeil de Jeremy van der Haegan (Bélgica)
  • Techno mama de Saulius Baradinskas (Lituânia)
  • Vadim na progulke (Vadim em passeio) de Sasha Svirsky (Rússia)

Entre elas encontramos Luz de Presença de Diogo Costa Amarante, filme que competiu este ano no Festival de Berlim e que há dias foi distinguido no Canadá, no Festival du Nouveau Cinéma de Montréal. É a única presença portuguesa nesta edição da SEMINCI. Recorde-se que em 2016 o realizador de Oliveira de Azeméis conquistou o “Urso de Ouro” de Berlim com Cidade Pequena

As curtas-metragens de produção espanhola são exibidas no âmbito de ‘La Noche del Corto Español’.

São elas:

  • Está amaneciendo, de Guillermo Benet;
  • Etxean, de Mikel Rueda;
  • Las infantas, de Andrea H. Catalá;
  • Intentando, de Juan Manuel Montilla “El Langui”;
  • Romance, de Álvaro de Miguel; e
  • Somni, de María del Carme Galmés Fons.

O júri de “Punto de Encuentro”

O júri de ‘Punto de Encuentro’ é formado pelo realizador e guionista espanhol José Luis Montesinos, pela actriz, dramaturga e realizadora argentina Romina Paula  e pela cineasta e guionista iraniana Farnoosh Samadi, vencedora desta secção no ano passado.

Homenagens a Luis García Berlanga e a Fernando Fernán Gomez

Cumpriram-se no passado mês de Junho cem anos sobre o nascimento de Luis García Berlanga. O realizador  valenciano falecido em 2010, um dos nomes mais importantes do cinema espanhol, é hoje lembrado na SEMINCI com a exibição de  Berlanga!!,  um documentário realizado este ano por Rafael Maluenda que procura encontrar justificação para a actualidade de uma obra que continua a ser evocada e mostrada em inúmeras retrospectivas e festivais.

Para além do percurso cinematográfico que fez de Berlanga um dos clássicos do cinema de Espanha o documentário fala dos êxitos, dos fracassos, do reconhecimento internacional e de uma vida que conheceu a guerra civil, a ditadura franquista, a censura, a transição democrática e o final do século XX. E fá-lo através do testemunho de quem o conheceu mais de perto: a família os amigos, os colegas de profissão, os actores,…

O Festival de Valladolid assinalou também o centenário de Fernando Fernán Gomez com a exibição de Viaje a alguna parte de Helana de Llanos, neta do grande actor (de teatro e de cinema) e realizador espanhol. O filme, já referido em texto anterior, está entre o documentário e a ficção, é uma viagem pela obra e pela intimidade de Fernán Gómez e pela vida que partilhou com a também actriz e cineasta Emma Cohen.

 

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