A gala de entrega dos Oscars, prémios cimeiros do cinema norte-americano que decorreu este Domingo em Los Angeles, EUA, ficou marcada pelas críticas dos artistas negros que, pelo segundo ano consecutivo, não foram nomeados para qualquer galardão. O apresentador da cerimónia, transmitida para 200 países em directo, foi o comediante Chris Rock, afro-americano, a quem coube deitar água na fervura.
“Esta é a questão”, disse Rock: “Hollywood é racista? Vejamos, temos de saber abordar isto. É racista de fazer arder cruzes ? Não. É racista tipo “traz-me a limonada”? Não. Mas tem um tipo diferente de racismo, aquele de grupo de escola . É ‘gostamos de ti Rhonda , mas não és nenhuma Kappa ’. Isto é Hollywood”.
Chris Rock, a quem foi pedido por alguns dos seus pares que desistisse de apresentar a cerimónia, prosseguiu: “Não se quer boicotar nada, o que se quer é oportunidade. Queremos que os actores negros tenham as mesmas oportunidades que os brancos. Não apenas uma vez, mas todos os anos. Oportunidade como o Leo que todos os anos tem uma boa oferta. Só isso”.
Na edição desta Segunda-Feira o crítico de cinema do ‘New York Times’, James Poniewozik, afirma que “Rock era o apresentador de que se precisava nesta ocasião”, porque, entende, “foi equilibrado e não deixou ninguém de fora da sua crítica de cutelo”. Já Hank Stuever, também crítico de cinema mas no ‘Washigton Post’ duvida que a mensagem anti-racista tenha sido suficiente. “Rock foi cuidado e não ultrapassou a fronteira que ainda é preciso passar. Afinal, eram os Oscars”, sintetiza na sua crónica sobre a noite festiva.
Pedofilia ganha melhor filme
Se o racismo foi sendo tratado ao longo da noite, com o chamado “elefante branco” na sala a depurar-se a cada palavra de Rock, já a pedofilia por prelados da Igreja Católica apareceu por duas vezes, agarrado ao filme Spotlight, que arrecadou os prémios de Melhor Filme e Melhor Argumento Original. Michael Sugar, ao receber a estatueta, gritou: “O filme deu voz aos sobreviventes. Espero que esta mensagem possa ressoar até ao Vaticano. É tempo de proteger as crianças”, disparou em direcção ao Papa Francisco. Spotlight é uma obra que retrata a investigação e revelação por um grupo de repórteres do caso de abuso de menores por prelados da igreja católica de Boston.
Antes, já os Oscars tinham mostrado o vice-presidente norte-americano Joe Biden a discursar contra o abuso sexual nas escolas, enquanto apresentava a candidata a melhor música do ano. Escrita e interpretada por Lady Gaga, a canção “Til it happens to you” (Até que te aconteça a ti) faz parte da banda sonora do filme “The Hunting Ground”, ainda por estrear em Portugal. Na sua actuação, Gaga foi acompanhada por dezenas de jovens que foram violados. A película revela o encobrimento de abusos sexuais numa escola americana.
Mad Max ganha campeonato técnico
Os prémios, no entanto, apresentaram uma Hollywood diversificada. Leonard DiCaprio ganhou, à sexta nomeação, o seu primeiro Oscar, pelo desempenho em “O Renascido”. O realizador mexicano Alejandro G. Iñárritu levou para casa o troféu de melhor realizador e Brie Larson foi a melhor actriz. Mas quem conquistou mais prémios foi o remake do velhinho “Mad Max”, agora chamado “Mad Max: Estrada da Fúria”: seis estatuetas douradas para o filme de George Miller, o realizador que escreveu e realizou, em 1979 e 2015, as poderosas e pós-apocalípticas narrativas de Max, louco, numa terra de ninguém.
Se Chris Rock abriu a cerimónia dizendo “Bem-vindos aos prémios das pessoas brancas”, despediu-se com um convite para a gala “BG Awards”, uma cerimónia de um grupo cívico masculino de negros norte-americanos.
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