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Quinta-feira, Março 28, 2024

Para acabar de vez com os Óscares da Academia!

Paulo Vieira de Castro
Paulo Vieira de Castrohttp://www.paulovieiradecastro.pt
Autor na área do bem-estar nos negócios, práticas educativas e terapêuticas. Diretor do departamento de bem-estar nas organizações do I-ACT - Institute of Applied Consciousness Technologies (USA).

Comecemos por perceber por que reclamo eu tal fundo de compensação. Recorro-me de um exemplo comum. A segunda guerra mundial. Querem ver?

Por que toda a gente tem a ideia que os EUA, os ingleses e a resistência foram os responsáveis pela libertação europeia? A resposta é simples. É que a história que os professores aprenderam e ensinam nas nossas escolas é resultado da leitura que dela fez a indústria cinematográfica norte americana. Esta condicionou-nos irremediavelmente, empobrecendo a nossa história, a nossa economia e a nossa cultura.

Vejam no que Hollywood transformou os europeus. Seres ausentes da sua própria história.

Às mãos de quem caíram as tropas alemãs do terceiro Reich? Nove em cada 10 soldados morreram pela metralha do exército vermelho. Isto justifica-se facilmente pois aproximadamente 90% destas mortes aconteceram na frente oriental. Ou seja, do lado oposto por onde entraram na Europa continental as tropas americanas, inglesas, canadianas, naquele 6 de Junho. Isso explica claramente porque morreram, afinal, tantos soldados soviéticos.

Se incluirmos militares e civis mortos nesta guerra, vemos que pereceram cerca de 50 vezes mais russos que tropas americanas no Pacífico e na Europa [1]. Relembro que, ainda assim, morreram mais americanos que ingleses ou franceses.

Por via da manipulação da cultura norte americana contabilizamos já quatro gerações perdidas para a verdade histórica. Se não aprendemos a respeitar a verdade como poderemos merecer sequer ter história? [2]

Assim, penso ser devida uma indemnização por danos não patrimoniais a países como o nosso. Tratando-se de um crime contra a verdade histórica é de elementar justiça que se reclame tal fundo de compensação junto dos EUA.

E os outros países?

Usarei seguidamente um outro caso. Um dos países directamente envolvidos, a França.

Segundo o IFOP, em 1990, 54% dos franceses consideravam que os responsáveis pela vitória dos aliados foram os EUA. Mas, há cerca de 70 anos, esse mesmo instituto de estudo da opinião pública afirmava que 57% dos franceses reconhecia que quem ganhou a segunda guerra mundial foi o Exército Vermelho e apenas 20% defendiam que os EUA tinham sido determinantes para o seu fim. Será fácil acreditar que os franceses do pós-guerra sabiam, potencialmente, mais sobre essa contenda que os actuais.

A isto chamo retrocesso civilizacional. Esta falta de contextualização histórica das relações entre as nações poderá estar na origem do novo populismo político, onde tudo é aceite como argumento válido [3]. O mesmo para o recrudescimento da extrema direita, em especial na Europa.

Mais recentemente, para um estudo do instituto inglês de pesquisa de opinião, o ICM Research, o reconhecimento da importância dos russos, os primeiros a invadir Berlim, para o fim da guerra, estava abaixo dos 15%, isto para as opiniões expressas por franceses, alemães e britânicos.

Ainda, uma constatação que me deixa particularmente preocupado. Apenas após os anos oitenta, com François Mitterrand, é que a França começou a festejar o desembarque na Normandia, relacionando-o com a libertação do país. Quem visitou esta zona sabe o quanto a economia local está dependente deste enviesamento histórico. Mais não digo…

Finalmente, considero a colonização pela cultura a mais humilhante aberração dos tempos modernos. Esta pode ver-se em coisas tão simples como a influência que o cinema norte americano passou a ter na economia e na cultura europeias, asfixiando-as. Isto a par da alimentação, das ideias, dos modelos económicos que nos colocaram na crise e dos que facilmente, já se vê, nos tirarão da crise; enfim…

[1] Tenho o maior  respeito por todos os  desaparecidos em combate, assim como para com todos os seus familiares.
[2] Claro que as escolas e os professores, salvo honrosas exceções, não poderão deixar de ser chamados a explicar por que isso aconteceu e acontece.
[3] Resultado? Fruto da guerra fria, ainda, da manipulação por via da exportação da cultura norte americana, através de filmes, livros e documentários, apenas um pequeno grupo de europeus parece interessar-se, agora, sobre o que realmente se passou. Até onde nos poderá levar tamanho desrespeito pela história recente?

Nota do Director

As opiniões expressas nos artigos de Opinião apenas vinculam os respectivos autores.

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