Os resultados de hoje mostram que a CDU, o partido de Angela Merkel sofreu uma derrota histórica descendo ao mais baixo número de votantes de sempre. Os seus parceiros sociais-democratas do SPD, que lideram o parlamento da cidade-estado e capital da Alemanha, obtiveram também uma descida nos resultados. É pois, provável que o Parlamento de Berlim venha a ser gerido, pela primeira vez na sua história por uma coligação com a esquerda.
Os sociais-democratas do SPD obtiveram 21,6%dos votos, à frente do partido de centro-direita, União Democrata Cristã (CDU) com 17,5%. O partido de esquerda Die Linke ficou em terceiro lugar com 15,7%, seguido do partido Os Verdes, com 15,3%.
Por seu lado, o partido populista anti-imigração AfD (Alternative für Deutschland) está em posição de assegurar a entrada no Parlamento do estado alemão da capital, pela primeira vez, ao ter obtido 13,8% dos votos.
Dias antes das eleições, Michael Müller, o actual presidente do parlamento, tinha avisado que uma pontuação de dois dígitos para a AfD “seria vista em todo o mundo como um sinal do retorno da direita e dos nazis na Alemanha”.
Muitos analistas têm dado atenção sobretudo ao crescimento da força dos vários pequenos partidos sem relacionar esse crescimento com a descida de influência dos chamados “grandes partidos”. Em 1980, a CDU obteve 44,5% e o SPD 42,9%; juntos, asseguraram 87,4% dos votos.
Em 1990, nas primeiras eleições federais após a reunificação, os resultados foram de 43,8%, 33,5% e 77,3%, respectivamente. Em 2002, ambos os partidos conseguiram 38,5% (juntos, 77%) e em 2013 o resultado foi de 41,5% para a CDU e 25,7% para o SPD (67,2%, a soma dos dois). Uma clara descida mas, ainda assim, uns sólidos 2/3 dos votos.
Nas cinco eleições regionais que tiveram lugar em 2016, a implosão dos “dois grandes” foi quase completa. Em apenas um dos cinco estados, a Renânia-Palatinado, no sudoeste do país e cuja capital é Mainz, CDU e SPD conseguiu mais de metade dos notos: 68% a soma dos dois. No estado de Mecklenburg-Vorpommern ficaram perto de metade (49.6%), enquanto que nos outros três estados a soma dos votos dos dois partidos ronda os 40%. Apenas o SPD, na Renânia-Palatinato, obtém sozinho acima de um terço dos votos (36.2%).
Alemanha está agora virada para o multi-partidarismo
Tradicionalmente, a Alemanha era conhecida”, na literatura de ciência política, como um sistema “dois partidos e meio”, ou seja, os dois grandes partidos (CDU e SPD) precisavam de um pequeno partido (a metade) para garantir os seus governos de coligação (o PDF).
Com o surgimento dos Verdes na década de 1980 tornou-se um sistema de dois partidos e duas metades, o que não foi alterado pelo surgimento, na década de 1990 do Die LInke (o partido A Esquerda).
Os Eleitores alemães são cada vez mais móveis, olhando para diferentes partidos ou mesmo optando por não votar.
Estão também mais fragmentados, divididos por um número crescente de pequenos partidos pequenos. Uma das consequências é um processo mais desafiante na formação de coligações de governo, que poderá levar a mais frustração e a fortalecer ainda mais velhos e novos partidos de protesto.
Fonte: DW, BBC