
Pesquisa aponta maior violência contra as mulheres no mundo do trabalho
A pesquisa Percepções sobre a violência e o assédio contra mulheres no trabalho, feita pelos institutos Locomotiva e Patrícia Galvão, entre 7 e 20 de outubro e divulgada em dezembro, traz dados para a compreensão do machismo no mercado de trabalho.
- 23 Dezembro, 2020
- Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
- Posted in Sociedade
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“Esse estudo comprova uma realidade sentida por nós mulheres sindicalistas há muito tempo”, revela Celina Arêas, secretária da Mulher Trabalhadora da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
A sindicalista mineira afirma que “a ideologia do patriarcado ainda prevalece em nossa sociedade” e o “mercado de trabalho não foge à regra”. Só que “a cultura do estupro vem ganhando dimensões impensáveis para uma sociedade que se pretenda civilizada”.
Já Gicélia Bitencourt, secretária da Mulher Trabalhadora da CTB-SP, assinala a violência psicológica como a mais comum, e com maior dificuldade de percepção, sofrida pelas mulheres. “Naturalizar violências que não causam lesões físicas, faz com que esse tipo de violência se perpetue. É muito comum nos depararmos com situações onde as mulheres que sofrem violência se sintam culpadas pela violência que sofrem, ou alguém sempre questiona ‘o que ela fez?’”, afirma.
Percepções sobre a violência e o assédio contra mulheres no trabalhoDescarregar
A começar pela questão do assédio, tanto moral quanto sexual, pelo qual 92% dos 1.500 entrevistados (mil mulheres e 500 homens) acreditam que as mulheres sofrem mais assédio no ambiente do trabalho. A situação de assédio é crucial no mercado de trabalho brasileiro, mas 76% das mulheres dizem já ter vivenciado alguma situação de humilhação ou violência (gritos, xingamentos ou qualquer tipo de discriminação). Entre os homens esse índice é de 68%.
Por isso, para Gicélia, “é necessário forçar o debate para o despertar da consciência de que as mulheres não devem ser culpabilizadas pela violência sofrida e desconstruir esse machismo imposto pelo patriarcado”.
As mulheres buscam independência financeira no trabalho, disseram 69% das pesquisadas. Entre os homens esse índice é de 60%. Já 68% das mulheres acreditam ter menos possibilidades de serem promovidas por serem mulheres e mães.
A pandemia agravou a situação. Pela opinião de 92% das mulheres entrevistadas, a pandemia trouxe mais prejuízos a elas com o acúmulo de tarefas domésticas e cuidados com os filhos. Entre os homens 84% acreditam nisso. Além de ter aumentado durante a pandemia, a violência doméstica piora o desempenho no trabalho, afirmam 69% das mulheres.
A insegurança no mercado de trabalho também cresceu mais para as mulheres durante a pandemia. O estudo aponta que 64% delas relataram aumento no medo de perder o emprego, entre os homens 61% viram esse medo crescer. Já 34% delas e 30% deles perderam o emprego por causa da pandemia.
Enquanto 78% das mulheres relataram sobrecarga de trabalho causada pelo isolamento social e o home office, entre os homens 65% disseram ter aumentado o trabalho no período. O trabalho doméstico aumentou para 72% das mulheres e 45% dos homens.
Celina realça a importância da Convenção 190 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que preconiza a extinção do assédio e da violência no ambiente do trabalho. “Pesquisas como essa reforçam a importância da nossa luta por igualdade de direitos entres os gêneros no mercado de trabalho e na sociedade”.
De acordo com ela, é necessário aumentar a presença da mulher em cargos mais elevados no mercado de trabalho e nos movimentos sociais, assim como no movimento sindical. “Quanto mais mulheres tivermos em cargos de direção em todas as instâncias, mais conseguiremos dar visibilidade à nossa luta por igualdade de gênero”.
Texto em português do Brasil
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Jornalista, assessor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo