Em reação a um “pacotaço” anunciado pelo presidente do Equador, Lenín Moreno, a população promoveu paralisações e saiu às ruas de todo o país na quinta-feira e apesar da repressão desencadeada as manifestações continuam nesta sexta-feira (4).
Taxistas, motoristas de empresas de transporte urbano, de transporte escolar e de caminhões pararam as suas atividades e participaram das mobilizações, a que se associaram organizações sociais, sindicatos, trabalhadores de diversos setores e estudantes, na capital, Quito, e noutras cidades do país andino, informa a Prensa Latina. O sistema de transporte no Equador já está paralisado há dois dias, afetando inclusive o tráfego aéreo internacional no país.
O “pacote” de Moreno inclui uma redução de 20% nos salários dos funcionários públicos, uma reforma previdenciária que prevê a diminuição das pensões e a privatização da previdência e a retirada do subsídio estatal à gasolina e ao diesel, o que fez o preço dos combustíveis disparar mais de 120% em apenas 24 horas, o que se refletirá, inevitavelmente em aumento de todos os tipos de produtos e serviços.
As medidas anunciadas por Moreno são exigências do FMI, a quem Moreno suplica um empréstimo de 10 bilhões de dólares.
Os protestos foram massivos e chegaram às portas do palácio presidencial. A polícia reprimiu com violência e os manifestantes reagiram. O presidente Lenín Moreno – que foi eleito defendendo as bandeiras progressistas da Revolução Cidadã, liderada por Rafael Corrêa, e depois mudou de lado – decretou então estado de exceção durante 60 dias, período em que são proibidas manifestações públicas e fica suspenso o direito de reunião.
Apesar disso as manifestações continuaram por toda a sexta-feira. Segundo admite a própria ministra do interior Maria Paula Romo, já foram presas 350 pessoas, incluindo líderes sindicais.
Entidades a serviço do imperialismo, como a OEA, tão céleres em bradar contra a “repressão” na Venezuela, até agora não se pronunciaram sobre as medidas antidemocráticas adotadas pelo presidente equatoriano. A mídia hegemônica brasileira, certamente envergonhada de mais uma experiência neoliberal que se desmoraliza, ou esconde o fato ou minimiza as razões do protesto.
No site UOL (Folha de S. Paulo), notícias sobre a rebelião no Equador são encontradas apenas na lista da área internacional, na 22ª posição, atrás de, por exemplo, um texto que reporta a surpresa do presidente da Fifa ao tomar conhecimento do calendário do futebol brasileiro para 2020.
O analista internacional Amauri Chamorro, que mora no Equador, ouvido pela Revista Fórum, destacou que “a população tem sofrido com os reflexos da implementação de políticas neoliberais por parte do ex-correísta”. Chamorro considera Lenín não somente um traidor, mas também como um infiltrado, devido a descoberta de seus laços com a embaixada dos EUA. Segundo o analista, o que aconteceu no Equador para o país chegar a ponto de ebulição foi a “formula do fracasso”. “O FMI implementa no Equador uma série de regras, de modificações da política econômica para poder liberar um empréstimo de 10 bilhões de dólares, que é quase 10% do PIB do Equador em um só empréstimo, algo absolutamente fora do comum”, declarou.
De acordo com informações da Prensa Latina, a prefeita de Pichincha, Paola Pabón, declarou que “O estado de exceção justifica a repressão do povo. Pessoas que estão nas ruas por causa das medidas injustas de @Lenin”. Também em declaração à Prensa Latina, o deputado Carlos Viteri, considerou o decreto como uma medida antidemocrática, enquanto para o deputado Bairon Valle, “a decisão busca silenciar as vozes de protestos populares que surgem em todo o país”.
Durante esta sexta-feira a Revolução Cidadã – Compromisso Social, divulgou duas notas onde denuncia:
350 detidos ilegais, dezenas de feridos, detenção ilegal de líderes sindicais, sociais e indígenas que ajudaram a organizar a greve, o uso de força indiscriminada, como a busca arbitrária dos lares dos líderes mencionados acima em todo o país. 20 das 24 províncias estão completamente paralisadas (…) Por isso, pedimos ao presidente da Assembleia Nacional que convoque uma sessão extraordinária para lidar com o estado de emergência e o pacote econômico, bem como usar os meios constitucionais para solicitar a renúncia de Moreno e oferecer a renúncia de todos os membros da assembleia visando convocar eleições gerais”.
O Foro de São Paulo se manifestou através de uma nota da Secretária-Executiva, Mônica Valente:
A Secretaria Executiva do Fórum de São Paulo expressa sua preocupação perante o Estado de Exceção Nacional declarado pelo governo Lenín Moreno no Equador (…) Defendemos o direito dos povos a manifestar-se livre e pacificamente contra os atos governamentais que considerem lesivo e rechaçamos a repressão do governo ante esta manifestação democrática das e dos equatorianos”.
Lenín Moreno, porém, não dá sinais de ceder. Disse que será duro com os manifestantes e que irá manter todas as medidas do pacotaço: “Quando eles (a oposição) forem presidentes poderão executar seus planos, no momento eu sou o presidente e tive que tomar decisões, e não aperto a mão para fazê-lo”, disse Moreno. A aposta do presidente equatoriano, portanto, está clara: a repressão irá fazer muchar as manifestações, mas para Amauri Chamorro, na já mencionada entrevista à Revista Fórum: “se Lenín não mudar a sua proposta, e eu acho que vai ser muito difícil ele mudar, ele não chega a dezembro. Lenín Moreno não tem apoio popular. Ele não tem nenhum apoio popular. […] Quase sempre que a população sai para rua no Equador do jeito que saiu hoje, cai o presidente da República”.
por Wevergton Brito Lima, da redação do i21/Portal Vermelho | Texto original em português do Brasil
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