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HomeCulturaRexyclagem e a deliciosa inutilidade do amor

Rexyclagem e a deliciosa inutilidade do amor

O mundo é meu, posso andar nu se quiser. Assim pensa e faz o homem. E pode o homem. Mulher, não, porque ela não está no mundo dela: tem que vestir-se apropriadamente para sair à rua. Foi o que Laerte descobriu.

  • 23 Novembro, 2017
  • Christiane Brito, em São Paulo
  • Posted in Cultura
  • 3

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Laerte é nome de homem e de mulher, mas Laerte é mulher.

Fácil reconhecer isso quando ela muda de ideia em instantes e não sabe o que dizer. Ou fazer.

Fácil reconhecer quando ela tenta escolher vestidos em uma loja e afinal não escolhe nenhum, mas gosta ou desgosta de todos.

Fácil saber quando penetramos a sensibilidade dela e a vemos emocionada com o sofrimento ou a alegria do outro, um outro que não é ela, porque mulher sente mais fundo que homem. Mulher se dói toda pelo outro.

Não é preconceito meu contra homem, é que sou mulher.

Laerte assumiu que era mulher com 60 anos, nem pôde curtir a juventude do corpo, mas é linda, é sensual, e vai à luta com todas as contradições!

“Laerte-se”, o documentário, fala de amor e a nossa cartunista que nunca quis, quererá menos agora, cagar regar em uma tira de jornal com cinco ou menos quadros, diz o que penso e sinto. Principalmente sinto.

Amor é um país, não importa com quem o visitemos, é um lugar especial de ultrapassamento de toda dúvida, culpa, preconceito, prisão de ideia; é o templo do prazer infinito e do deslumbramento com a vida. O companheiro não precisa ter nome, é quase sempre um desconhecido que nos realiza mais do que todo desejo:

“Passeávamos às vezes, braço dado, sob os cedros e as olaias e nenhum de nós pensava em viver. A nossa carne era-nos um perfume vago e a nossa vida um eco de som de fonte. Dávamo-nos as mãos e os nossos olhares perguntavam-se o que seria o ser sensual e o querer realizar em carne a ilusão do amor…”

Quando Laerte refere-se à sua experiência de amor, que durou talvez um mês (afirma), penso em Fernando Pessoa e o seu célebre “Na floresta do alheamento” (de onde retirei o trecho acima). Acadêmicos podem dar a interpretação que quiserem a esse poema em prosa, mas, desde 1984, quando o li em plena vivência do amor no alheamento lindo da floresta adiante de qualquer mapa, identifico a prosa poética com esse sentimento que não pode ser catalogado, dogmatizado, radicalizado em teorias. É preciso viver e pronto.

René Magritte, Lovers, de 1928

As pessoas andam se esquecendo do que é viver e pronto, precisam explicar, encher de razões para justificar atitudes, inflam-se mesmo com arrogância, que torna verdade qualquer opinião ligeira  — aqui refiro-me à confusão no mundo e à confusão de esquerda-direita. Esquerda não poderá ser mais nada se não fizer autocrítica pública e um exercício de mudança que ultrapasse roda intelectual, como dizem alguns pensadores que respeito. De nada adianta análises complicadas em textos mais complicados ainda lidos por um público restrito. Querem “ensinar ao povo”. Não se incluem no povo, são intelectuais em voo rasante sobre o planeta. Ora se são, como se enganam desgarrados de toda gente, teóricos do que virá se virá, do que era 1917 e não é hoje, ignoram.

Nesse sentido, sou preta, periférica e pobre. Sou guerreira, só não atingi o estágio do poeta, não tenho vocação.

Mas essa é outra história, voltando a Laerte, minha musa. Laerte não pôde ser um homem que amava os homens aos 17 anos porque era comunista, e comunista discriminava maricas.

Laerte, também, culpou-se por atos lamentáveis de discriminação. A esquerda a que pertencia (todas as esquerdas que existiam, sem contar as direitas) não admitia homossexuais.

Então nossa talentosa e “obediente”, na confissão da própria, artista esperou 40 anos, a dor insuportável de perder um filho, Diogo, para ter certeza de que não se identificava com machos. Virou mulher porque até foi mais fácil, mulher que ama homem é aceitável na nossa sociedade retrógrada. Laerte faz essa reflexão e me ensina.

Laerte não é aguadeiro de verdades represadas em um belo monte, é uma cachoeira de questionamentos, desanda abaixo acima circula pedras e supera abismos para chegar ao mar aberto da liberdade.

É como eu. Eu tenho peito, ela não, porque sou mulher, mas que trabalho isso dá, ser mulher. E ela anda questionando-se sobre colocar peito de silicone, quer e pode, mas (tem que ver o documentário para entender)…

Laerte sente-se velha e nem viveu a menopausa, mas, se vivesse, nós mulheres seríamos mais acolhidas porque teríamos uma voz a tentar nos explicar o que é essa passagem para a invisibilidade, para a infertilidade, para hormônios a menos e doenças a mais. Não reclamo por mim.

Laerte sabe que os anos 1960 foram mais fáceis em termos de ser da resistência, oposição à guerra e ao poder que chacina civilizações. Havia maniqueísmo, hoje a complexidade turvou essas engrenagens.

Tudo mudou e não sabemos nem onde estamos nem onde podemos chegar. A guerra, sim, penso que virá, veio, porque é um grande impulso ao capitalismo no sentido financeiro. No entanto, o capitalismo prescinde de democracia, se ela realmente acabar, o sistema se sustenta.

Volto a Laerte, quero falar de amor.  Quero dizer que “Laerte-se” é um documentário imperdível.

Talvez transformar Laerte em “verbo” seja mais do que oportuno: a nossa cartunista, brasileira, ousada (diz que não é, diz que não precisou coragem para a transformação porque não corria risco de perder nada, nem família nem trabalho, discordo, é sempre corajoso ser o que se é, a sociedade quer que sejamos o que a sociedade quer que sejamos, de acordo com nossa idade, sexo, origem, raça, etc), é exemplo para todos e símbolo do que não se pode perder com o reacionarismo de todo gênero.

Gostaria de ser tanta coisa que não sou, achava que ser transexual era uma grande alegria pela descoberta de um novo percurso, pelas possibilidades a conferir, mas não: ser humano e sensível é sempre uma tristeza quando descobrimos que sensibilidade machuca e não é “naturalmente” humano, é uma profundidade a ser escavada no ser.

Ando achando que crueldade tem a mais ver com humano, o animal racional, racionalidade que, ainda bem, que nunca será compreendida nem compartilhada pelos animais irracionais. A não ser que o planeta dos macacos, série de filmes norte-americana, se torne realidade. Não creio.

Para finalizar, retomo Fernando Pessoa, quando ele mesmo se contradiz tão verdadeiramente. Confessa que amor é inútil, mas deixa implícito que é imprescindível ao gozo do viver:

 “Ali vivemos um tempo que não sabia decorrer, um espaço para que não havia pensar em poder-se medi-lo. Um decorrer fora do tempo, uma extensão que desconhecia os hábitos da realidade do espaço… Que horas, ó companheira inútil do meu tédio, que horas de desassossego feliz se fingiram nossas ali!… Horas de cinza de espírito, dias de saudade espacial, séculos interiores de paisagem externa… E nós não nos perguntávamos para que era aquilo, porque gozávamos o saber que aquilo não era para nada.”

(Fernando Pessoa, em “Na Floresta do Alheamento)

A autora escreve em português do Brasil

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Jornalista, escritora e eterna militante pelos direitos humanos; criou a “Biografia do Idoso” contra o ageísmo.  É adepta do Hip-Hop (Rap) como legítima e uma das mais belas expressões culturais da resistência dos povos.

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