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Quinta-feira, Abril 25, 2024

Sobre a tragédia de Pedrógão Grande

António Garcia Pereira
António Garcia Pereira
Advogado, especialista em Direito do Trabalho e Professor Universitário

Neste momento, são já 62 os mortos confirmados no grande incêndio de Pedrógão Grande. E, infelizmente, tal número deverá ainda vir a ser superior.

Trata-se de uma tragédia terrível que, antes de tudo o mais, só pode suscitar a nossa mais sentida e profunda solidariedade para com os familiares e amigos daqueles que morreram desta forma tão trágica e tão horrível. E também com aqueles que, ainda agora, nada sabem dos seus entes mais queridos.

Mas, logo que estejam completadas todas as operações de socorro e de rescaldo, é absolutamente imperioso discutir, a sério e a fundo, as razões da ocorrência e sobretudo da dimensão de uma tragédia destas e as responsabilidades que é preciso assumir. Até para que outras tragédias como esta não se lhe sucedam. 

Há, com efeito, questões a que não se pode deixar de dar a devida resposta. Desde a inexistência de uma autêntica política florestal e do reinado quase absoluto do eucalipto a soldo das grandes empresas da indústria do papel, à repetida ausência de verdadeira limpeza das matas e florestas e da abertura de asseiros e caminhos; desde a teoria das “épocas” dos fogos (como se hoje em dia os riscos só existissem nessas mesmas “épocas”) aos meios existentes, sobretudo para o ataque imediato e em força no início dos mesmos fogos (recorde-se, por exemplo, que dos 6 helicópteros pesados Kamov só 3 estão operacionais!!); desde a inoperacionalidade dos meios de comunicação (como é possível que o SIRESP – Sistema de comunicações entre as várias entidades de socorro e segurança -, grande negócio do Grupo BPN que depois António Costa chancelou, tenha evidenciado de novo grandes debilidades!?) à própria forma de coordenação, célere e eficaz, dos meios disponíveis e à ausência de contactos e de avisos atempados às populações.

E, mais! Como é possível pretender que, com previsões meteorológicas de temperaturas da ordem dos 40º, de possíveis trovoadas secas e de ventos fortes e instáveis, incêndios de grandes proporções como este fossem algo de completamente improvável e imprevisível?

Temos definitivamente de deixar de ser um País em que estas questões só são discutidas depois de as tragédias ocorrerem e de inúmeras vidas serem ceifadas!…

 

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