Na origem remota do que nos trouxe até aqui esteve a interpretação da miríade de sinais que, por todo o lado, se avolumavam indiciando de forma coerente o caminho inexorável do retrocesso civilizacional, ostensivamente visível na proliferação de tensões características dos períodos que antecedem as guerras, na emergência de fenómenos políticos como o populismo e o nacionalismo exacerbados, no retorno ao ensimesmamento dos países, ao proteccionismo económico, às rupturas sociais, económicas e políticas!
Aos mais atentos não terão escapado, decerto, as evidências de que a 3ª guerra mundial já começou há muito tempo. É certo que ainda não atingiu a expressão militar e geográfica de conflitos precedentes. Mas é igualmente certo que as potências, regionais e mundiais, vêm procurando controlar os canais por onde corre a seiva que nutre as diversas manifestações do poder. Os “teatros de operações” são, por agora, a informação e a economia, com especial relevo para a energia, as matérias-primas e as dívidas soberanas.
A suspensão da Guerra Fria, tal como a conhecíamos, a par da globalização dos movimentos de capitais, foram o cadinho prolixo onde germinou a mudança de paradigma que permitiu à economia financeira ganhar ascendente sobre a economia real e sobre a política. Foi neste contexto que surgiu uma nova moeda universal – chamada dívida – fora do controle de Estados e Governos, alheia aos regimes, que cresceu tanto que tomou como reféns as instituições sociais, económicas e políticas.
A obscena desigualdade na distribuição dos recursos veio expor de forma impiedosa as linhas de fractura latentes e servir o desiderato de desagregação das sociedades, criando novos pontos de ruptura, disseminando a desconfiança, o medo e um sentimento generalizado de competição entre aqueles que, doutro modo, facilmente encontrariam mais pontos de comunhão que de conflito.
Jovens contra “velhos”, trabalhadores do sector público contra os do privado, homens contra mulheres, nacionais contra “estrangeiros”, campo contra a cidade, subúrbios contra as metrópoles, de uma religião contra outra. Em resumo, conflitos intestinos entre pobres a fim de os entreter e distrair do monumental saque de que todos, sem excepção, foram vítimas. Um mega-esbulho com o beneplácito de muitos protagonistas da política sedentos de queimar etapas na sua ascensão social e enriquecimento rápido.
A informação, e o seu controle, tiveram, e têm, papel decisivo em toda esta manobra. Se a desunião enfraquece a desinformação debilita ainda mais. Quando nos privam das balizas, das referências que conhecemos, abandonando-nos sem bússola nem astrolábio em territórios não-mapeados em que o “outro” é um provável adversário, quando não inimigo, amplificam as emoções de solidão, de fraqueza, de impotência, de inevitabilidade presentes no “fantasma” profundo do sentimento de abandono que existe em todos nós.
E a informação prestou-se jovialmente a desempenhar este papel. A ditadura dos números das audiências, o fosso etário e salarial entre os novos jornalistas e os seniores, a ambição de “subir” depressa num mundo em acelerada mudança de ferramentas e de paradigmas, conduziram à liquidação das redacções transformando-as em campos de batalha sem regras, adequadas ao triunfo dos mais oportunistas.
Em consequência desta fractura multiplicaram-se os erros. A paralaxe tomou conta da própria percepção dos jornalistas que, também por comodidade, deixaram que a Agenda passasse a ser feita alhures, aceitando a condição de serem não agentes e intérpretes dos acontecimentos mas sim meros objectos que comparecem aos eventos de agenda desenhados por outros. Não raro sem direito a perguntas. E mesmo que houvesse espaço para elas… os cursos de jornalismo que os formaram encarregaram-se de lhes suprimir a capacidade de pensar e de fazer perguntas, bem como de os privar da cultura indispensável ao pensamento crítico. O hedonismo e o epicurismo reinantes afastam qualquer laivo de decência, de sentido ético. O regresso da competição desregrada e selvagem evidencia o “apagão” de milénios de evolução civilizacional. O ecossistema é de novo hostil, ameaçador, onde o consumo assume simbolicamente o papel do território, das fêmeas, da sobrevivência do ADN.
A informação transforma-se num processo de condicionamento “neo-pavloviano” e a “hipnopedia” é realizada no estado de vigília. A media e a comunicação assumem alegremente o papel de criadores de categorias e de igualização: Alfas, Betas, Gamas, todos têm o seu lugar desde que não o contestem e nada os inquiete. Não um mas vários rebanhos, cada um com as suas referências e idiossincrasias, convicto de que as suas diferenças o distinguem sem se perguntar acerca da origem da iconografia que assume. Cada vez mais iguais com a convicção de serem mais diferenciados e individuais.
Este trabalho sujo foi realizado pelos OCS, através do entretenimento e da informação, onde o instantâneo substituiu o saber, onde a quantidade tomou o lugar do rigor e da qualidade, onde a superficialidade desalojou a análise e a reflexão. Um mundo em estado acelerado mas sem fruição. Invariavelmente frustrado, insaciado, infeliz. Onde a paz advém apenas da alienação e do aturdimento.
É em ruptura com este quadro que emerge o Projecto Tornado. Com a muito ambiciosa missão de ir contra-corrente, não copiar nenhum projecto existente, sem modelos, portanto, mas com um escopo muito definido: “retardar” o tempo mediático, oferecer valor em vez de celeridade. Ser o lugar da reflexão, de tomar o tempo necessário a entender, do saber e do conhecimento.
Claro que em nenhum caso seria este um projecto fácil de realizar.
E, aí estão as conquistas e os resultados obtidos nos escassos 18 meses de vida do Jornal:
- 1.500.000 visitantes únicos (no período de 6 de Maio a 31 de Dezembro de 2016)
- Redacções em Timor, Moçambique, Angola e Brasil;
- Correspondentes em Los Angeles, Bruxelas, Genebra e Norte de África;
- Presença em todo o território nacional, directamente ou através de Parceiros;
- Presença na Diáspora.