Porque mal conhece Almada ofereci-lhe boleia. Deixei-o à porta e só lhe retomei o rasto quando no final se deu o reencontro. De regresso a casa, perguntei a sua opinião, lançando-lhe um “Que tal?”
– Nada me surpreendeu! A disciplina, o controlo, o rigor no cumprimento dos tempos das intervenções, os discursos…
– Bruno, o Congresso é o corolário de meses e meses de trabalho “em 2151 reuniões, plenários e assembleias, com a participação de mais de 20 mil militantes, num processo de discussão democrática, cimentando a unidade e coesão” e que já teve expressão neste primeiro dia de Congresso.
– Sabe?, interroga Bruno
– Diga.
– A maior surpresa deste meu primeiro Congresso, sou eu próprio! Julgava que depois de ouvir tanta intervenção, desligava. E não foi isso que aconteceu… e dei comigo a pensar que não houve nenhuma intervenção fraca. Talvez ao ler possa ter outra ideia, mas ouvir é outra coisa. Percebe-se que há força e energia na voz, que há convicção, que há vontade em seguir em frente, que há vontade… revolucionária!
E depois fomos comentando o discurso de abertura do Jerónimo, a sua estrutura cuidada, as frases construídas por palavras simples e directas, a dinâmica da leitura e a capacidade de, apesar da extensão, prender a assistência que sublinhava as partes mais fortes com prolongadas salvas de palmas. Falámos de quais as intervenções mais serviam para os nossos objectivos locais e ficou o compromisso de editarmos a intervenção do Bernardino Soares, na página lá de Oeiras.
Chegámos ao local onde tivémos de nos despedir, combinando a hora em que iria passar no dia seguinte. Fosse o trajecto um pouco mais longo e falaria ao Bruno do que o Público tinha publicado sobre o Congresso passado:
“Os congressos do PCP são diferentes, não só porque o que se passa na sala é importante, nem apenas porque os discursos são verdadeiramente políticos e programáticos, mas também porque o PCP é um partido diferente.
Todavia, essa diferença é feita de evolução e o PCP que sai do XIX congresso não é o PCP que chegou a Almada na sexta-feira, e muito menos o PCP de há uma ou de há duas décadas. Mais: o PCP pode até ser considerado um partido a anos-luz de diferença do que foi no passado. É hoje um partido que mantém toda a identidade e simbologia comunista, marxista-leninista, a sua matriz revolucionária, a sua natureza de classe e a sua atitude de vanguarda da classe operária e dos trabalhadores.”
«No Público, hoje» em 4 de Dezembro de 2012