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João de Sousa

Sábado, Abril 27, 2024

A geração Tik Tok

Paulo Casaca, em Bruxelas
Paulo Casaca, em Bruxelas
Foi deputado no Parlamento Europeu de 1999 a 2009, na Assembleia da República em 1992-1993 e na Assembleia Regional dos Açores em 1990-1991. Foi professor convidado no ISEG 1995-1996, bem como no ISCAL. É autor de alguns livros em economia e relações internacionais.

Causou grande comoção na opinião pública americana a popularidade da carta de Bin Laden, datada sensivelmente de um ano depois do massacre do 11 de Setembro, promovida pela cadeia chinesa de informação ‘Tik Tok’.

Bin Laden, no estilo típico do fanatismo islâmico, fez na altura a economia dos factos – em lado nenhum diz que foi ele o responsável pelo massacre de milhares de civis – para fazer pairar a ideia de que a sociedade americana teria de espiar uma culpa colectiva resultante do que seria a existência de Israel.

Lembro-me bem como nessa altura eu ficava atónito ao ouvir no mundo árabe pessoas aparentemente racionais culpar simultaneamente a CIA pelos massacres e reverenciar Bin Laden pela sua autoria. Outras versões, pelo menos mais consequentes, faziam de Bin Laden um agente da CIA, ou do sionismo internacional, ou limitavam-se simplesmente a ignorar os factos e a expelir ódio.

Hoje, a propósito do 7 de outubro, constato que o que era algo explicável pela doutrinação fanática e total desinformação sobre a realidade existente em países sem tradição democrática se encontra totalmente espalhado entre nós, como o explica Frank Furedi no Spiked.

E, finalmente, alguém se lembrou de que a agência de informação chinesa se tornou o principal meio de informação em largas camadas da juventude e que, a República Popular da China, negando o direito dos seus cidadãos à prática do Islão (como de resto de qualquer outra religião) sem um apertado controlo estatal, propagandeia livremente toda a desinformação jihadista iraniana ou outra.

Só para algumas cabeças ingénuas ou mal informadas é que se trata aqui de religião, tudo o que se pretende é desfazer o sistema de valores com que foi construída a presente ordem internacional.

E como eu coloquei em evidência aqui há quinze dias, há também quem se lembre que é o emirato do Qatar através da Al Jazeera que é a referência para o noticiário ocidental no Médio Oriente, como de resto é também o Qatar o principal financiador das universidades de onde saltou a juventude alienada a fazer coro com o terrorismo jihadista e que, através de esquemas como o Qatargate capturou a agenda política ocidental.

Isto, claro para não falar do à vontade com que – usando sistemas de informação sem segurança especial – o Irão dá ordens a uma rede dos seus colaboradores colocados nos lugares mais importantes do aparelho de Estado norte-americano. E também por isso, os enormes absurdos de Bin Laden sobre o 11 de setembro voltaram a ganhar direito de cidadania com o 7 de outubro.

A irracionalidade colectiva e os seus mecanismos psicológicos são constantes humanas a não esquecer, sem os quais nada disto seria compreensível, mas estou em crer que o problema principal com que nos defrontamos hoje é outro: é o fanatismo do dinheiro.

É a ganância que levou os nossos dirigentes a escancarar as portas aos nossos inimigos no domínio que é o mais sensível, o da educação e informação. Enquanto não quisermos enfrentar esta realidade não creio que tenhamos solução à vista.

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