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Terça-feira, Abril 23, 2024

A servidão voluntária

Beatriz Lamas Oliveira
Beatriz Lamas Oliveira
Médica Especialista em Saúde Publica e Medicina Tropical. Editora na "Escrivaninha". Autora e ilustradora.

Acredito que em condições de liberdade todo o indivíduo se desenvolva num sentido criativo.

Se cada criança conseguir dos outros, sobretudo do meio familiar que é a envolvente social primeira, o espaço de liberdade suficiente para explorar a sua relação com o mundo, incluindo a exploração dos medos, das incertezas, das capacidades, das experiências gratificantes e das experiências dolorosas, então podem surgir dessa relação a emergência de todas as suas competências. Vai tornar-se num adolescente seguro e mais tarde num adulto confiante nas capacidades que adquiriu.

Poderá sentir-se de acordo entre aquilo que reconhece de si mesmo e aquilo que irá sendo capaz de construir  para dar sentido à vida e descobrir métodos pessoais de o fazer.

Uma condição oposta da envolvente familiar pouco afectiva leva alguns seres humanos a  buscar  contínua  gratificação e prazer, na submissão, no apagamento, mesmo na humilhação, isto é numa forma de servidão voluntária.

Qual pode ser a representação de si mesmo e do mundo que determina a abdicação da criatividade, a desistência da afirmação pessoal, ou a inabilidade de estabelecer relações a um nível de igualdade?

À servidão voluntária de uns, pressupõe-se o exercício do poder por outros.

Quanto o exercício neurótico do poder precisa um servo que invista no amo e o sinta tão legitimo que apenas o deseje servir. Ou de outro modo: o poder exercido pelo dono é tão subtil que o escravo nem lhe sente o peso, porque a punição de uma impossível desobediência passa pela própria e permanente censura?

Esta relação de servidão pode surgir entre marido e mulher, pais e filhos, patrões e empregados. Entre amigos. Entre namorados. Pode ser este desejo de auto imolação, auto mutilação, que faz com que pessoas sensíveis, inteligentes, capazes, dignas, brilhantes, se anulem para obterem o prazer de agradar ao outro. Muitos casamentos e amizades persistem longamente no tempo porque esta relação de poder e submissão é a única que as une como ferro em brasa.

A subserviência pode parodiar a humildade, e torna-se abjecta.

Por vezes, a consciência nebulosa da servidão voluntária, surge.

 – Quem é que eu não sou?_ perguntará um dia o escravo ao espelho.

“De Profundis”, de Oscar Wilde, uma carta de expiação humilhante escrita na prisão e dirigida ao seu amante Alfred Douglas, é um dos livros que singular e violentamente relata o prazer que pode causar a submissão. De tal forma que o manuscrito de 1908 só pode ser publicado em 1960. É obra!


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


 

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