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Quinta-feira, Abril 25, 2024

Esse governo nos representa sim. E a culpa também é nossa.

Carolina Maria Ruy, em São Paulo
Carolina Maria Ruy, em São Paulo
Pesquisadora, coordenadora do Centro de Memória Sindical e jornalista do site Radio Peão Brasil. Escreveu o livro "O mundo do trabalho no cinema", editou o livro de fotos "Arte de Rua" e, em 2017, a revista sobre os 100 anos da Greve Geral de 1917

A ideia do AI-5 alerta e incomoda todo mundo. A menção escabrosa do ex-funcionário do Pinochet, hoje lacaio de um presidente fundamentalista fanático, une em uma só voz repúdios de Bruno Covas, Rodrigo Maia, Orlando Silva, Jandira Feghali, Ciro Gomes, Miriam Leitão e Merval Pereira.

Todo mundo menos a seita bolsonarista, que se alimenta de ódio e medo e que enfeitiça uma população marcada pela secular desinformação, falta de senso crítico e tendências ao sensacionalismo – condição sedimentada ao longo de 519 anos, com algumas tentativas de rupturas, comprovada empiricamente com as eleições de Bolsonaro, Witzel e Dória, em 2018.

Ontem, dia 26/11, após a grande repercussão da fala de Paulo Guedes sobre a possibilidade de resgatar o quinto ato institucional da ditadura militar, falei em um grupo: “Pior é que o povão tá nem aí pra AI-5. A maioria nem sabe o que é isso, o que torna o assunto ainda mais perigoso”.

Marcos Verlaine, amigo jornalista inteligente e bem informado, respondeu: “Exatamente. Na tragédia da desinformação, no pós-redemocratização nada foi feito para informar ao povo sobre a ditaduras e suas nefastas consequências. Estamos pagando o preço!”.

Acrescentei ainda: “Nem mesmo a Comissão Nacional da Verdade cumpriu esse papel”.

Acrescento mais agora: se a Comissão da Verdade tivesse tido a coragem de punir os criminosos da ditadura, mostrando para a sociedade a condenação de torturadores, quem sabe poderia ser menos pior. Quem sabe não ficaria mais claro para todos do que se tratava quando Bolsonaro homenageou Brilhante Ustra.

Vejo no Facebook, no Twitter, Instagram e Whatsapp, pessoas afirmando que este governo não as representa. Ou afirmando: votei em Haddad ou Ciro, a culpa não é minha.

Pois eu digo. Esse governo nos representa sim. E a culpa também é nossa.

Falhamos miseravelmente em trazer a grande massa do povo brasileiro para o nosso lado. Falhamos em comunicação. Em transmitir de forma simples, clara e abrangente o que pesquisamos (ou vivemos) sobre os horrores da ditadura militar, adorada por Bolsonaro e seus lacaios.

Falhamos em achar que tudo bem colocar Michel Temer como o primeiro da fila na linha de sucessão. Em achar que, no fim, o impeachment não aconteceria. Em achar que recuperaríamos o controle em 2018, mesmo nos dando ao luxo, com nossos pequenos caprichos e preciosismos, de sairmos fragmentados para a disputa. Falhamos em subestimar Bolsonaro e em pensar que ele seria mais normal quando assumisse.

Do alto do nosso pedestal, nós da esquerda achamos que nossas verdades são tão óbvias que todos podem ver. Do alto das nossas verdades absolutas e do nosso complexo de superioridade, falhamos em falar e em ouvir.

O que podemos extrair do descaramento de Guedes é um sinal de alerta. Fiquemos alerta! Que o retorno de fantasmas que arrastam correntes na sala de estar do Brasil, possa nos dar um chacoalhão.


Texto em português do Brasil


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