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Domingo, Outubro 6, 2024

Apoiante de Bernie Sanders ataca Donald Trump… e Hillary Clinton

Robert-Reich
“Donald Trump não é um conservador. É autoritário”. Esta acusação vem de Robert Reich, ex-Secretário de Estado do Emprego na Administração de Bill Clinton e docente na Universidade da Califórnia.

Em entrevista ao site Democracy Now, Reich comentou as recentes polémicas do milionário candidato à Casa Branca pelo Partido Republicano, e foi taxativo: “não me parece que ele se importe com a democracia (…) acho que vê a democracia como um obstáculo ao que ele quer fazer”. Numa América onde tantas pessoas se sentem isoladas, onde não existem sindicatos e outras organizações fortes como mediadores, Reich teme que um “autoritário” como Trump represente um perigo.

No entanto, Robert Reich decidiu apoiar não Clinton, mas o seu rival, o senador Bernie Sanders. E explicou a sua escolha. “Tenho falado da concentração crescente de recursos e riquezas, bem como do poder que isso acarreta, há muitos anos. O problema é que isto não tem vindo a melhorar, está a piorar, a menos que exista uma mobilização, um movimento verdadeiro, que obrigue o grande capital a sair da política”, defendeu.

“Isto não se resolve por si só, e é por isso que apoio Bernie Sanders. Ele está a liderar um movimento para reverter o que temos visto, em termos de rendimentos e riqueza no topo”, acrescentou.

O site Democracy Now recordou a Reich uma carta aberta de economistas ao senador Bernie Sanders; nessa carta, os planos do pré-candidato democrata à presidência para estimular o crescimento económico são colocados em causa, e os antigos conselheiros económicos de Barack Obama afirmam que “por mais que quiséssemos, nenhuma investigação económica credível apoia impactos económicos desta magnitude”. “Fazer tais promessas vai contra a melhor tradição do nosso partido de fazer política baseada em factos, e mina a nossa reputação de partido que usa a aritmética responsável.”

Robert Reich reconheceu o direito destes especialistas em discordar das propostas de Sanders, mas sublinhou que o crescimento económico previsto com a aplicação da sua proposta (um crescimento que pode ir até aos 5,3% ao ano) já foi possível, no início da década de 1980, altura em que o desemprego nos EUA estava nos 3,9% ou 3,8%.

Para Reich, estas propostas e projectos de Sanders são credíveis porque “um single payer plan teria efeitos positivos extraordinários na economia”. “Neste momento, os cuidados de saúde representam 18% da economia. Se mudássemos o sistema, iria gerar uma enorme produtividade que libertaria recursos na economia e geraria as hipóteses de crescimento económico, bem como de baixar a taxa de desemprego numa forma que se pode ver nas projecções deste plano”. Robert Reich diz não desmentir os subscritores da carta, apenas discorda deles.

Em Fevereiro, o site Democracy Now entrevistou a antiga senadora do Vermont, Madeleine Kunin, que exerceu o cargo entre 1985 a 1991. A ex-senadora concorda em teoria com as ideias de Sanders mas pergunta-se “quem vai fazer acontecer ? Quem tem o temperamento para ser presidente?” e defende uma liderança feminina, alegando que “as mulheres trabalham melhor juntas”.

Reich recorda os grandes movimentos de mudanças sociais e políticas nos EUA, como o movimento dos direitos civis e dos direitos das mulheres, enquanto mobilização das massas, onde os cidadãos manifestaram a vontade de mudar a estrutura de poder no país, para explicar que é exactamente o que Bernie Sanders pretende: um movimento em larga escala para libertar a política da influência do capital.

No campo dos cuidados médicos, recorde-se que Hillary Clinton questionou o rival num dos debates, insistindo na pergunta de como se conseguiria combater “o sistema”, de como se chegaria à tal revolução preconizada pelo senador do estado de Vermont. Reich afirma que o caminho para tal mudança é a mobilização da população que vive fora de Washington, levar os cidadãos a focarem-se no que é importante, e exercer a liderança que sempre aposta para mais alto.

“O que me preocupa nos outros candidatos”, confessou o docente universitário”, “em especial Hillary Clinton, é que a mensagem parece ser de que não podemos aspirar a melhor, não podemos ser ambiciosos nem tentar ser corajosos, porque não vamos chegar lá. Para mim, essa é a mensagem errada”. O docente insiste na capacidade do povo americano de ser motor dessas mudanças, e recorda a História dos EUA, onde já existiram mudanças históricas, como a era dos direitos civis.

Apesar de criticar Hillary Clinton, reconheceu que esta foi a primeira-dama mais poderosa desde Eleanor Roosevelt, “senão mais poderosa ainda”, que aconselhava o marido de forma contínua. Sobre as acusações de que foi na Administração Clinton que se deu a escalada nas prisões em massa de afro-americanos, Reich disse que não lhe parecia justo “culpar alguém, mesmo que a primeira-dama, e mesmo que poderosa, por aquilo que o marido fez enquanto esteve no poder, há 20 anos atrás”.

Reich reconheceu que as leis da era Clinton chegaram a ser draconianas, mas acredita que não se podia responsabilizar a então primeira-dama pelos erros cometidos, e admite ainda que Hillary Clinton tem os seus próprios méritos e que seria melhor presidente que qualquer dos “idiotas republicanos que agora mandam”.

Mas insiste que há uma alternativa no Partido Democrata. Sanders assumiu que vai até ao fim, até à convenção do partido. O entrevistado acredita que a campanha não é tanto sobre Bernie Sanders mas sobre um movimento que se opõe à oligarquia dos EUA e contra a influência do grande capital na política; assim, Sanders quererá levar este movimento de mudança até à convenção democrata.

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