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Segunda-feira, Setembro 16, 2024

Banalizar a violência

Maria do Céu Pires
Maria do Céu Pires
Doutorada em Filosofia. Professora.

Maria do Céu PiresCom efeito, no grupo de questões de escolha múltipla uma delas apresentava um argumento cujas premissas se referiam ao futebol.

Este desporto invade o quotidiano de milhões de pessoas, invade a comunicação social durante horas e horas, comentários antes, durante, depois dos jogos e mais uma panóplia de entrevistas, depoimentos e reportagens.

E, neste alarido e entusiasmo geral, ninguém se detém dois minutos a pensar.

Seria interessante, por exemplo, mostrar o que acontece, aquando dos vários campeonatos, relativamente à construção de estádios e outras estruturas, o trabalho escravo envolvido, os desalojamentos forçados, etc.

Como também seria matéria para boa reflexão sociológica as motivações de quem enche estádios e dos comportamentos violentos que, com frequência, acontecem.

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Em Março foi notícia a humilhação provocada por adeptos holandeses do PSV Eindhoven em Madrid: atiraram moedas e depois pão a mendigas que se empurravam para serem as primeiras a apanhar a “esmola”.

Fizeram da humilhação espectáculo, como se aquelas mulheres fossem animais de circo. Segundo os relatos do acontecimento, perante a indiferença geral dos assistentes, apenas um professor de Filosofia manifestou a sua indignação.

Euro-2016-England-Fans-2Ontem, em Lille, um grupo de adeptos ingleses repetiu a proeza, atiram moedas a crianças de menos de 10 anos para as ver lutar.

Que seres são estes que se divertem humilhando crianças pobres? Que seres são estes que tratam pessoas desta forma, como objectos de diversão?

Afinal, parece que não há diferença entre estes “civilizados” europeus e os antigos latifundiários do Alentejo que atiravam moedas às crianças no dia de “Todos os Santos” e ficavam, da janela, a observar!

A ignorância, a maldade, o infra-humano desperta em qualquer momento e em qualquer contexto.

Pode ser no futebol ou em qualquer outra actividade ou espaço. Por isso, não basta defender que “o futebol é um desporto bastante igualitário”.

É preciso, também, prestar atenção ao que, de negativo, pode potenciar. No caso português, é igualmente necessário não esquecer a história.

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