O dinheiro passará a ser emprestado, sem juros, aos bancos, decidiu ontem o Banco Central Europeu (BCE). Mais: haverá 80 mil milhões de dinheiro público inventado para comprar as dívidas de toda a gente, incluindo das empresas (leia-se Deutsche Bank e companhia) por mês.
Isto é: a Economia faliu e o Banco Central sabe bem que nada na política de “austeridade” funcionou. Nem a economia alemã se safa, a França está em fanicos, os italianos sobrevivem cheios de medo, a Grécia e Portugal esperam que exista um helicóptero a largar dinheiro pelas ruas.
O que o BCE fez foi dizer ao falido: pega lá dinheiro sem juros e vai emprestar com juros às empresas e às pessoas. Mas ao mesmo tempo o BCE vai à rua comprar, no mercado, dívida das empresas que vão pedir empréstimos aos bancos. Em suma, é o carrossel perfeito. Se os Bancos e as empresas continuarem a ser liderados contra as pessoas, nada do que o BCE ontem anunciou irá funcionar, porque ambos querem apenas lucro máximo.
Desatar este nó só se faz quando o BCE e os europeus deixarem de ter nojo da coisa pública. Não faz sentido salvar privados que foram gananciosos e que acabam sempre de mão estendida aos contribuintes (sim, o BCE representa contribuintes), sem que o Estado possa mudar de atitude.
A desvalorização do Euro, que melhora as exportações, acarreta um drama de matérias primas, todas elas longe e em baixa nos mercados futuros. A Europa pagará mais pelas commodities, isto é, o ferro, a madeira, o cobre, para depois fazer telefones que vende a preços ligeiramente melhores porque a sua moeda vale menos.
Tudo é feito com dinheiro público que entra no sistema dos privados e que dá a estes lucros imediatos, porque o carcanhol vem a zero em custo, contra os oito por cento de taxas de uma qualquer Cofidis.
A solução é muito óbvia, tão óbvia que até aleija. Há que colocar o Estado no centro da economia, sob o primado da política estratégica do desenvolvimento de modelos económicos reprodutivos para criar empregos sustentáveis. Só que dar dinheiro a zero de custo aos Estados é pecado. Portugal continua a pagar entre dois e seis por cento pela dívida que contrai, contra os zero por cento do Santander, do BCP ou BPI, do Deutsche Bank…
Quem considerar isto ajuizado é porque não percebeu o que Marcelo disse sobre a “mão invisível”. Ou o que o PCP e a ala esquerda do PS e do PSD vêm dizendo há anos.
O caso é gravíssimo. Faz manchete em todos os países europeus. Todos.Mas temo que nem isto seja debatido nem interessante.
Afinal, não é de futebol que se trata.