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Sexta-feira, Julho 26, 2024

Carbono zero ou quase… (enquadramento)

Arnaldo Xarim
Arnaldo Xarim
Economista

Na actualidade não deve haver político, ou a tal candidato, que num ponto ou outro do seu discurso na fale de “alterações climáticas” e do objectivo “carbono zero”. A determinação da sua importância relativa compete a cada receptor da mensagem e deriva do grau de informação pessoal sobre o tema.

Depois das “alterações climáticas” terem dado lugar à ideia do “aquecimento global”, fenómeno que nos finais do século passado era particularmente atribuído à forte industrialização, iniciada na segunda metade do século XVIII com a Revolução Industrial, e às emissões de gases CFC, que reduziam a camada de ozono e originavam mais radiação e maior aquecimento, aponta-se hoje para o papel da intervenção humana na natureza, nomeadamente através da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, como o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4), o óxido nitroso N2O e o hexafluoreto de enxofre (SF6), emissões fortemente associadas a actividades como o desmatamento e a queima de combustíveis fósseis.

O ajustamento discursivo ganhou particular expressão quando na viragem do milénio se começou a revelar menos evidente a progressão do ciclo de aquecimento que até então se vinha registando, dando lugar à mais abrangente ideia de “alterações climáticas” que inclui a de “aquecimento global”, mas é extensível a outras variáveis além da temperatura; há por isso quem distinga os dois conceitos dizendo que o “aquecimento global” se refere ao aquecimento da Terra a longo prazo e as “alterações climáticas” abrangem as variações de temperatura e as suas consequências, como sejam o aumento ou a redução da precipitação atmosférica, a maior frequência de temporais, a intensificação das temporadas de furacões e o aumento ou a redução da humidade do ar.


Ler também Carbono zero ou quase… (uma abordagem)


Existem, em resumo, várias linhas de pesquisa sobre o tema, com conceituados investigadores a apresentarem opiniões diferentes em função dos resultados de estudos e pesquisas também diferentes; para uns o planeta está a seguir numa direcção, em resultado da actividade humana e da poluição ela associada, em que as alterações climáticas têm sido extremamente perigosas e significativas, e que se nada for feito de concreto estaremos a caminhar para uma situação caótica, com a subida do nível dos mares, a redução das áreas de cultivo, o que é muito importante, além de alterações na composição da própria atmosfera; outra linha de investigadores considera as alterações do clima a que temos assistido como parte de um ciclo natural.

Recentemente foi divulgado o papel de outro gás, o óxido nitroso, menos estudado, mas com um efeito muito mais potente (cerca de 300 vezes) que o dióxido de carbono e que resulta principalmente do uso excessivo de fertilizantes sintéticos à base de nitrogénio.

Independentemente de sabermos se o ciclo de relativo aquecimento está ou não encerrado e de quais os principais responsáveis, ninguém de bom senso negará os efeitos visivelmente perniciosos que a poluição maioritariamente originada na queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural) tem acarretado, pelo que a ideia da sua redução ou substituição deve ser contemplada.

Mesmo sabendo que o conceito de neutralidade carbónica se refere ao ponto onde as emissões de gases com efeito de estufa não ultrapassem a capacidade de as remover e não à total eliminação da emissão de dióxido de carbono (algo completamente impossível pelo simples facto de ele existir como subproduto da respiração animal e de ser um gás essencial à fotossíntese das plantas, mas que o nome sugere), importa ainda pensar um pouco sobre o muito que está associado à ideia de descarbonização das economias.

Será isto, então, razão mais que suficiente para abraçarmos incondicionalmente o objectivo do “carbono zero”? ou para o rejeitarmos liminarmente?

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