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Segunda-feira, Abril 22, 2024

Os novos ouros

Arnaldo Xarim
Arnaldo Xarim
Economista

Outro desses metais mais cruciais é o césio, que vale o dobro do preço do ouro, e do qual existem apenas três minas produtoras no mundo (apesar de recentes descobertas na província canadiana de Ontário) e todas elas são controladas pela China.

Após os dois anos de queda de preços que se seguiram ao pico de 2016, os metais preciosos tiveram em 2019 um grande ano. Seguindo-se ao mínimo de 1.180 dólares registado pelo ouro em Agosto de 2018 e confirmando as expectativas formuladas em Janeiro de 2019, o mercado reagiu em alta e no Verão assistiu-se a um ganho de mais de 200 dólares por onça de ouro, seguido de um período de consolidação até ao Natal, quando a ameaça de conflito internacional elevou novamente os preços. Novos máximos foram alcançados em muitas moedas e vários picos de curto prazo coincidiram com períodos de conflito ou incerteza internacional. Embora raramente o faça, até a imprensa escreveu nas suas manchetes que os stocks estavam nos níveis mais altos de sempre e que os preços começavam a estabelecer novos máximos de seis anos em quase todas as principais moedas. A forte pressão de compra em muitas frentes suportou esses preços após cada novo patamar de subida, fornecendo níveis significativos de suporte a essa tendência.

Mas o ouro não é o único metal raro a conhecer grandes movimentações à sua volta, com as atenções a orientarem-se agora para a necessidade de controle dos elementos das terras-raras que formam a espinha dorsal da tecnologia de ponta e da que lhe deverá suceder. Enquanto no Ocidente todos estão ocupados à volta das disputas que têm como elementos centrais o petróleo e o gás, Pequim tem-se mostrado especialmente preocupado com o monopólio dos metais mais preciosos e estratégicos.

No total, existem 16 metais que formam os elementos de terras-raras estrategicamente críticos do mundo, e a China controla o fornecimento de todos, porque domina mais de 90% da sua produção.

Entre estes metais encontra-se o lítio, recentemente popularizado entre nós pelas notícias e pelas polémicas em torno de concessões para a sua exploração, conhecido pelas suas aplicações em equipamentos militares, mas ainda mais como elemento fundamental na produção de baterias eléctricas.

Outro desses metais mais cruciais é o césio, que vale o dobro do preço do ouro, e do qual existem apenas três minas produtoras no mundo (apesar de recentes descobertas na província canadiana de Ontário) e todas elas são controladas pela China.

O césio é extremamente raro em todo o mundo, a ponto dos EUA o incluírem, a par com o lítio e o tântalo (especialmente utilizado na produção de componentes electrónicos, principalmente condensadores, para equipamentos de comunicações e na indústria automóvel), na sua lista de minerais críticos e determinante na luta tecnológica que se trava actualmente. Sem esses metais não é possível disputar a liderança e, obviamente, quem os controla retira daí natural vantagem.

Césio. Cesium/Caesium metal from the Dennis s.k collection (Wikipédia)

O césio é descrito como o mais electropositivo de todos os elementos estáveis da tabela periódica, o mais pesado dos metais estáveis e é extremamente pirofórico (inflama espontaneamente quando em contacto com o ar e explode violentamente em água ou gelo a qualquer temperatura acima de -116° C). Grande parte da procura de césio tem também origem na indústria de petróleo e gás, que o usa em fluidos de perfuração para prevenir explosões em poços sob pressão.

São ainda usados compostos de césio na química orgânica, inclusive para tratamentos contra o cancro, em catalisadores, em componentes de células fotoeléctricas e tubos de vácuo e em relógios atómicos (mecanismos de precisão indispensáveis no mercado das comunicações porque são vitais para a infra-estrutura de transmissão de dados de redes móveis, GPS e internet) o que significa que também possui importantes aplicações de defesa, incluindo detectores de infravermelhos, óptica, óculos de visão nocturna e muito, muito mais. Outra medida da sua importância estratégica é o facto dos EUA o terem deixado de fora das listas de tarifas que impuseram na sua guerra comercial com a China, o que por si só não assegura que esta não seja capaz de impor restrições na venda de césio aos fabricantes ocidentais, o que prejudicaria seriamente a sua indústria e impediria o desenvolvimento de equipamentos militares críticos.

A importância estratégica destes produtos pouca ou nenhuma referência costuma receber e exemplo disso mesmo é que embora raramente referido o controle chinês das terras-raras remonta aos anos 90 do século passado, foi instrumentalmente alcançado através do Sinomine Resource Group (sociedade sedeada na China que fornece principalmente serviços técnicos de exploração mineira), assemelha-se muito ao da OPEP no sector petrolífero – sendo disso claro exemplo a subida generalizada dos preços a partir da decisão chinesa, tomada em 2010, de reduzir as exportações o que provocou grandes subidas de preços em todo o mundo devido à natureza crítica desses metais para a indústria tecnológica – e, de acordo com o Wall Street Journal, já permitiu a manipulação do mercado para que os componentes de terras-raras fossem mais baratos na China do que fora do país, levando a que alguns dos principais fabricantes e indústrias de tecnologia lá se estabelecessem, onde poderiam obter essas matérias-primas a um custo menor.


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