Cólicas de político, que são sempre uma grande chatice. Os médicos nunca dão com o remédio certo, porque as cólicas têm sempre causas impossíveis de determinar. E os políticos, sabendo disso, curam os seus males com métodos de autogestão que dificilmente falham o alvo: vão ao WC as vezes que forem necessárias, nem que tenham de deixar por lá partículas segregadas do «escape».
Sérgio Inocente fingiu boa disposição junto do seu staff e repetiu-lhes a cantilena à qual estes já se começam a habituar e, pior, a tomar como verdade líquida. «Vamos ser poder nestas eleições, estamos preparados e fortes».
Quando se trabalha com demagogo metido a político o risco é esse: enlouquece-se com ele, ao mesmo tempo e no mesmo comprimento de onda. Um alinhamento que deixa qualquer agrimensor estupefacto!
Marcou um jantar com a sua equipa de campanha naquele restaurante de esquina, onde toca a banda que mais se bate por aumentozinhos de cachet.
A escolha não foi por causa da banda, até porque detesta o kuduro, mas pelo palco, que é sempre uma chance para «agitar» o eleitorado, com os slogans que copia da retórica dos ídolos que escolheu, como aquele que prometia viagens à lua para a rapazida conquanto lhe fosse garantido o voto.
Ídolo que nunca ganhou um único assento na assembleia do bairro mas isso parecia o que menos importava ao homem. O seu fascínio era a lua e, sobre ela, qualquer alusão era boa, da poesia estrambelhada às viagens irrealizáveis.
À sétima caipirinha de maracujá gigante do Uíge, uma tentação irresistível que andava a mimar desde que começou a sonhar com a vitória eleitoral, Sérgio Inocente sucumbiu ao microfone. Não lhe resistia, de todo. Como também não passava sem a erva do Bengo, que se diz superior em performance a qualquer uma que Bob Marley tenha consagrado ao longo da sua carreira de ganzas e experimentalismos.
E foi quando aos gritos se vangloriou do enorme feito da sua Aliança Patriótica Narcisista, APN: «Temos um ano e dois meses de existência, mas a vitória está no papo».
A plateia formada por comensais sossegados começou a encolher. Parecia uma evacuação num alarme de incêndio. Em dez minutos, iniciaria, ali, uma reunião de militantes do partido no poder. «Como vedes, não há condições para se fazer aqui o nosso encontro. Um maluco entrou por aqui e não fomos a tempo de o parar. Reunimos amanhã noutro local», ouviu-se.
O autor escreve em PT Angola