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João de Sousa

Sexta-feira, Abril 19, 2024

Dá-me um palácio, querido!

Luís Fernando, em Luanda
Luís Fernando, em Luanda
Jornalista, correspondente do Tornado em Angola

palacio

– Marido, será que a Margosa roubou-me as Rubchinskiy que pensava estrear na festa da prima Eneias?

– Mulher, é hora do telejornal…

– Marido, para ser uma «1ª dama» à altura, tenho de começar agora a ser chique. Mandaram-me essas Rubchinskiy directamente de Paris, aproveitando uns dias sem bombas por lá!

Dona Zumba Inocente puxou aquele sorriso amarelo estupidificado quando brincou com a ausência de bombas. E sentiu vergonha – «esquece a parte das bombas».

– Mulher, é assunto teu com a Margosa. Amanhã, ela vem trabalhar e fazes-lhes as perguntas todas, eu é que não me posso distrair num momento destes, com o telejornal no ar. E, já agora, que é isso de Rubinky ou Ruchinky que tanto te preocupa, Zumba?

– Marido, meu candidato querido, as Rubchinskiy são umas meias da moda que só as grandes mulheres como aqui a tua preciosa, usam. É uma marca para gente fina. Gosha Rubchinskiy.

Sérgio Inocente fez o que era decente e inevitável fazer: mandou mentalmente para o c….. as duas mulheres mais importantes da sua vida, Margosa, a empregada, e Zumba Inocente, seu grande e doce amor, e, se nada der errado, a futura ocupante da cobiçada cadeira de «1ª dama». Detestava que o interrompessem à hora das notícias, por uma infinidade de razões, a primeira delas a exigência que colocou a si mesmo de ser «vijú»* do princípio ao fim porque nisto de eleições, diz, ou estás de olho ou acabas no tapete porque não viste quando a arapuca estava a ser montada.

Fingiu que não se irritou com uma expressão facial que tinha acabado de ensaiar a pedido do staff de campanha, em antecipação aos dias em que tiver de enfrentar as câmaras num estúdio de TV a debater com outros candidatos as razões de se fazerem ao poleiro e porque se julgam merecedores do voto popular.

Zumba Inocente foi a primeira cobaia vencida e a certeza em pessoa de que o truque de teatro saíra perfeito. Plantou um beijo terno na testa do marido querido como quem deseja que dali nasçam mil inteligências sob a forma de cérebros de Albert Einstein e, com um sorriso coquete, serviu-lhe a seguir uma dose generosa de uma aguardante excelente para reanimações de campanha mas sempre com o cuidado de não o matar por erros de medição.

– Querido, não vejo a hora de irmos já para o palácio. Espero que este seja um dos últimos copos que te sirvo na vida. Vai passar a ser trabalho do mordomo. A propósito, posso ir vendo já quem contratamos?

* Vijú: pessoa atenta.
O autor escreve em PT Angola

Nota do Director

Os artigos de Opinião apenas vinculam os respectivos autores.

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